"Por trás da Inocência" traz atuações ruins, um roteiro forçado e acaba se tornando um dos piores filmes de 2021.

Um tópico recorrente entre os assinantes da Netflix é que um dos pontos fracos no streaming ainda é seu catálogo de filmes, que se mostra bastante inferior ao de séries, por exemplo. Ainda assim, quando acompanhamos o top 10 Brasil pipocando na nossa tela, somado a facilidade de acesso, acabamos compelidos a fazer algumas apostas até mesmo arriscadas, a fim de encontrar um passatempo após um dia corrido.

Tendo isso em mente, minha escolha da vez foi Por Trás da Inocência (Deadly Illusions). O filme, que está entre os mais assistidos da semana do catálogo da Netflix, foi escrito e dirigido por Anna Elizabeth James e é estrelado e produzido por Kristin Davis, atriz que fez sucesso por interpretar a Charlotte em Sex and the City, um motivo a mais pelo qual resolvi assistir à película, mal sabendo eu a bomba que me esperava.

O thriller de suspense acompanha a vida de Mary (Kristin Davis) uma escritora de uma série de livros de muito sucesso. Ela está numa fase da vida em que se dedica integralmente aos filhos, no entanto, em razão de um investimento mal sucedido do marido, Tom (Dermot Mulroney), ela se vê pressionada a aceitar uma proposta milionária para escrever mais um livro. Para conseguir dar conta da jornada dupla, ela e o esposo decidem que está na hora de contratarem uma babá para ajudá-los com as crianças. Mesmo que resistente a ideia, Mary decide entrevistar algumas candidatas e logo se encanta pela graciosidade e educação de Grace (Greer Grammer). A escritora só não imagina que a jovem seria quem acabaria com seu bloqueio criativo, a partir do momento que ela começa a fantasiar com a garota, e isso promete virar a vida de sua família de ponta cabeça.

Já alerto que são pouquíssimas as coisas que funcionam nesse longa. Kristin Davis está no pior papel da sua vida, numa personagem que é até mesmo mais caricata do que protagonistas de novelas mexicanas. Em uma das cenas do longa-metragem que exigia emoção à flor da pele, seus gritos e choro foram nada convincentes, passando inclusive uma sensação de constrangimento ao espectador. A atuação dela até me fez questionar se ela de fato era boa atriz em Sex and the City, ou eu que era jovem demais para julgar isso propriamente.

Quando Grace surgiu na tela, eu tive a sutil sensação de que o filme se aventuraria por uma trama bem parecida com o filme estrelado por Amanda Seyfried, O Preço da Traição (2009), onde sua personagem, Chloe, manipula com sedução e frieza o casal interpretado brilhantemente por Julianne Moore e Liam Neeson. No entanto, ledo engano. A babá é extremamente doce, tão doce que foge daquilo que é crível. O roteiro mais a frente tenta justificar isso, por meio de revelações acerca de um passado traumático, contudo nada é suficiente para tornar plausível e razoável algo colocado de forma tão exagerada. No final do filme, um plot forçado vem à tona e traz um lado da personagem tão mal executado, que até a voz dela é mudada artificialmente, quase parecido com uma possessão (que não é possessão), o que torna tudo extremamente brega e faz o filme cair para a categoria C do cinema.

O filme que era para ser uma dessas distrações corriqueiras, daquelas que não pedem por um roteiro brilhante ou exijam muito esforço para seu entendimento, começa a brincar a partir de um determinado momento da trama com o que é ficção e o que é realidade, se baseando no fato de que Mary, quando mergulha na escrita de um livro, acaba visitando um lado mais obscuro de sua personalidade (isso seria até interessante se bem explorado). Era pra ser somente aquele clássico enredo onde uma jovem chega em uma casa de família a trabalho e começa a atrapalhar um casamento,  mas não. O filme tenta ser complexo meio que na "marra". Só que eu estou pra dizer que nem mesmo a autora sabe ao certo o que era realidade e o que era ficção em sua própria história. 

Se algo funciona em Por trás da Inocência é que você acaba sendo empurrado até o final só pra entender o mistério por trás da babá e até que ponto Mary está imaginando ou de fato vivendo certas situações. Mas daí o roteiro te entrega as respostas mais imbecis possíveis e você se martiriza por não ter desistido de assisti-lo antes. Temos aqui, lamento dizer, um dos piores filmes de 2021. 

Nota: 3,5

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