Novos episódios divertem, mas soam demasiadamente repetitivos.
A Parte 1 da série francesa 'Lupin' chegou à Netflix em janeiro, fazendo um enorme sucesso entre os assinantes da plataforma. Creio que grande parte dessa aclamação por parte do público esteja no fato de que o show criado por Georger Kay e François Uzan criou uma história que discutia temas relevantes com uma dose muito bem-vinda de diversão. O roteiro da série tem noção de quanto seus planos mirabolantes não são muito credíveis, então não se leva a sério, apostando num tom meio pastelão, mas sem exagerar muito.
A primeira temporada (leia a nossa crítica aqui) tinha uma estrutura de enredo definida que essa Parte 2 segue, mas sem o mesmo êxito. Durante boa parte dos episódios, acompanhamos os diferentes núcleos dos personagens tentando capturar Assane Diop (Omar Sy) e ele bolando maneiras de enganá-los, em meio a isso, víamos flashbacks do passado do protagonista que ajudavam a dar um contexto de suas ações no presente.
O maior defeito dessa nova leva de episódios consiste na insistência dos criadores em colocar os flashbacks em todos os capítulos, tornando-os maçantes. O que antes era um recurso inteligente de exposição, aqui não funciona pelas informações desnecessárias que agrega. O público já entendeu que Assane não é um bom parceiro para a Claire (Ludivine Sagnier), o esquema do Pellegrini (Hérve Pierre) para incriminar Babakar (Fargass Assande) já fora discutido em detalhes e também é sabido que os policiais da série são uns tapados. Contudo, o texto tenta insistir nessas subtramas, acrescentando nada em termos de entretenimento ou desenvolvimento dos personagens.
Se o roteiro empacou no desenvolvimento, pelo menos, os planos de assalto continuam muito divertidos. Óbvio que é necessária muita suspensão de descrença para comprar alguns absurdos, mas a série faz isso tão bem que não chega a ser um ponto incômodo. É muito prazeroso assistir à elaboração de cada esquema e gostei que o roteiro não tenta enganar o público, mas guarda suas surpresas para os momentos adequados.
No quesito atuação, quase todos fazem seus papéis com maestria. Omar Sy é um poço de carisma no papel de Assane, ele transmite uma energia tão boa que até quando deveríamos não gostar do personagem, o ator consegue fazer com que o público rapidamente o perdoe. Hérve Pierre continua deliciosamente caricato como Hubert Pellegrini, a atuação dele flerta com o canastrão, mas funciona devido à proposta da série, ele é o vilão que amamos odiar. O mesmo não pode ser dito sobre Clotilde Hesme como Juliette, eu diria que a atriz não consegue transmitir toda a dubiedade que a personagem necessita, ela está sempre fazendo cara de santa abnegada, mesmo quando não deveria. Outra boazinha que não teve muito o que fazer foi a Claire, não por culpa de Ludivine Sagnier, mas sim por conta do roteiro que escreve a personagem apenas como a ex-mulher de Assane. Tudo na vida dela gira em torno dele, até seus novos relacionamentos não engrenam, isso deixou tudo que envolve Claire muito desinteressante.
Em relação à conclusão, devo elogiar a forma com a qual a direção e roteiro conseguiram entregar um final muito coeso, utilizando tudo o que a série fez até o momento. Foi a única vez nessa temporada em que o recurso dos flashbacks foi bem empregado e todas as artimanhas fizeram sentido quando tiveram suas motivações reveladas. Também devo dizer que a resolução é bem satisfatória, tem ação, drama, mistério e muita diversão. Eu ficaria feliz se a série terminasse aqui, tudo foi bem encaixado, porém uma Parte 3 já foi confirmada pela Netflix, então é seguro dizer que nada virá tão fácil assim na vida de Assane Diop.
'Lupin - Parte 2' pode não ser tão brilhante quanto a primeira parte, mas ainda diverte o público com seu humor e mistérios.
Nota: 7,5
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