Imagine viver em um mundo onde nossos pensamentos são expressamente manifestados e, com isso, outras pessoas conseguissem escutar o que pensamos? Se certas coisas que falamos e escrevemos já podem gerar conflitos, o que poderia acontecer se nossos pensamentos pudessem ser escutados pelas pessoas?

O quão caótico nosso mundo seria se outras pessoas conseguissem escutar nossos pensamentos? E como conviver em sociedade dessa maneira, tendo que controlar os próprios pensamentos? É essa premissa que “Mundo em Caos” aborda.

Em um futuro pós–apocalíptico, ambientando no ano de 2.257 D.C., a humanidade já começou a fazer viagens interplanetárias e a colonizar outros planetas, com intuito de encontrar melhores condições de sobrevivência. A trama de “Mundo em Caos” se centraliza em uma colônia (um vilarejo bem estilo velho oeste) chamada Prentisstown, localizada no planeta Novo Mundo, a mais de 60 anos-luz da Terra. Populada apenas por homens, a cidade é comandada pelo prefeito, David Prentiss (Mads Mikkelsen, de “Doutor Estranho”, 2016), que controla a cidade e seus habitantes com mãos de ferro e com leis rígidas.

Em Prentisstown, as mulheres foram mortas por conta de uma infecção rara e perigosa. Com isso, os homens foram afetados por um vírus, chamado de “Ruído”. Com isso, criou um estranho fenômeno: os pensamentos de todos os homens tornaram-se audíveis entre eles, pois o “Ruído” faz com que os pensamentos dos homens sejam expostos através de uma camada colorida que fica em volta da cabeça das pessoas. Com isso, outras pessoas escutam os nossos pensamentos e, também, conseguem até ver certas imagens que pensamos, pois essa camada colorida a expõe como se fosse uma projeção em volta da cabeça. Com isso, as pessoas ficam vulneráveis em relação a seus pensamentos.

Todd Hewitt (Tom Holland, de “HomemAranha: Longe de Casa”, 2019) acabou de completar a maioridade e está cansado de entrar em conflitos por causa do “Ruído”. Temendo a destruição total, por falta de mulheres na cidade, Todd decide fugir e, durante sua jornada, conhece Viola (Daisy Ridley, de “Star Wars IX: A Ascensão Skywalker”), uma mulher que caiu em seu planeta, devido a um acidente com sua nave. Em um ambiente hostil e vulnerável, a vida de Viola está em perigo, pois o prefeito Prentiss e o pregador local, Aaeron, a enxergam como uma ameaça, haja vista que, além de Viola ser a única mulher naquela região, as mulheres são invulneráveis ao “Ruído”. Com isso, Todd tem que aprender a controlar seus pensamentos (e seu “Ruído”) para protegê-la dos outros habitantes e levá-la a algum lugar seguro. Em meio a todo esse caos, Todd acaba descobrindo segredos obscuros sobre o passado da cidade e novas revelações sobre o que pode ter matado as mulheres, bem como sobre a origem do “Ruído”.

Tivemos uma onda de filmes pós–apocalípticos recentemente que, sempre que um novo filme com essa temática é lançado, temos a sensação de “mais um”. O filme “Mundo em Caos” teve a infeliz coincidência de ser lançado justamente em data presente, haja vista que o longa em tela teve os direitos de distribuição e exibição adquiridos pela Lionsgate (distribuído juntamente com a Paris Filmes) em outubro de 2011, mas passou por um longo período de turbulência até que, enfim, conseguiu ser lançado uma década depois.

Após os sucessos das sagas Crepúsculo e Jogos Vorazes na década passada, a Lionsgate decidiu investir em mais uma saga, com um certo potencial para, também, ser um sucesso. Foi então que a Lionsgate decidiu adaptar a trilogia “Chaos Walking”, de Patrick Ness. O filme “Mundo em Caos” é baseado no primeiro livro da saga, intitulado “O Motivo” (“The Knife of Never Letting Go”), de 2008. Só que a correria para a realização da nova saga ocorreu com tanta pressa, que a produção do roteiro foi feita meio que nas coxas.

Os problemas da produção de “Mundo em Caos” começaram logo com a confecção do roteiro. O primeiro rascunho do roteiro foi escrito por Charlie Kaufman (de “Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças”), que deixou o projeto logo em seguida, pois seu rascunho não agradou a empresa. Com base nesse rascunho, o roteiro foi reescrito, remendado e revisado várias vezes, passando por vários roteiristas (seis roteiristas, para ser exato), inclusive por Patrick Ness, que acabou assinando o roteiro final juntamente com Christopher Ford (HomemAranha: De Volta ao Lar”, 2017). Esse monte de reestruturação criativa no mesmo roteiro foi um tremendo erro, pois este ficou totalmente picotado e sem estar com uma história completamente redondinha, com todos os detalhes encaixados.

