Atualmente, as redes sociais estão ganhando cada vez mais força, fazendo com que mais pessoas se conectem e interajam por várias maneiras diferentes. Mas, infelizmente, esse mecanismo também é usado para enganar e prejudicar as pessoas, cometer crimes, propagar o ódio e a mentira.
Com
o crescimento e a popularização das redes sociais, surgiu o termo Clickbait,
que é um termo que se refere ao conteúdo da internet destinado à publicação de matérias sensacionalistas para chamar a atenção
dos internautas nas redes sociais. É com base neste tipo de situação em que
se passa o contexto da minissérie “Clickbait”, lançada na Netflix no dia 25 de
agosto de 2021.
Na trama, o fisioterapeuta Nick Brewer (Adrien Grenier) é um respeitável pai de família e trabalhador que, repentinamente, é sequestrado sem saber o motivo. Logo em seguida, Nick aparece em um vídeo na internet que, rapidamente, viraliza nas mídias sociais, segurando duas placas com as seguintes frases escritas: “Eu abuso de mulheres. Com cinco milhões de visualizações, eu morro”.
Com
isso, sua vida começa a correr risco cada vez mais que as visualizações
aumentam. Agora, sua família precisará descobrir quem é o Nick verdadeiro: um
marido e pai amável ou um homem violento e cheio de segredos? A esposa e a irmã
de Nick, juntamente com a polícia, precisam correr contra o tempo para
descobrir onde ele está, bem como descobrir o real significado dos cartazes que Nick segura no vídeo online.
“Clickbait” é uma minissérie com oito episódios e cada capítulo apresenta os pontos de vistas diferentes de cada personagem durante a investigação de um crime impulsionado pelas redes sociais, bem como também explora como impulsos perigosos são elevados na era das mídias sociais. Além disso, a minissérie de suspense revela as distinções entre as identidades criadas na internet e as construídas na vida real.
Fazendo
uma comparação, “Clickbait” lembra bastante o filme “Sem Vestígios” (2008),
onde um serial killer sequestra pessoas e exibe suas mortes em um website; quanto
mais visualizações o site receber, mais rápido as pessoas morrem. Já a
minissérie em tela se concentra com o sequestro de apenas uma única pessoa, criando
todo um mistério e tensão em volta dos familiares e amigos, conseguindo desenvolver um
ambiente tenso e carregado de reviravoltas em cada episódio.
Para surpreender ainda mais, novas revelações aparecem conforme a investigação chega cada vez mais perto de descobrir a verdade, confundindo o telespectador sobre o que aparentemente pode ser real ou falso acerca de determinados fatos ou sobre o paradeiro de Nick, assim como quem o sequestrou. E a minissérie em questão usa e abusa do recurso das redes sociais para conduzir o telespectador dentro desta perspectiva e de como as pessoas estão completamente dependentes das mídias sociais.
Na
era da internet, até onde conhecemos uma pessoa e o quanto sabemos sobre ela? Com
tanta facilidade da era digital nas palmas das mãos, conseguimos acesso a tudo
com mais rapidez, mas será que realmente estamos tão seguros assim? Qual é o
preço que pagamos por nos expormos tanto assim nas redes sociais? As redes
sociais vieram para conectar e acessar a interação entre pessoas com maior
praticidade; mas, quem está do outro lado da tela? Até onde as redes sociais
podem influenciar positivamente ou negativamente a vida e a reputação das
pessoas?
“Clickbait” explora o quanto podemos ser frágeis em se tratando de exposição de informações pessoais nas redes sociais e o quanto essa exposição pode ser perigosa e nociva para nós. E a forma como a minissérie se desenvolve foi muito bem elaborada, pois cada episódio apresenta uma perspectiva diferente em cada ângulo da investigação, haja vista que foi focada em personagens diferentes. Assim, mostra como toda a investigação se desenrola ao mesmo tempo em aspectos alternativos, todas caminhando para o mesmo sentido ao final da conclusão.
Esse
ponto abre margem para contextualizar como as mídias sociais podem ser perigosas
e como as pessoas são afetadas por elas em seu cotidiano, bem como o ser humano
pode ter um comportamento agressivo atrás de uma tela – seja de computador ou
de celular. Além do mais, também pode-se perceber o quanto as pessoas podem ser facilmente manipuladas por excessos de informações disponibilizadas na
internet, sejam verdadeiras ou falsas. Com isso, fica difícil saber até onde se
pode confiar, ou não, em tudo que se lê, pois, com esse excesso de informações,
fica difícil filtrar o que é real e verdadeiro do que é falso e mentiroso. Essa
é a mensagem inserida no contexto da trama que a minissérie aborda.
