Um Lugar Silencioso - Parte II desenvolve pouco sua história e não supera seu antecessor.


Quando Um Lugar Silencioso foi lançado em 2018, foi enorme o frenesi em torno do filme. Era como se finalmente tivessem resgatado a essência de um bom thriller do gênero terror/suspense. Aproveitando o sucesso de bilheteria, a Paramount Pictures rapidamente iniciou o desenvolvimento de sua sequência. 


Após alguns anos de espera, finalmente chegou aos cinemas brasileiros a continuação dessa famosa franquia. Um Lugar Silencioso - Parte II (A Quite Place - Part II) é escrito e dirigido por John Krasinski, um dos protagonistas do primeiro longa e que reprisa seu papel na sequência. O longa foi lançado no dia 10 de junho deste ano, após diversos adiamentos em razão da pandemia.


A parte II apresenta dois momentos temporais distintos da família Abbott. Acompanhamos inicialmente o chamado dia UM, quando pela primeira vez as terríveis criaturas, que são atraídas pelo som, começam a ameaçar os seres humanos e mudar para sempre a vida na Terra. Em seguida, somos conduzidos para os eventos subsequentes ao primeiro filme. Evelyn Abbott, novamente interpretada por Emily Blunt, parte com os filhos à procura de um novo abrigo, após a trágica morte de seu marido, Lee (John Krasinski). Mas não será fácil, uma vez que ela tem três filhos para proteger, sendo eles um recém-nascido.


O filme se aproveita novamente dos elementos que trouxeram sucesso ao primeiro longa. O silêncio é um fator crucial para criar uma atmosfera que inspira o temor e a direção acertada de Krasinski faz isso com excelência. O posicionamento de câmeras e a criação de situações que inferem tensão ao espectador são acertadas, sem apelar para o jump scare desnecessário. É como se estivéssemos lá e cada movimento fosse um mini infarto. Quando os arcos dos personagens se separam, o paralelo entre as histórias é muito bem realizado e, sem dúvida, se torna um dos pontos altos da trama.


Alguns detalhes são um espetáculo a parte. As alternativas criadas pela família para criar um bebê, em uma situação onde qualquer som é capaz de atrair as criaturas mortais, são simplesmente brilhantes. Somado a isso, a descoberta de que a interferência causada pelo aparelho auditivo de Regan em contato com caixas de som, rádios, seria um dos pontos fracos das criaturas alienígenas, é bastante explorada, gerando desdobramentos interessantes à trama.



O amadurecimento das personagens, que lidam com o luto de formas distintas, e o melhor conhecimento das criaturas agrega bastante também no quesito ação. No entanto, devo dizer que apesar de garantir um bom entretenimento e ser enxuto (pouco mais de 1h e 30 minutos de duração) o roteiro peca ao entregar poucos avanços na história em si. E vou explicar melhor isso a frente.


A começar devo dizer que Emily Blunt, o grande nome da franquia, parecia estar num papel secundário. O novo filme tem como personagens centrais os filhos Marcus (Noah Jupe) e Regan (Millicent Simmonds) e a nova adição ao elenco, Cillian Murphy, que interpreta Emmet. É legal dar esse giro de ponto de vista, embora o resultado não tenha sido tão satisfatório quanto poderia, já que Emily estava simplesmente brilhante ao entregar uma personagem ainda mais resiliente que no primeiro longa. Dessa forma, é como se tivesse faltado o "algo mais". Apesar de um excelente ator, o personagem de Murphy, Emmet, não é nada carismático, como o de Krasinsk fora no primeiro longa. Não dá pra negar que, apesar das grandes atuações do elenco adolescente, Emily Blunt é o grande nome da franquia e merecia mais tempo de tela.



A primeira parte do longa é talvez uma das sequências mais eletrizantes de todo o filme. Ali havia uma oportunidade única para falar um pouco sobre a origem das criaturas, porém temos que nos contentar basicamente em acompanhar o primeiro contato com os seres alienígenas, sem grandes respostas sobre como e porquê eles vieram parar aqui. Simplesmente chegaram dos céus ou havia um objetivo? Isso foi previsto de alguma forma por alguma autoridade? Adiar isso para um terceiro filme, pode não ter sido a melhor ideia, em especial, pelo fato de não terem faltado oportunidades no contexto geral da narrativa.


Com isso, temos no enredo basicamente uma menina que precisou amadurecer rapidamente e que está disposta a ser corajosa como o pai e apostar tudo para encontrar um local seguro e mais sobreviventes. E quando você pensa que finalmente esse arco vai deslanchar é como se houvesse um retrocesso gigantesco ao final do filme.


Devo lembrar que adolescentes crescem, ou seja, o próximo filme (caso aconteça) deverá ter um salto temporal considerável na vida dos Abbott, caso eles queiram manter o mesmo elenco, e aí o roteiro terá que ser bem criativo para ajeitar pontas soltas e nos entregar respostas.


Apesar de mais dinâmico e intenso, Um Lugar Silencioso - Parte II entrega um roteiro inferior ao do primeiro filme. Mas devo dizer que ele é um bom cine pipoca, especialmente porque estamos em um período de pouca oferta cinematográfica e maciços cancelamentos. Portanto, divirtam-se, mas não esperem uma epifania do gênero.


Nota: 7,5

 

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