Dickinson entrega sua última e melhor temporada, com atuação brilhante de Hailee Steinfeld.
Foi ao ar no dia 23 de dezembro, no Brasil, o último episódio de Dickinson. Isso mesmo! A série desenvolvida para o Apple TV+, e que certamente deixará saudades, foi concluída em sua terceira temporada com graciosidade e sensibilidade, tal como um poema de Emily Dickinson.
A série biográfica de comédia dramática estrelada pela queridinha do momento em Hollywood, a atriz Hailee Steinfeld, é inspirada na vida da poetisa americana Emily Dickinson e foi criada por Alena Smith, roteirista de séries como The Newsroom e The Affair, que além de escrever alguns episódios do show também os dirigiu, incluindo o último.
Quão desafiadora deve ser a missão de dar desfecho a uma história na qual se usou bastante liberdade artística e criativa, sem, no entanto, abrir mão de entregar elementos que a tornem crível. Ainda que com uma difícil tarefa, Alena Smith entrega um resultado satisfatório como verão a seguir.
Após uma segunda temporada na qual Emily (Hailee Steinfeld) passa boa parte dos episódios indecisa acerca de divulgar ou não seus poemas para o mundo, o que culmina com ela percebendo que escrever para Sue é mais do que suficiente, temos uma terceira e última temporada onde inicia-se um novo ciclo carregado de dilemas inéditos na vida da jovem cujos pensamentos são a frente de seu tempo.
Com o começo da guerra civil americana temos a atmosfera de luto pairando e interferindo diretamente no conteúdo dos poemas de Emily, assim como no comportamento de todos os personagens. Vale salientar, que além de servir como pano de fundo, alguns arcos importantes da narrativa mostram o ponto de vista dos soldados durante a guerra, por meio, especialmente, de Henry (Chinaza Uche), e seu comandante, Thomas Wenworth (Gabriel Ebert). É aqui onde são apresentadas pautas importantes como o verdadeiro propósito da guerra e as consequências do racismo enraizado na sociedade.
Temos ainda outros núcleos de destaque. Acompanhamos Sue (Ella Hunt) enfrentando novos desafios em seu casamento e, consequentemente, a forma como Emily se adapta ao fato de sua musa inspiradora e grande amor dividir atenções com outra pessoa. Enquanto isso, Emily está obstinada a unir novamente sua família que está em constante divergência, especialmente, no que concerne a relação atribulada entre Austin (Adrian Enscoe) e seu pai, Edward (Toby Russ).
Ao contrário da temporada anterior, fica visível o quanto outros personagens ganharam espaço e protagonismo e nem tudo gira em torno exclusivamente de Emily. Com isso, a temporada se torna mais ágil e interessante. Os pais de Emily, por exemplo, recebem muito mais enfoque, assim como Lavinia (Anna Baryshnikov), Austin e Betty.
A série como sempre mistura o contemporâneo de uma forma única e traz mensagens relevantes e atuais ainda que apresentadas no final do século XIX. Novamente a criatividade de Emily nos permite presenciar situações exóticas e atrativas. Sendo um dos melhores episódios da trama relacionados a uma viagem do tempo pra lá de "diferente" e que contextualiza inúmeras situações que exalam representatividade.
O ship, que movimenta bastante as redes sociais, Emisue, serve bem durante essa temporada. Como sempre as duas esbanjam química e apresentam talvez a cena mais sensível e marcante de toda a série. É notável como cada cena é pensada com absoluto cuidado e visando transmitir as melhores sensações ao telespectador. Como sempre, o romance das duas é apresentado de uma forma quase mística, como visto em poucos shows para tv.
O final da série pode incomodar pela falta de desfecho, entretanto, o achei ponderado, sutil, extremamente poético e, sobretudo, condizente com a personalidade de Emily. Impossível não sentir a energia e essência dos poemas trabalhados em cada um dos episódios.
Hailee entrega tudo na reta final e consegue comover e entreter na mesma medida. Sua versatilidade surpreende e mostra o tamanho potencial da atriz. O figurino, a maquiagem e a fotografia são mais um espetáculo a parte que só agregam ainda mais ao conceito proposto. O cenário do último ato é simplesmente um presente aos nossos olhos. Mais delicado e refinado, impossível.
Faltaram respostas? Sim. No entanto, deixar em aberto alguns arcos à nossa imaginação é bem a cara da própria Emily Dickinson que se aventura em sua arte, como ninguém. Mas não dá pra negar que algumas barrigas de roteiro poderiam ter sido dispensadas em prol de uma jornada adentro do futuro da poetisa para termos ao menos um breve conhecimento dos desdobramentos de suas relações mais próximas.
Uma pena a série ser a "esquecida do churrasco" no que tange as temporadas de premiação. Sem dúvida, Dickinson é única e merecia o devido reconhecimento por ter entregado a sua última e melhor temporada.
Nota: 8,5
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