Não é à toa que, com o crescimento da internet e com o vasto leque de opções que as redes sociais nos oferecem, novos crimes cibernéticos tenham surgido, fazendo com que todo o ordenamento jurídico precisasse se adaptar para englobar que tais criminosos que agem na internet sejam punidos. A tecnologia virtual avançou vertiginosamente nos últimos 30 anos, abrindo espaço para novos crimes, nos tornando, ao mesmo tempo, frágeis, agressivos e dependentes, gradativamente, das mídias sociais praticamente as 24 horas do dia.
O
quão educado uma pessoa pode ser pessoalmente na frente dos familiares, amigos
e no ambiente de trabalho, mas, ao mesmo tempo, exalar ódio exasperado nas redes
sociais por causa de um assunto qualquer (política ou futebol, por exemplo) que
o incomodou? Isso ocorre principalmente quando pessoas julgam rapidamente
outras pessoas por questões impactantes e, ainda mais, quando opiniões diferem.
E o mesmo ocorre inversamente: será que aquela pessoa tão educada nas redes
sociais é realmente assim na vida real mesmo, ou será que está só fingindo tamanha
educação para tentar se aproximar mais ainda da outra pessoa com quem está conversando?
A vasta quantidade de conectividade, além da enorme rapidez, com que as pessoas conseguem interagir no mundo virtual é um tremendo atalho para mais e mais ferramentas usadas pelos criminosos cibernéticos para confundir as vítimas, além de outras pessoas que também podem ter acesso público sobre determinado assunto. E isso torna a propagação de informações falsas muito complicada de ser filtrada e impedida de continuar circulando. O que pode ocorrer (e é o que acontece em “Clickbait”) é dificultar ainda mais as investigações policiais, com tais quantidades de informações falsas sendo circuladas.
Esse
tipo de situação é bem desenvolvida na minissérie “Clickbait”, onde os
personagens dependem totalmente das mídias sociais para investigar o sequestro
de Nick. As investigações policiais acabam encontrando uma certa dificuldade
por conta de várias informações falsas. E, para piorar ainda mais, a
família de Nick tem que confrontar com a vasta quantidade de opiniões de ódio
emitidas pelas pessoas na internet, o que torna mais difícil ainda para a
família manter o equilíbrio emocional, principalmente em uma situação como a de
um sequestro sem respostas. O pré-julgamento precipitado e exagerado das pessoas
acerca de determinados assuntos no mundo virtual tornou as redes sociais em um
tipo de mural cheio de opiniões ofensivas, com comentários de ódio e de crimes
de injúria, calúnia e difamação. A repercussão que esse tipo de comportamento
online gera é estrondosamente nociva, impactante e tóxica; e, muitas vezes,
revela o lado pior do ser humano, demonstrando que não há limites dentro do
mundo virtual. Pior: quando afeta outras pessoas, o impacto destrutivo que pode
causar nestas outras pessoas é de tamanha violência, que, muitas vezes, não tem
como reverter os efeitos e resultados negativos ocasionados.
“Clickbait” é uma minissérie envolvente e intrigante, que engana o telespectador com cada informação falsa que aparece, tornando cada vez mais difícil solucionar o crime do sequestro de Nick, descobrir quem foi o responsável e qual foi o motivo. É uma tentativa bem sucedida de apresentar uma minissérie de suspense que consegue prender a atenção até o fim, para, somente no final, apresentar as verdadeiras respostas. A minissérie acertou ao desenvolver o roteiro na medida certa, de forma em que a trama precisava para encaixar em seus oito episódios, assim como soube conduzir todas as informações que o telespectador precisava saber em cada episódio, proporcionando, também, as respectivas reviravoltas de forma plausível e sem exagero.
A
minissérie em tela também soube explorar a manipulação e a influência das redes sociais,
bem como o comportamento maldoso do ser humano dentro do mundo virtual,
mostrando que informações excessivas podem atrapalhar tanto quanto podem ajudar.
E cada episódio se entrelaça conforme as proporções de informações falsas e com
conteúdo tóxico se tornam maiores, desestabilizando emocionalmente cada vez
mais a família de Nick, além de atrapalhar as investigações policiais. A dificuldade
de filtrar quais informações são verdadeiras vão ficando maiores a cada episódio,
revelando um plot twist atrás do outro e entregando um final surpreendente e
impactante.
“Clickbait” serve de alerta para o uso excessivo e nocivo das redes sociais na internet, mostrando o lado sombrio e maldoso do ser humano e como este pode se comportar negativamente dentro do mundo virtual. Nem tudo e nem todos são o que parecem ser, principalmente quando interagimos com outras pessoas pela internet.
Por
ser uma minissérie com a trama central fechada, a história de “Clickbait” se
encerra totalmente no último episódio, não dando aberturas para sequências ou
mais temporadas.
“Clickbait”
já está disponível na Netflix desde o dia 25 de agosto.
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