Série de comédia da HBO é uma das coisas mais “vergonha alheia” já feita para a TV, e isso faz dela ser única e interessante.
The White Lotus retrata as férias de vários personagens ricos, brancos e um tanto afetados que vão se hospedar num hotel cinco estrelas no Havaí, Estados Unidos. Eles se conhecem num barco que os leva ao local e não se dão bem logo de cara, mas vão se encontrando ao longo da estadia no resort.
Durante a pandemia, a HBO estava a procura de uma série rápida de ser produzida, barata e que não precisasse de múltiplas locações para ser filmada. Com isso o diretor, roteirista e produtor Mike White (O Estado das Coisas, Escola do Rock) vendeu a ideia da (até então minissérie) para a HBO, que fez tanto sucesso na plataforma que deixou de ser uma minissérie e foi renovada para uma 2ª Temporada, que contará com novo elenco e uma nova história isolada.
Como a série segue um grupo relativamente grande de personagens, acompanhamos diversos arcos durante a temporada, e possui um mistério de quem será a pessoa assassinada durante a estadia desse grupo de hóspedes no hotel. Uma família de pessoas brancas, ricas e problemáticas, uma senhora com problemas emocionais que procura jogar as cinzas da mãe no mar e um casal em núpcias que foram jogados no quarto errado. Esse grupo de personagens (somado aos funcionários do hotel) trazem boas dinâmicas e interações entre si, causando momentos e situações inusitadas.
O humor da série foi um dos grandes divisores de água para o público geral. Ele é construído através de situações vergonhosas que os hóspedes passam ou falam, causando o famoso “humor vergonha alheia”. Entretanto, nem sempre essas piadas e situações funcionam muito bem, e deixam alguns personagens completamente deslocados na trama. O tipo de humor da série é muito específico e pode não atrair boa parte dos espectadores.
Já a direção é bem sólida mas não se arrisca a fazer algo diferente ou tentar aproveitar os cenários do hotel (por motivos óbvios). Mas o grande destaque na parte técnica da série é a trilha sonora de Cristobal Tapia de Veer (Black Mirror, Hunters), que utiliza som ambiente e composições que lembram músicas havaianas na trilha. Isso traz uma boa imersão para o espectador, te colocando dentro daquele hotel problemático.
Por incrível que possa parecer, o elenco é uma das melhores coisas da série, com destaques para Alexandra Daddario (True Detective, Percy Jackson e o Ladrão de Raios), Jake Lacy (Carol, Armas na Mesa), Steve Zahn, (Planeta dos Macacos: A Guerra, Diário de um Banana), Murray Bartlett (Verão em LA), Fred Hechinger (Relatos do Mundo, Rua do Medo 1994), Brittany O'Grady (Star), Jennifer Coolidge (Legalmente Loira) e Sydney Sweeney (Objetos Cortantes, Euphoria), que possuem os melhores arcos e piadas.
A série faz óbvias críticas ao estilo de vida e comportamentos dessas pessoas ricas e brancas da alta sociedade, mostrando como são infantis, mesquinhas e não se importam com as pessoas ao redor (nem mesmo amigos ou membros da própria família). Há uma tentativa interessante da série em abordar a exploração e apropriação cultural que essas pessoas fazem com povos diferentes (no caso da série, os nativos do Havaí) e minorias, mas ela fica em uma crítica rasa que não tem um bom aprofundamento.
A conclusão da série é outra coisa bem divisiva. Embora o mistério de quem seja a pessoa assassinada, ela tem uma conclusão triste e até mesmo desencorajadora, envolvendo principalmente a personagem da Daddario. Esse fim também mostra como a vida dos funcionários desses hotéis de luxo são realmente um ciclo sem fim onde eles não tem chances de subir na vida e sempre serão obrigados a servir essas pessoas fúteis e egoístas.
“The White Lotus” está longe de ser a melhor série de humor da HBO e até mesmo do ano, mas possui uma ideia interessante e pequenas críticas que mesmo sendo rasas são bem vindas. O elenco está bem e é uma boa pedida para quem está atrás de uma série de humor descompromissada.
Nota: 7
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