Nem tudo que brilha, é ouro. Muitas vezes, o que parece ser ouro, é apenas pirita, o famoso “ouro dos tolos”. E “Alerta Vermelho” tinha tudo para ser a galinha dos ovos de ouro de 2021, mas, por uma triste decepção, é o “ouro dos tolos” mais caro da Netflix. E não é por menos: o filme custou US$200 milhões de dólares; pena que o filme em tela não é tudo isso que se apresenta.

Lançado na Netflix no último dia 12 de novembro, “Alerta Vermelho” é o filme original com maior estreia que a plataforma já teve. Só que o tão aguardado filme também é um dos mais decepcionantes lançamentos do streaming.

Na trama, quando a Interpol emite um alerta vermelho, o agente de perfis do FBI, John Hartley (Dwayne The Rock Johnson, de “Com as Próprias Mãos”, 2004), o melhor investigador da agência, assume o caso para localizar e capturar uma das criminosas mais procuradas do mundo, Sarah Black (Gal Gadot, de “Mulher-Maravilha”, 2017), conhecida como “O Bispo”, a ladra mais bem sucedida em roubos de obras de arte do mundo. Seu novo alvo é roubar os três ovos de ouro da Cleópatra, que estão espalhados pelo mundo. Hartley precisará se unir com Nolan Booth (Ryan Reynolds, de “Deadpool”, 2016), outro astuto e audacioso ladrão de obras de artes – e que, também, está atrás dos ovos de ouro –, para que, juntos, eles elaborem um ousado plano de assalto para capturar “O Bispo”, antes que ela roube os três ovos de ouro e desapareça.

A trama central de “Alerta Vermelho” é até bastante interessante e, pelo trailer, chega a ser empolgante e divertido. Realmente, o filme em tela entrega várias cenas de ação e aventura, que instiga a vontade de assisti-lo. E o roteiro tem uma ideia muito bacana sobre uma história de assalto às peças de ouro há muito tempo perdidas e disputadas por ladrões extremamente habilidosos. Porém, o longa é totalmente decepcionante ao entregar um material presunçoso que desperdiça conteúdo e atuações.

O problema é que “Alerta Vermelho” está infestado de piadas ruins e fora de hora, que não são condizentes com a proposta que o filme deveria transmitir; que, no caso, fala de roubo de peças de ouro raríssimas espalhadas em lugares diferentes. O longa em questão não consegue passar 10 minutos sem fazer uma piada (quase totalmente) sem graça e, em certos momentos, completamente desnecessária. Infelizmente, “Alerta Vermelho” está recheado de piadas clichês, que caçoam de qualquer coisa e, para piorar, estão presentes nos momentos mais inapropriados possíveis.

Por ser um filme de ação sobre assaltos, perseguição, fugas e caça ao tesouro, o uso extensivo e exagerado de piadas destrói completamente o ritmo narrativo que o filme se propõe a transmitir, desacelerando, e muito, aquela determinada passagem em questão, que, importante frisar, deveria se manter séria e concentrada, além de quebrar a tensão daquele momento em específico. Esse recurso interminável de contar piadas que quebram a narrativa a todo momento fica se repetitivo exaustivamente ao longo das quase 2 horas de duração; e isso acaba tornando o filme extremamente cansativo de se assistir.

Se não fosse esse problema, o filme, à princípio, poderia muito bem se encaixar como um excelente filme de espionagem com bastante ação e aventura, caso não tivesse metade – ou mais – das piadas existentes, típicas de comédia pastelão. Mas, esse uso exagerado de piadas ruins fora de hora desqualificou, e muito, “Alerta Vermelho” para um simples filme de comédia com ação; combinação bem mal feita de gêneros que não conseguiu elevar o longa ao patamar condizente de um filme grandioso, ainda mais por ser o mais caro da Netflix e com excelentes atores.

E, como todo efeito dominó, esse contraste desastroso acaba afetando (mesmo que apenas um pouco) a atuação dos protagonistas principais. Gal Gadot, Ryan Reynolds e Dwayne “The Rock” Johnson são excelentes atores; isso é inegável. Porém, a atuação do trio em cena é tão desastrosa quanto a comédia que eles estrelam.

Reynolds ainda não conseguiu se desvencilhar do personagem Deadpool, sendo o responsável pelas tiradas e piadinhas excessivamente contadas a todo momento, que chegam a ser cansativas. The Rock passa o filme inteiro tentando manter aquela pose de cara fechada pronto para dar porrada em quem se meter na frente dele, se esforçando para ficar sério o filme inteiro e fazer o que o personagem precisa para alcançar seu objetivo. E, para fechar o trio de ouro, Gal Gadot é a personagem mais caricata do filme, que embora seja uma atriz talentosa (e a escolha perfeita para interpretar Mulher-Maravilha), não conseguiu convencer como a vilã do filme. Mesmo a atriz se esforçando bastante, passou o longa inteiro tentando mostrar que é uma experiente e sedutora ladra de personalidade má com jeitinho de femme fatale, o que, infelizmente, falhou miseravelmente.

Tudo isso, somado com outros ininterruptos cortes de tensão narrativa, deixou “Alerta Vermelho” exaustivamente penoso e chato de se assistir. Essa falha característica entre os personagens, sem dúvida, desalinhou a química entre os três atores e prejudicou o filme em geral.

