Novo faroeste de Jane Campion para a Netflix não só é uma das grandes apostas para as premiações, mas é um filme visualmente impecável, com grandes atuações e uma história surpreendente.

Ataque dos Cães acompanha os irmãos Phil (Benedict Cumberbatch) e George (Jesse Plemons), que são ricos proprietários da maior fazenda de Montana. Enquanto o primeiro é brilhante, mas cruel, o segundo é a gentileza em pessoa. Quando George secretamente se casa com a viúva local Rose (Kirsten Dunst), o invejoso Phil faz tudo para atrapalhá-los.

O novo faroeste baseado no livro de Thomas Savage publicado em 1967 é um filme que chamou muito a atenção por conta de seu elenco estrelado e o burburinho que causou durante suas exibições em alguns Festivais de Cinema, e foi adquirido pela Netflix que distribuiu o filme internacionalmente (tirando alguns países como os EUA e Reino Unido, onde o filme estreou nos cinemas).

Esse foi o meu primeiro contato com a filmografia da diretora Jane Campion (O Piano, O Brilho de uma Paixão) que assina também o roteiro da adaptação. Campion faz um trabalho digno de nota, ela cria junto com Ari Wegner (Zola), a diretora de fotografia do filme, um deleite visual com sequência lindas e enquadramentos criativos (vide a pequena cena da chave na fechadura). Os cenários e paisagens são esplêndidos e ricos, o que é raro nos filmes hoje em dia que utilizam cenários visualmente horríveis construídos por computação gráfica. A trilha sonora de Jonny Greenwood (Sangue Negro, O Mestre) faz uma boa adição ao filme, ajudando a conduzir a trama e o tom das cenas.

Particularmente, não sou o maior fã do gênero de filmes faroestes do mundo, mas adoro toda a ambientação e estilo visual desses filmes. Quando pensamos em faroestes, na hora vêm os filmes clássicos de Sergio Leone (Três Homens em Conflito, Por um Punhado de Dólares) ou outros filmes nesse estilo, cheios de ação e conflitos armados. “Ataque dos Cães” não é um filme revolucionário, mas é um faroeste que foca muito mais no conflito dos personagens sem tiroteios ou cenas de ação. Toda a recriação da época e os figurinos são outro show à parte.

Um dos maiores atrativos do filme é a atuação esplêndida de Benedict Cumberbatch (Doutor Estranho, Sherlock). Quem apenas conhece o seu trabalho no mainstream (principalmente nos filmes da Marvel) não sabe o quão talentoso o ator é, e entrega uma grande atuação que será com certeza reconhecida nas premiações. Outro enorme destaque é o ator Kodi Smit-McPhee (Deixe-Me Entrar, A Estrada) como Peter, que inicialmente se mostra um jovem amoroso, inteligente, engenhoso e com sede de conhecimento, mas na realidade esconde a sua verdadeira natureza. É outro forte nome que veremos muito nas premiações.

Um destaque também para a interpretação de Kirsten Dunst (Homem-Aranha 2, Entrevista com o Vampiro), que vende bem o drama, angústia, depressão e vícios da sua personagem. O encerramento do arco de sua personagem é bem intrigante pela sensação dúbia que o roteiro deixa sobre a sua participação no “plano”, ou se ela era apenas mais uma vítima.

Já o resto do elenco é sólido mas não possui muita função na trama. O personagem do ator Jesse Plemons (O Irlandês, Judas e o Messias Negro) tem uma grande importância e presença durante o primeiro ato, mas ao longo do filme seu personagem simplesmente desaparece e perde totalmente a importância. Frances Conroy (Coringa, A Sete Palmos) e Peter Carroll (Podres de Ricos, Happy Feet) interpretam os pais dos dois irmãos principais, e atriz Thomasin McKenzie (Jojo Rabbit, Noite Passada em Soho) vive uma das empregadas da casa. Além de pouco tempo de tela, os personagens não tem uma função narrativa na história, dando uma sensação que são apenas participações especiais.

A reclamação mais recorrente do filme na internet é o seu ritmo, que muitos consideraram lento. Pessoalmente, o ritmo lento do filme não chegou a me incomodar, já que a diretora toma o devido tempo para construir a trama e os personagens de maneira bem orgânica e interessante, fragmentando a história em alguns capítulos que fazem a narrativa e o ritmo serem bem gostosos. O único momento que o filme fica realmente maçante é no início do terceiro ato, onde o relacionamento de Phil e Peter começa a ser desenvolvido.

Sem dar algum spoiler, mas o grande plot twist do filme é algo que deve ficar marcado na história do cinema como uma das grandes reviravoltas. É aquele twist que quanto mais você pensa, percebe que ao longo do filme todo ele te dava pistas sobre o personagem e a sua real natureza, te manipulando  por completo. Em um determinado momento do filme, a trama parecia se encaminhar para uma espécie de “Me Chame Pelo Seu Nome” distorcido, mas segue um surpreendente caminho, terminando no melhor estilo “Precisamos Falar Sobre Kevin” .O frame final do filme é brilhante e chocante.

“Ataque dos Cães” é a grande aposta da Netflix para as premiações de 2022, visando concorrer (e ganhar prêmios) em diversas categorias. É um filme visualmente lindo, com uma direção impecável de Jane Campion e recheado de atuações impecáveis que devem agradar tanto os fãs de Faroeste quanto aqueles que não são tão familiarizados com o gênero. É um daqueles raros filmes originais Netflix que você não se arrepende nem um pouco de assistir.

Nota: 8.5

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