Outro problema foi em relação às filmagens. Mesmo que as filmagens tenham iniciado em agosto de 2017, “Mundo em Caos” teve que passar por várias refilmagens em 2018 e em 2019, depois que as exibições testes mostraram resultados péssimos. Para piorar, as filmagens tiveram que ser paralisadas devido aos compromissos de Daisy Ridley com Star Wars: Episódio IX – A Ascensão Skywalker e de Tom Holland com Homem–Aranha: Longe de Casa, ambos em 2019.

Com um orçamento inicial de US$ 100 milhões e com a primeira versão do filme tendo quase fracassado por causa das exibições testes, foram necessários cerca de US$ 15 milhões a mais ao orçamento de “Mundo em Caos” por causa das refilmagens. Com isso, o filme conseguiu ser finalizado. A questão é que, por causa das refilmagens, o filme em tela foi adiado várias vezes. Por fim, devido à recente pandemia, o filme teve que ser adiado novamente, sendo lançado no dia 13 de maio de 2021 nos cinemas brasileiros, pela Paris Filmes.

Enfim, após os vários problemas de produção, “Mundo em Caos” dividiu opiniões após seu lançamento. O filme em tela conquistou por apresentar nomes carismáticos e de peso, como Daisy Ridley e Tom Holland, que caíram no gosto do público jovem adulto com recentes produções (igualmente de peso), como os já citados Star Wars IX e Homem–Aranha. Os 2 atores tiveram uma ótima química ao contracenar juntos, embora, na minha opinião, Tom Holland ainda não seja um excelente ator (o que dá pra relevar), mas pelos menos ele se esforça e acredito que ele ainda vai brilhar muito como ator e a personagem de Ridley foi muito mal explorada e mal caracterizada. Para piorar, o uso da peruca loira usada por Ridley é uma coisa completamente ridícula – recurso usado resultante das paralisações das filmagens em decorrência da participação da atriz em Star Wars IX e, somando à isso, as refilmagens.

Destaque para o ótimo ator Mads Mikkelsen, que interpreta o prefeito; mas, por questão de tanto corte e costura no roteiro, que seu personagem, infelizmente, acabou com pouco tempo em tela. Para piorar ainda mais (ou seria, estragar?) a situação em relação ao personagem de Mikkelsen, o filme em tela não traz explicação alguma sobre as motivações do prefeito em considerar a personagem de Ridley como uma ameaça.

Mundo em Caos” tinha tudo para ser o primeiro capítulo de outra excelente saga (no caso, trilogia) de aventura: uma excelente produtora, com experiência em adaptações de obras literárias; um orçamento adequado (só para não falar alto) para produzir e entregar um material bacana e criativo; ótimo elenco e um ótimo material base (que, no caso, são os 3 livros de ficção científica “Chaos Walking”, de Patrick Ness), que serviu de base para o roteiro.

O problema de “Mundo em Caos” foi o roteiro mal escrito, mal estruturado e, por fim, mal adaptado. O fato do rascunho da primeira versão do roteiro ter passado por 6 roteiristas após decidirem usar a versão final para a adaptação foi uma péssima decisão. Tudo no filme aconteceu rápido demais, deixando uma brecha mínima para explicar certos conceitos, que poderiam ter sido melhor explicados caso o longa tivesse um tempo de duração um pouco maior. Os cortes e mudanças bruscas em determinadas cenas também revela a péssima adaptação do roteiro para a tela.

Por fim, o que melhor foi realizado em “Mundo em Caos” é a forma como “O Ruído” é representado. Nesta questão, os efeitos especiais do filme em tela foram muito bem produzidos, além de ser uma ideia pouco explorada. Por isso, a realização dos efeitos especiais (que são até simples de serem feitos, sem muita complicação) para o filme em questão não justifica o alto valor orçamentário.

Resta esperar para saber se, realmente, haverá as adaptações dos próximos 2 capítulos da trilogia, ou se “Mundo em Caos” restará unicamente como só nesta adaptação sem sequências. Tudo depende do resultado da bilheteria do filme em questão. Se a bilheteria de “Mundo em Caos” for boa e se a Lionsgate decidir mesmo investir nas 2 sequências da trilogia, dando sinal verde para a produção começar os trabalhos, então espero que não cometam o mesmo erro com relação ao péssimo desempenho que os roteiristas tiveram com o roteiro do longa em questão e que se mantenham mais fiéis aos livros da trilogia na hora de adaptá-los.

Mundo em Caos” está disponível na Amazon Prime Video.

Nota: 7.5

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