Com o passar do tempo, a Netflix passou a investir cada vez mais em produções comerciais, que aparecem em seu catálogo de forma despercebida e sem grande alarde. O filme Awake é o mais novo exemplo disso. Se a Netflix fosse uma locadora física igual à que tínhamos nos anos 1980, 1990 e princípio dos anos 2000, Awake seria um daqueles filmes novos que foi lançado direto em VHS/DVD sem ter sido exibido no cinema e a gente resolveu assistir porque gostou da sinopse da contracapa. Troque a palavra locadora por Netflix e verá que o filme em questão apareceu como uma sugestão assim que o canal de streaming é acessado.

Awake, que estreou no começo de junho, prometeu um tema bacana e inovador, mas não conseguiu cumprir o que prometeu, pois o enredo está cheio de buracos e já está bem desgastado pela falta de originalidade (só observar quantos filmes pós apocalíticos já foram feitos nos últimos 10 anos). Porém, Awake traz uma nova premissa interessante, mas lunática e sem explicação plausível.

O filme em tela aborda um incidente global inesperado que aconteceu sem explicação alguma e que destruiu todos os equipamentos eletrônicos existentes no planeta. Não demora muito para que a população mundial entre em pânico e a loucura generalizada tome conta. A grande sacada de Awake é que o incidente global impede que as pessoas durmam.

No meio do caos, Jill Adams (Gina Rodriguez), uma ex-militar do Exército dos EUA, e seus 2 filhos sofrem um acidente de carro após o veículo parar de funcionar repentinamente devido ao pane eletrônico global. Após o acidente, que quase afogou a filha, Matilda (Ariana Greenblatt), Jill e os filhos têm que procurar um abrigo e lutar contra a falta de sono. No entanto, Jill percebe que Matilda é a única pessoa no mundo que ainda consegue dormir e que a menina, de alguma forma, pode ser a solução para o problema de insônia coletiva. Decidida a proteger a filha, Jill vai em busca de ajuda, pois os cientistas e médicos buscam uma solução para a cura dessa insônia antes que os efeitos da falta de sono causem mais alucinações e matem toda a população.

A premissa do filme em questão tenta dar um gatilho diferente, mas as falhas de lapso de tempo durante o enredo, a falta de uma explicação científica para o colapso tecnológico e a insônia coletiva, a superficialidade dos efeitos físicos e mentais de uma pessoa que não dorme há mais de 24 horas e a eloquente previsibilidade não vinga e não prende a atenção do espectador.

Awake tentou inovar ao inserir insônia coletiva (e seus efeitos traumáticos) após um colapso global, mas não conseguiu fugir do estereótipo de uma história genérica pós apocalítica. A premissa, infelizmente, foi ofuscada pela falta de originalidade da trama em geral, que apenas pegou um assunto genérico e apenas inseriu um fato novo (insônia geral). De resto, todo mundo já está acostumado com os ingredientes desse gênero: loucura genérica, caos geral, fanatismo, desordem e anarquia.

Uma das falhas que o filme mostra é o lapso de tempo entre os dias corridos. A sensação de quem assiste é de que isso foi feito de propósito para suprimir o filme para ter apenas uma hora e meia. Se Awake tivesse, pelo menos, 15 minutos a mais, os efeitos físicos, mentais e emocionais de uma pessoa que passa mais de 24 horas acordada poderiam ser melhor explorados. A exaustão física, mental e emocional nas pessoas pela falta de sono foi resumida, apenas, às alucinações e paranoia. E quanto aos outros problemas, tais como comportamentos agressivos, baixa concentração, riscos de infarto, problemas de memória, confusão mental, desmaios etc.? Questão mal explorada, que suprimiu vários fatores fisiológicos causados pela falta de sono, levando as pessoas a, simplesmente, surtarem de repente. Apesar de o tempo todo alguém ficar repetindo que as pessoas podem morrer por não dormir, o filme não se dá o trabalho de mostrar alguém que morreu por não dormir.

Por fim, não se pode deixar de notar que existem 2 cenas puramente bíblicas no filme. A primeira é a cena da igreja, onde há o fanatismo religioso entre o líder religioso da igreja com os fieis, e o líder religioso fala à Matilda sobre ele ter morrido por um minuto e voltado à vida após uma overdose (alusão à Jesus). A segunda referência bíblica é a cena final do filme. Após Matilta e Noah descobrirem que as pessoas precisam morrer e reviver, os irmãos submergem a mãe no lago para afogá-la para, enfim, trazê-la de volta: tal ato lembra muito também um batismo. Toda essa alegoria religiosa, assim como toda explicação do fenômeno global, não obteve êxito algum em ser explicado, nem finalizar a mensagem quer o filme quis passar ao público. Quando terminei de assistir Awake, fiquei sem entender porque a pessoa precisa morrer e reviver para que o sono seja restabelecido! Mais um ponto que o filme não conseguiu responder.

Awake passa a impressão de uma narrativa que tem a intenção de querer contar uma história apenas pela metade, atropelando uma construção sólida de fatos e eventos que, obrigatoriamente, teria que ser dividida em etapas; mas que o filme resolveu resumir. Por isso, Awake se torna um filme genérico, superficial e muito mal resumido, tornando-o apenas mais um filme clichê de mundo pós apocalíptico.

Nota: 3.5

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