Sexualidade, racismo, relacionamento aberto, posse de armas. A segunda temporada de "The Bold Type" não hesita em debater assuntos vistos por muitos como tabus ou "mimimi".

A crítica de hoje vai falar sobre a segunda temporada da nova série queridinha da Netflix, The Bold Type. Apesar de em português a série ter sido chamada de Poder Feminino, esse nome não pegou entre o público, talvez até pelo fato da própria Netflix optar por deixar o nome original no layout de divulgação do streaming. Vale lembrar que essa comédia dramática exibida inicialmente pelo canal americano Freeform e criada por Sarah Watson é inspirada na vida da ex-editora-chefe da revista feminina Cosmopolitan, Joanna Coles, e vai retratar o dia-a-dia de três jovens amigas nos bastidores da revista Scarlet, nome fictício usado nessa história.

A crítica a seguir traz spoilers exclusivamente da primeira temporada. Portanto, se não iniciou a série ainda, volte em outra ocasião e confira antes a crítica da primeira temporada. Caso você não tenha assistido à segunda temporada, leia relaxado.

Um dos arcos principais de encerramento da primeira temporada tem relação com a ousada mudança de Jane (Kat Stevens), no que concerne sua vida profissional. A talentosa escritora decide deixar a Scarlet para tentar a sorte em uma outra revista, a fim de encontrar maiores desafios e poder escrever assim matérias que de fato representem algo para o mundo. Porém, é como diz o velho ditado: a gente só dá valor depois que perde.

A segunda temporada foca bastante nas consequências dessa escolha profissional de Jane. Inclusive vemos o lado mais cru da personagem, que pode ter parecido perfeitinha demais no começo da série. Nessa nova fase estaremos de frente para uma Jane mais real e, por isso, mais insegura, mais impulsiva, de certa forma até mesmo mimada, e veremos os vários desdobramentos de suas atitudes, não apenas para ela, mas para outras pessoas.

Do ponto de vista romântico Jane parece dividida e também terá que fazer uma escolha importante no quesito relacionamento. A temática sobre o gene que a pré-dispõe ao câncer é retomada nessa segunda temporada de um jeito bem interessante e extremamente necessário. A falha da série, no entanto, ainda reside no fato de o roteiro nem sempre conseguir fugir do enquadramento didático demais, conveniente demais e nem sempre fluido.

Por falar em escolhas, Sutton (Meghann Fahy) é mais uma que convive diariamente com elas. Ao optar por abandonar Richard (Samuel Page), para que assim não tivesse sua vida profissional prejudicada, ela acaba abrindo mão do amor de sua vida e vai percebendo que não é nada fácil deixá-lo partir e muito menos virar a página. Nessa temporada, ela mostra mais do que nunca que está disposta a tudo para crescer em sua carreira, inclusive fazer amizades com ricos esnobes. Ao lado de Oliver (Stephen Conrad), seu superior no setor, ela aos poucos vai tendo a oportunidade de mostrar o quão é habilidosa e é no arco dela que aproveitamos para nos esbaldar com as tendências fashionistas e os belíssimos ensaios fotográficos que a série nós proporciona. 

E é legal destacar que Sutton é mais um exemplo de desconstrução das personagens. Em um dos episódios o tema abordado é a posse de armas de fogo. Ao retratar esse tema, que ainda é um tabu, remetendo ao terrível atentado ocorrido em Columbine, vemos um outro lado dessa personagem que não estamos acostumados e isso a humaniza e torna toda a trama muito mais realista e passível de identificação.

Kat (Aisha Dee) tem sua relação com Adena (Nikohl Boosheri) bastante enfatizada na temporada. Uma série de eventos vai testar a relação das duas, dando espaço a novas pautas, como a do relacionamento aberto, que renderá momentos leves e hilários. 

É através de Kat que o enredo aprofunda discussões extremamente importantes, entre elas a pauta racial e a importância da representatividade. É nessa fase também que conhecemos melhor a relação da personagem com seus pais e a construção de sua identidade em um dos melhores e mais tocantes episódios da temporada.  Além disso, acompanhamos a personagem explorar sua sexualidade e se permitir novas experiências.


Novos cenários são explorados, com direito até mesmo a evento de gala e visita a Paris. Há de fato um amadurecimento das personagens centrais e uma diversificação dos temas, o que torna a temporada mais sólida, ainda que o roteiro opte por se manter na zona segura por diversas vezes. Ainda assim, a trama atende o que se propõe, que é entreter e passar mensagens relevantes.

The Bold Type mostrou, portanto, que veio para ficar e é uma série digna de maratona.

Nota: 8,0


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