The Voyeurs é um suspense erótico que encontra em seu terceiro ato sua tábua de salvação. 

Quem nunca ouviu a frase: "A curiosidade matou o gato"? Esse ditado popular é muito usado para alertar uma pessoa de que algo ruim pode acontecer caso ela seja muito curiosa, em especial, quando essa curiosidade está relacionada à vida alheia. Ainda que saibamos disso, a vida do outro costuma nos parecer demasiada interessante e SIM acabamos por querer saber de cada detalhe. Não é à toa que os sites de fofocas têm milhões de seguidores, assim como os influenciadores digitais arrebanham multidões focadas em acompanhar cada segundo de suas vidas.

Seguindo esse fluxo, o cinema sempre foi um grande explorador desse tema. Em 1954, surgiu o filme Janela Indiscreta, um clássico de grande sucesso dirigido por Alfred Hitchcok, sobre um fotógrafo que, confinado em seu apartamento, acaba vasculhando a vida de seus vizinhos com a ajuda de um binóculo. Ao longo dos anos mais histórias similares e inspiradas nesse clássico foram lançadas, como por exemplo Paranoia, thriller de 2007 estrelado por Shia LaBeouf, que mostra um adolescente enquanto acompanha a vida do vizinho através de sua janela e que acredita realmente que o homem possa ser um assassino. Chegamos em 2021 e uma trama que poderia ser clichê ganha uma nova roupagem nas mãos de Michael Mohan, embora o resultado possa dividir opiniões.

The Voyeurs, que no Brasil foi chamado de Observadores, é um suspense erótico escrito e dirigido por Michael Mohan. Greg Gilreath e Adam Hendricks assinam a produção. O longa foi lançado em 10 de setembro de 2021 no Amazon Prime Video. 

Na trama, Pippa (Sydney Sweeney, Euphoria) e Thomas (Justice Smith, Generation) formam um jovem casal que se muda para o apartamento dos sonhos. Quando eles notam que têm plena visão do apartamento de um prédio situado logo a frente do deles, eles começam a acompanhar a vida do sexy casal. O que começa de forma despretensiosa passa a se tornar uma dependência e definitivamente começa a sair do controle.


A introdução do filme é dentro do esperado, ainda que clichê. Acompanhamos o típico casal que se ama, mas que acaba se vendo completamente aficionado por uma história que não é a deles mesmos. É no segundo ato, que o filme se torna desinteressante e lento demais. Nada de novo é entregue e por um momento você quase entrega os pontos e desiste de continuar o filme. No terceiro ato, finalmente, o trem retorna aos trilhos, por assim dizer. As surpresas se iniciam e o thriller ganha finalmente personalidade com uma sucessão de reviravoltas fora da caixa e que apesar de um pouco alegóricas, ou melhor, quase bizarras, totalmente combinam com a atmosfera que o longa construiu ainda que a base de tropeços. 

O filme se aproveita de dois atores da nova geração que vêm ganhando espaço. Sydney Sweeney vem emendando sucessos,  desde sua participação em séries como Everything SucksEuphoria, até a a mais recente em The White Lotus, pelo HBO Max. A atriz, que me lembra um pouco Amanda Seyfried no início de sua carreira, tanto fisicamente quanto no estilo de interpretação, chega a um papel de protagonista e mostra que tem tudo para se firmar no cenário. O filme permite que ela explore não apenas sua sensualidade, assim como exige que ela busque um lado dramático quase insano e o resultado é satisfatório, ainda que o roteiro não ajude a revelar se ela é uma personagem a se torcer ou não.


Justice Smith, em contrapartida, decepciona. O ator, que entregou tudo em séries como Generation e no filme Por Lugares Incríveis, encontrou um jeito de falar pra lá de artificial na hora de dar a vida a Thomas, e o que era para ser um personagem no estilo bom moço, fica caricato e absolutamente sem graça.

A parte erótica do filme é apenas ok e, ainda por cima fica deslocada em um roteiro confuso quanto ao seu propósito. E apesar de um desenvolvimento problemático onde você não consegue entender a mente de sua protagonista, os plot twists acabam agradando muito, mesmo sendo exóticos, ou até um pouco bregas. As lições sobre as consequências de se "bisbilhotar" o vizinho, que começa como algo quase inocente e passa a se tornar algo obsessivo e doentio, vêm de forma aguda e caótica.

O resultado de The Voyeurs é uma mistura de desapontamento e satisfação, decepção e surpresa. Não dá pra dizer que se odeia o longa por seu  terceiro ato surpreendente,  ao mesmo tempo, não tem como se enaltecê-lo uma vez que você quase o abandonou em sua metade. 

Entre o ame e o odeie, ele acaba ficando no limiar da média para passar de ano.

 Nota: 6,0

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