The Handmaid's Tale adia o fechamento de alguns arcos, perde ritmo, mas segue impactando. 

É cada vez mais perceptível que o mundo está dividido. Grupos que eram antes minoria, com falas e ideologias supremacistas e misóginas, aos poucos vão emergindo e voltando a nos assombrar. Não. Isso não é uma distopia. Isso é vida real.

The Handmaid’s Tale chega a sua terceira temporada soando cada vez menos distópico, uma vez que sua trama apresenta situações na verdade que estão muito próximas da nossa realidade.

Não tem como negar que a terceira temporada começa a se distanciar da excelência observada no roteiro da primeira. Entretanto, não se preocupe, pois ela está longe de ser uma série irregular, ou ruim. Ela apenas perdeu um pouco do brilho e excepcionalidade.

SPOILER ALERT

Ainda que com alguns problemas de andamento, vale ressaltar que os treze episódios lançados em 2019 deixam suas marcas. Uma delas se concentra no fato de parte da trama ser ambientada agora em Washington D.C.. Dessa forma, ao sairmos de Gilead, conseguimos perceber melhor como é a situação dos Estados Unidos que sofrem as consequências de uma dura guerra civil, em um panorama mais macro. Os monumentos típicos da capital surgem como elementos que compõem as cenas não apenas como meros objetos, mas como um símbolo que transmite uma sensação nostálgica embalada por uma tristeza singular que é resultado da perda da condição de estado democrático.


Outra marca registrada da temporada é que vemos a que ponto chegou o nível de silenciamento das Aias. Em cenas pesadas, somos levados a descobrir que agora elas têm suas bocas "grampeadas" por anéis metálicos, que são então encobertos pelo tecido vermelho. A imagem é chocante e fica na cabeça por bastante tempo.

Não há como negar que o grande desejo do espectador nessa temporada girou em torno da promessa de ver June (Elisabeth Moss) colocando em prática o plano de destruir o sistema totalitário e reencontrar sua filha. Ao menos o material promocional da série nos incendiou nesse aspecto. Contudo, o que vemos é uma trama que é ralentada propositalmente, como se o intuito fosse realmente gerar material para temporadas subsequentes. Logo, a falta de avanços concretos na solução de alguns arcos, chega a ser frustrante.   

O que nos é entregue é uma June que além de articular, concretiza a retirada de várias crianças de Gilead, o que é ótimo, todavia isso não inclui a filha dela, Hannah. Tal missão só foi possível, pois June foi transferida para a casa do comandante Lawrence (Bradley Withford) (o mesmo que ajudou Emily), após ser punida em razão dos acontecimentos do final da segunda temporada. Na nova casa, ela logo passa a fazer parte de uma resistência formada por Marthas. Vale salientar, que é possível perceber que June já não é mais a mesma. Os traumas e torturas sofridos a tornaram pouco a pouco uma pessoa mais fria e disposta a tudo o que for necessário para atingir seus objetivos. 

Boa parte da história também se desenrola no Canadá. Acompanhamos a fase de adaptação de Emily (Alexis Bledel) que coleciona traumas profundos e está hesitante em se reconectar com sua esposa e filho. Além disso, Luke (O. T. Fagbenle) e Moira (Samira Wiley) estão empenhados em proteger a bebê dos Waterford, já que Fred (Joseph Fiennes) está disposto a tudo, inclusive a iniciar um conflito diplomático para a reaver Nichole, que segundo eles foi sequestrada. 

Uma novidade interessante é que um dos episódios mostra finalmente um flashback de Tia Lydia (Ann Dowd) e vemos seu passado como professora e o nascimento de suas frustrações em razão de um relacionamento. Só espero que esse não seja o único motivo de sua amargura, pois, convenhamos, se for, o motivo foi o mais pífio possível.

Serena (Yvonne Strahovski), que foi uma personagem que cresceu muito na última temporada, agora é uma incógnita. Por vezes acreditamos realmente que ela “acordou” com relação a Fred, no entanto, tem momentos que é como se a antiga Serena voltasse à tona. A temporada inclusive mostra ambos sendo detidos pelo exército canadense por crimes de guerra, algo premeditado por Serena na tentativa dela ter contato novamente com a bebê. Porém o plano acaba não saindo como ela imaginou, e Fred delata os crimes da esposa sem piedade.

A temporada se encerra com June baleada sendo carregada por suas companheiras, como resultado do conflito ocorrido no aeroporto durante a missão de libertação das crianças de Gilead.

A quarta temporada estreia no Hulu no dia 28 de abril e chega após um grande hiato em razão da pandemia. Esperamos a solução de alguns arcos e que a série rume ao seu desfecho, antes que perca ainda mais o brilho ao forçar um prolongamento desnecessário. Fora isso, nos resta aguardar pelos clássicos bordões: "Blessed be the fruit" (Bendito seja o fruto) e "Under his eyes" (sob os olhos d'Ele).


 Nota: 7,5

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