Após um início monótono e pouco empolgante, Loki 1x02 traz um final surpreendente e com sólidas referências ao MCU.

Foi ao ar nesta quarta-feira (16) o segundo episódio da série da Marvel Studios para o Disney+, Loki. Ao contrário de boa parte do público e crítica, o primeiro episódio não me empolgou pelo viés massivamente teórico e monótono, e por me fazer questionar a originalidade da série ao reprisar abordagens já desgastadas em séries tais como The Umbrella Academy. Por essa razão, cheguei ao segundo episódio do show, de certa forma, com um pé atrás, mas ainda assim motivada.

SPOILER ALERT

No fim do episódio piloto, vimos à variante que ameaça a Linha do Tempo Sagrada eliminar vários agentes da AVT (Autoridade de Variância Temporal). Ao som de Bonnie Tyler, com o hit Holding Out for a Hero, o segundo episódio da série se inicia com um novo ataque a agentes, e apesar da letra ser bastante coerente ao descrever o herói ideal, que é justamente um dos dilemas da série, ela acaba soando brega. Bonnie que me perdoe, mas definitivamente o problema não é ela. Simplesmente o hit da década de 1980 não combinou com a atmosfera da trama.

Ainda que com um embalo sonoro questionável, a partir daí, seguimos para a revelação de que Loki é a variante, ou melhor, uma versão dele é, e o episódio vai girar em torno de sua busca e para isso nada melhor do que o próprio Loki para entender como essa variante pensa e possivelmente agirá.

Essa versão de Loki, apelidada como Loki “do mal”, no entanto, não deixa vestígios por onde passa. A parte inicial do episódio se dedica a dar respostas ao público, através de um diálogo entre Mobius (Owen Wilson) e Loki (Tom Hiddleston), sobre questionamentos relacionados à dificuldade de captura dessa variante por parte da AVT. Loki chega a perguntar se uma vez sabendo onde a variante apareceu não seria mais fácil voltar no tempo e refazer seus passos a fim de capturá-la. Ainda que eles tenham a possibilidade de viajar pela linha temporal, Mobius afirma a necessidade de se fazer a captura no momento da ocorrência, ou mais distúrbios na linha acontecerão (como se a própria variante em si já não estivesse fazendo isso o suficiente!). É claro que essa explicação é totalmente uma convenção de roteiro, mas nada que não possamos relevar.

Loki é designado a sua primeira missão, meio que como uma espécie de agente honorário da AVT. Ele acaba tentando ludibriar Mobius,  todavia não funciona. E esse evento acende o nosso radar com relação ao aspecto confiança no personagem. Afinal de contas, ele é ninguém menos que o Deus da Trapaça e Mentira. 

Tendo a existência de uma variante “do mal”, será Loki, nosso protagonista, o representante do bem? Absolutamente, não! Ele tem seus propósitos, em geral egoístas, e apesar daquela "sessão de terapia" do episódio prévio, traços sociopatas e manipuladores sempre existirão. Vale ressaltar que a insistência do roteiro quanto a traçar a personalidade de Loki chega a ser enfadonha em alguns momentos do episódio, por girar em círculos, algo que a trama precisa ajustar o quanto antes.

Mobius insiste na permanência de Loki na investigação e mais tarde enquanto estuda os documentos da AVT, finalmente Loki tem um insight importante. O asgardiano percebe que a variante se esconde em eventos apocalípticos, uma vez que sabe que não será percebida na linha do tempo. E é aí que finalmente o episódio deslancha e amplia seus horizontes. A cena em que a dupla vai para Pompeia tem uma belíssima fotografia, e, além de divertida, é interessante, pois abre um leque de possibilidades incríveis. E temos referências ao Ragnarok, sim!

Tom como sempre está ótimo no papel de anti-herói, mas isso já era mais do que previsto. Meu destaque do episódio vai para o personagem de Owen Wilson. Ele achou o tom perfeito para Mobius. A relação entre ele e Loki é cativante e complexa ao mesmo tempo, porque queremos shipar essa amizade, embora no fundo saibamos que é uma péssima ideia. É tão interessante perceber a dualidade e batalha interna ali. De um lado um Deus recebendo orientação de uma mera criatura, do outro lado, um agente comum que é levado à reflexão sobre tudo aquilo em que acredita piamente, por um mentiroso compulsivo.

Em um diálogo entre os dois, que soa novamente como quase uma sessão de terapia, entra no debate a questão do livre arbítrio e Loki ressalta algo que é praticamente senso comum: ninguém é bom o tempo todo, assim como ninguém é mau o tempo todo. O que nos faz questionar: será que o propósito dos guardiões do tempo é de fato a manutenção da paz ou nos fazer de meras marionetes?

Ainda acerca das personagens, espero que Ravonna (Gugu Mbatha-Raw) ganhe tempo de tela e seja mais explorada. A atriz que performou em um dos melhores episódios de Black Mirror, San Junipero, tem tudo para agregar tremendamente ao enredo. Wunmi Mosaku, por sua vez, apesar de excelente atriz, sua personagem, a caçadora B-15, ainda não encontrou o timing de humor nas parcerias com Tom Hiddleston.

A sequência final do episódio é resultado do trabalho da dupla. Mobius se recorda de um item deixado pela variante e mostrado ainda no primeiro episódio e com isso eles conseguem rastrear o possível esconderijo do Loki “do mal”. Após um confronto pra lá de frustrante do ponto de vista técnico, com uma luta super sem graça entre Loki e sua versão que tem a habilidade de controlar mentes, temos o grande plot twist do episódio que nos revela que, na verdade, a variante é Lady Loki (Sophia Di Martino).

Lady Loki literalmente bombardeia a linha temporal, criando inúmeras ramificações (entre elas Vomir, onde estava a joia da alma do MCU, e Titã, local onde nasceu o vilão Thanos!) causando uma terrível crise para a AVT. A variante consegue escapar por um portal e Loki a segue, deixando no ar a dúvida sobre de fato o que ele fará, afinal sabemos que o lado que ele está é sempre o dele mesmo. 

Se a série seguir os rumos dos quadrinhos, Lady Loki pode ser na verdade Sylvie Lushton, uma criação de Loki, que já fez parte dos Jovens Vingadores e domina magia. Ela pode também ser simplesmente uma versão feminina do anti-herói, que como o próprio episódio mostra, tem uma série de variantes bastante diferenciadas umas das outras.

A série Loki ainda não mostrou seu real potencial, mas finalmente criou expectativas. É importante destacar também que o roteiro ainda comete excessos com algumas piadas que soam um tanto quanto fora de hora, e que lembram um pouco os filmes do Thor (e isso não é um elogio). 

Existe ainda o risco real de que em uma trama complexa com múltiplas linhas temporais os furos de roteiro sejam cada vez mais presentes e a trama acabe sendo engolida por sua ambição. Contudo, vou me apegar na possibilidade da série saber usar bem todas as ramificações criadas.

Ao tirar Loki do espaço burocrático e permitir que ele viaje pelo multiverso, a série além de ganhar ritmo poderá se tornar a mais conectada ao MCU até agora. Nos resta torcer e acompanhar atentos. Diga aí nos comentários suas expectativas para o próximo episódio!

Nota: 7,5

 

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