Round 6 entrega trama eletrizante e marca mais um acerto sul-coreano.
Na crítica de hoje embarcamos em um fenômeno sul-coreano. Antes de discorrer sobre ele, é importante destacar o boom audiovisual desse país que cada vez mais tem se firmado no mercado mundial do entretenimento.
De meados da década de 1990 para cá, a Coréia do Sul vem se tornando uma potência quando o assunto é audiovisual. Com incentivos maciços de grandes empresas do país, tais como Samsung, Hyundai, entre outras, além de uma cota nacional de telas expressiva que gira em torno de 80%, o resultado não poderia ser melhor, sua população desenvolve interesse real pelo produto local e, consequentemente, gera renda para que mais e mais investimentos sejam implementados. Hoje, as produções coreanas são comercializadas para o mundo todo e chegam com cada vez mais qualidade.
Deu pra perceber que não é à toa que o grupo BTS se tornou um fenômeno global que ocupa o topo da Billboard, principal revista americana especializada na indústria musical, e não podemos esquecer também do incrível sucesso do filme vencedor do Oscar, Parasita (2019).
Dessa vez, foi uma série distribuída pela Netflix que chamou atenção, ao ocupar a primeira posição do ranking de mais assistidas em diversos países. Tudo indica inclusive, que se ela mantiver seus números de audiência, ela poderá se tornar a série mais assistida do streaming. E o sucesso tem nome: Round 6.
Round 6, ou Squid Game, é uma série de drama escrita e dirigida por Hwang Dong-hyuk. Sua premissa gira em torno de um misterioso jogo que promete pagar um prêmio bilionário ao seu vencedor. Centenas de pessoas são convidadas e todas elas têm algo em comum: estão extremamente endividadas e não sabem mais o que fazer para saírem dessa situação.
Com essa motivação, elas resolvem encarar esse desafio, mesmo desconhecendo seu real teor, e trazem à reflexão um forte questionamento: vale tudo por dinheiro? Entre os participantes está Seong Gi-hun (Lee Jung-jae), um homem que além de sofrer duras ameaças de agiotas, está com a mãe doente e ainda por cima corre o risco de perder contato com sua filha. Não demora até Seong e todos os outros descobrirem que o jogo envolve perigos reais.
A trama bebe de fontes já conhecidas do público. Temos desde elementos da famosa franquia Jogos Mortais, principalmente no design e criatividade por trás dos jogos, até a adrenalina contida na saga Jogos Vorazes. Mas existem elementos genuínos de Round 6 que o tornam o fenômeno que é, como veremos a seguir.
Pra começar, seu protagonista é a pessoa mais imperfeita possível. Embora com inúmeros defeitos, Seong esbanja carisma e nos cativa a torcer por ele facilmente. Lee Jung-jae consegue navegar no drama sem soar brega e dá credibilidade a um homem que perdeu tudo e está completamente à deriva em sua vida. Os demais personagens também são fáceis de se conectar. Temos desde aqueles mais sérios como é o caso de Sae-Byeok (Hoyeon Jung), que deseja comprar uma casa e assim trazer sua mãe para o país e recuperar seu irmão que está em um orfanato, ou Cho Sang-Woo (Park Hae-soo), um homem procurado por desviar dinheiro de seus clientes, até os que dão um tom mais satirizado para quebrar o efeito deixado pelas cenas mais brutais, como Han Mi-nyeo (Kim Joo-ryoung), uma mulher extremamente oportunista, mas que te fará rir com seu jeito caricato.
Uma coisa que diferencia Round 6 de outras obras é sua fotografia. Alguns jogos são realizados em ambientes extremamente coloridos, com uma paleta de cores marcante e quase hipnótica. As fantasias de alguns personagens também deixam sua marca. Apesar de alguns desses trajes pecarem pelo excesso, como aquela quase imitação de Darth Vader utilizada por um dos líderes por trás do jogo, outras funcionam muito bem, como o caso dos assistentes com suas roupas vermelhas (não, não é La Casa de Papel) e máscaras com os símbolos geométricos do cartão de visita que virou um hit nas redes sociais. A trilha sonora não podia ser melhor, nos dá a impressão que eles de fato são ratinhos de laboratório.
Não dá pra negar que o principal atrativo da série são os jogos e a violência implícita. Você se pega emendando episódios a fim de descobrir qual será o próximo desafio de um total de seis. O fato deles serem inspirados em brincadeiras infantis traz novidade e identificação, algo que funciona muito bem. Mas não pense que Round 6 é só jogo. As mensagens são das mais profundas. Acompanhamos desde o debate sobre a dicotomia social do país, onde algumas pessoas vivem realmente à margem da sociedade, quase invisíveis aos olhos de muitos e com zero perspectivas, até mesmo a xenofobia.
Apesar de todo o hype em torno da série, ela tem sua obviedades e alguns plots pra lá de previsíveis. Algumas subtramas também não prendem a atenção tanto como deveriam, como é o caso do investigador da polícia Jon-hoo (Wi Ha-joon), que quando entra em cena faz a gente desejar rever os jogos e as tramas relacionadas aos participantes.
Round 6 é a prova de que o cenário está se renovando e que não estamos mais dependentes do mercado estadunidense. Existe luz além de Hollywood, ainda bem. Que a Coréia do Sul sirva de exemplo e inspiração para países como o nosso, com grande potencial, mas pouco investimento. Quanto a Round 6, ASSISTAM.
Nota: 8,5
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