Com atuação tocante de Riz Ahmed, O Som do Silêncio (Amazon, 2020) reflete sobre o que é realmente essencial na vida em meio ao agitado mundo contemporâneo.
Na produção original da Amazon Studios é retratado o período da vida de Ruben Stone (Riz Ahmed), um baterista em uma banda de heavy metal, em que ele repentinamente perde sua audição. Assim, acompanhamos o drama de uma figura tão atrelada à música tendo que aprender a viver sem ela de maneira tradicional.
Diante do exposto, cabe destacar o instigante roteiro escrito pelos irmãos Darius e Abraham Marder e que nos conduz suavemente por toda a transição de seu protagonista sem soar piegas ou mesmo desinteressante. Pelo contrário: há um desenvolvimento gradual da personalidade de Ruben que nos mantém cada vez mais imersos em sua história.
Esses sentimentos são evocados pelo trabalho mútuo da direção do estreante Darius Marder e a atuação sensível de Ahmed. Marder possui escolhas inteligentes de condução da câmera, com cortes mais fechados sobre o ombro do protagonista que nos permitem ver o mundo aos seus olhos e tornam a experiência mais intensa. Já Riz Ahmed entrega uma performance extremamente expressiva sem precisar recorrer a longos diálogos e demonstra o turbilhão de emoções que rodeiam seu personagem de maneira coesa e convincente apenas com o olhar.
E então, temos o segundo protagonista do longa: o próprio silêncio. Existe toda uma construção para mostrar o contraste entre um mundo que preza pelo dinamismo e a agilidade, sempre tão movimentado, e a calmaria e reflexão que a quietude proporciona. Em determinado momento do filme, por exemplo, Ruben caminha em meio ao incessante barulho das ruas e em seguida, quando o silêncio entra em cena, ele se permite contemplar outros detalhes do cenário ao seu redor que até então passavam despercebidos.
Logo, nas primeiras vezes que temos a ausência de som, a sensação é inquietante e desconfortável. Mas, na medida que a história avança, torna-se aprazível e acolhedora. Chega a um ponto em que, assim como Ruben, o telespectador se pega desejando voltar para a calmaria.
Tais percepções de mundo são notadas por Ruben graças ao seu mentor surdo Joe, interpretado majestosamente por Paul Raci. O ator veterano é de uma sutileza assustadora e carrega em sua atuação toda a ideia da necessidade de enfrentar a nossa "quietude barulhenta" - a própria mente, o próprio coração. Na maioria de seus diálogos bem escritos, há a exposição de uma verdade latente de que Ruben precisa primeiro estar em paz consigo, em seu interior, para só então seguir em frente.
Além dos atores supracitados, temos a participação de Olivia Cooke como Lou, o par romântico do baterista. Sem entrar no campo dos spoilers, é prazeroso acompanhar o forte elo entre os dois e como o companheirismo e a reciprocidade estabelecem relações que vão além de rótulos.
De modo geral, no que concerne aos aspectos técnicos, a produção possui uma ótima mixagem de som, transitando bem entre a balbúrdia das baladas noturnas, passando pela perda gradual da audição, e chegando ao som metálico (e angustiante) dos aparelhos auditivos. Além disso, é interessante notar como há uma escolha de paleta de cores sempre frias para as paisagens, com raras exceções para as cenas na escola e na comunidade liderada por Joe para surdos.
Por fim, destaco ainda algo que fica implícito durante o filme: o fato de só darmos valor ao que temos quando perdemos.
Em suma, The Sound of Metal (no original) é uma experiência sensorial instigante com um roteiro balanceado e atuações impactantes. Não traz apenas uma bela mensagem, como também te fará refletir por um bom tempo após a última cena.
Nota: 10,0
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