Rawson Marshall Thurber (que já dirigiu The Rock em outras produções, tais como “Arranha-Céu: Coragem Sem Limite”, 2018 e “Um Espião e Meio”, 2016), responsável por dirigir e roteirizar “Alerta Vermelho”, cometeu uma série de erros sucessivos, que acabou por afundar o filme em tela.

Para começar (tal como já foi dito) que, se o trio de protagonistas principais fizeram feio em suas atuações, foi por má direção de Thurber que chegaram a este resultado. Outro ponto negativo, também já citado, foi a construção bagunçada da narrativa não linear de gêneros, que se entrelaçam durante o filme e quebram totalmente a tensão que o roteiro deveria tentar construir, mas que acaba sendo repetidamente desfeita a cada piada fora de hora.

Outro erro grosseiro foi a péssima qualidade dos recursos visuais utilizados no filme em tela. Com US$200 milhões de dólares de orçamento (o mais caro para um filme original da Netflix), já é mais de se esperar que tivessem feito recursos visuais muito, mas muito, melhores do que os vistos na produção. Nossa, que cena é aquela com o touro? Tenha dó! Para um filme desse porte, é inaceitável ver essa cena extremamente mal feita visualmente.

Por esse orçamento, todos os efeitos visuais, todo o design de produção, explosões, locações e todas as cenas de ação em geral tinham que ser muito melhores do que as apresentadas; além das cenas de lutas serem péssimas também. Porém, esse estrondoso valor de orçamento foi muito mal utilizado e não compensou a péssima produção mal feita, que acabou por desperdiçar US$200 milhões de dólares em um filme ruim e absurdo.

Para finalizar, não se pode deixar de mencionar mais um erro, absurdamente grosseiro, em “Alerta Vermelho”. Em um determinado momento do filme, aparece um mapa da América do Sul e algumas coordenadas de latitude e longitude que apontam para o sul do Brasil, localizando a região do Estado do Paraná como sendo o próximo local onde o artefato de ouro está. Mas, acontece que o filme determina que o destino dos protagonistas é a Argentina. E, para piorar, o longa coloca os protagonistas dentro de uma floresta tropical.

Além desse erro grotesco ter sido percebido por vários internautas brasileiros que assistiram ao filme, esse fato prova, mais uma vez, que a indústria cinematográfica norte-americana não conhece direito geografia, principalmente acerca da região da América do Sul. Essa gafe em “Alerta Vermelho” é mais uma entre várias que Hollywood já cometeu sobre a América do Sul, que (quase) sempre tem uma visão estereotipada e equivocada, não só sobre limitações geográficas, mas, também, sobre outras coisas tais como o idioma falado no Brasil – que eles pensam ser o espanhol –, a confusão cometida sobre a Capital do Brasil – no caso, ser o Rio de Janeiro – e, também, sobre outros aspectos culturais, muitas vezes representando o Brasil como uma enorme favela ou como um local onde só há enormes florestas. O próprio ator Dwayne “The Rock” Johnson já participou de um outro filme cuja história se passou no Brasil, com essas mesmas características, chamado “Bem-Vindo à Selva”, de 2003 – embora este filme em específico tenha se passado na Amazônia, mas mesmo assim.

Alerta Vermelho” conseguiu ser o filme mais caro e, ao mesmo tempo, mais inacreditável que a Netflix já lançou em seu catálogo. E realizou tal feito por tentar ser um filme de ação e aventura com bastante comédia, mas falhou miseravelmente ao apresentar um longa essencialmente de comédia com exageradas piadas sem graça, uma atrás da outra, em cada cena que consegue aproveitar a oportunidade para fazer tais piadas; e tendo, como pano de fundo, uma aventura de caça ao tesouro, já visto em tantos outros filmes. Não menos do que cansativa, essa produção, que é montanha-russa interminável de piadas fora de hora, ficou extremamente chata de ser assistida por conta disso; e deixou claro que “Alerta Vermelho” é apenas um filme de comédia que apresenta várias cenas de ação.

E pior: foram gastos US$200 milhões de dólares em orçamento para produzir um filme com péssima qualidade de efeitos visuais, com cenas de ação horríveis, cuja história parece uma miscelânea de tantos outros filmes de aventura já vistos sobre caça ao tesouro e escalando três atores super caros que, para falar a verdade, não se enquadram muito bem em cena, ou seja, não tem muita química juntos. Registre-se que os três protagonistas principais faturaram US$20 milhões de dólares de cachê cada um, motivo pelo qual encareceu ainda mais o orçamento do filme.

Alerta Vermelho” é terrivelmente fraco, cansativo e, além de desperdiçar o talento dos atores principais com um filme genérico e bobo que só se desenrola com piada pastelão, é um completo desperdício de dinheiro – US$200 milhões de dólares muito mal gasto, por sinal. Definitivamente, o filme em tela não vale esse valor investido.

A única coisa que se pode dizer a favor de “Alerta Vermelho” é sua apresentação despretensiosa de tentar divertir quem gosta de filme genérico e não ligar nenhum pouco para as extensivas investidas de piadas bobas que se desenrolam a cada 10 minutos de tela. Com isso, dá para perder 2 extensas horas de filme.

Alerta Vermelho” já está disponível na Netflix desde o dia 12 de novembro.

Nota: 4.0

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