Nova série da Marvel surpreende com episódio piloto muito bem dosado e cheio de novidades empolgantes.


Quando a Marvel Studios anunciou que faria uma série do Loki (Tom Hiddleston), devo admitir que fui um dos que questionou necessidade disso, já que o personagem teve um fim digno em 'Vingadores: Guerra Infinita'. Então, o filme seguinte, 'Vingadores: Ultimato', brincou com questões de viagem no tempo e num descuido o Deus da Trapaça acabou fugindo com o Teserract para longe dali. Isso abriu a óbvia curiosidade de para onde ele teria ido e como o personagem retornaria ao cânone do MCU, pois bem, o episódio piloto de 'Loki' responde satisfatoriamente a quase todas essas perguntas.

Dirigido pela competente Kate Herron (Sex Education) e roteirizado por Michael Waldron (Rick e Morty), 'Propósito Glorioso' tem a missão de apresentar para o público à Autoridade de Variância Temporal (AVT), uma agência que tem a missão de conter possíveis quebras no fluxo do tempo. Quando Loki pegou o Teserract em 2012, isso foi considerado uma quebra na timeline e uma equipe do AVT foi em seu encalço, prendendo-o por seu crime. É então que somos apresentados aos funcionários desse lugar e aprendemos um pouco sobre o porquê eles fazem tudo aquilo.

O mais interessante desse episódio é o esforço que o texto faz para nos lembrar que o Loki que estamos vendo, não é o mesmo que passou pelo desenvolvimento de personagem visto em 'Thor: O Mundo Sombrio', 'Thor: Ragnarok' e 'Vingadores: Guerra Infinita'. Pelo contrário, é o Deus da Trapaça que acabou de perder a luta contra os Vingadores em Nova York e está muito irritado por mais esse fracasso em sua vida. Toda a jornada do personagem nesse início serve como uma sessão de terapia rápida, isso é uma decisão sábia do roteiro, pois, já vimos anteriormente a versão sádica, logo era necessário o personagem passar por uma mudança significativa nesse capítulo para evitar uma repetição de personalidade ao longo dos demais episódios.

Estabelecido todo o estofo dramático do personagem, a jornada agora é de adaptação e evolução. Falando em evolução, devo ressaltar o ótimo trabalho feito na introdução da AVT, tudo é muito bem explicado no possível, não ficando nada propositalmente confuso. Existem obviamente questões de ordem filosófica que o texto tenta instigar no público como indagar se todo personagem do MCU teve um destino pré-concebido, eliminando o livre arbítrio que se julgava que as pessoas tinham.


Essa é uma discussão que deve ser abordada mais profundamente no futuro, porém sua inserção aqui funciona para fazer Loki questionar até que ponto suas decisões eram realmente dele e não algo estabelecido pelos Guardiões do Tempo. O Agente Mobius (Owen Wilson) serve como um guia do público para esse novo ambiente, a química de Wilson com Hiddleston funciona muito bem, é muito prazeroso ver dois personagens sarcásticos tentando superar o outro. A presença dele também ajuda a dar um breve vislumbre das ameaças que estão por vir na série e como a ajuda de Loki pode ser muito bem-vinda no caso em questão.

A direção de Kate Herron é muito contida na condução da trama, porém isso é para acompanhar o escopo intimista do texto, a maioria das tomadas são filmadas de ângulos fechados, passando a impressão de que eles não querem entregar todas as surpresas rapidamente. Esse jogo de câmeras mais próximo dos personagens também serve para focar no lado emocional, nota-se o visível abalo de Loki por sua derrota e pelas coisas que viria a descobrir, então a câmera foca muito no rosto de Tom Hiddleston e deixa o ator dar uma boa performance mostrando as dores/arrependimentos do Deus da Trapaça.

O maior defeito do episódio é o fator da familiaridade, digo isso não sobre a história, mas sobre a abordagem do personagem. Apontei mais acima que o fato do roteiro fazê-lo admitir seus problemas era necessário para evitar repetições desse tema a longo prazo, porém, para qualquer pessoa que acompanhou o personagem no MCU, a sessão de terapia apresentada aqui não mostrou nada que os filmes não tenham feito. Então, essa repetição na desconstrução me cansou um pouco, não chega a ser um defeito grave, mas é bom salientar para ver se no futuro não fica chato.

Por fim, não posso deixar de dizer o quanto achei o engraçado o visual da AVT fazer uma paródia a serviços públicos de atendimento, uma piada simples, mas eficaz. Óbvio que a agência não é só aquilo mostrado, os demais departamentos devem ser explorados nos próximos episódios.

'Loki' começa com conceitos muito promissores e divertidos, mas com um quê de familiaridade.

Nota: 8,0

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