Godzilla vs Kong é um blockbuster divertido com sequências de ação competentes e que entrega o que promete.


Em 1954, o primeiro filme do Godzilla era lançado. A criatura servia como uma metáfora para a tragédia de Hiroshima e Nagasaki e o terror do uso de armas nucleares. O filme serviu para mostrar os traumas e ansiedades que o Japão passava na época de uma maneira não explícita por causa da censura, causada pela ocupação americana no país no período pós-guerra. Em 1933, King Kong era lançado e pode ser interpretado como a história de uma criatura inocente que é sequestrada e forçada a dar um show como uma aberração para a diversão de pessoas brancas do outro lado do mundo. Seus captores não são heróis, mas sim caricaturas da voracidade e ganância dos americanos. 

Avançamos quase um século depois. É 2020 e Godzilla vs Kong é lançado. Os monstros titulares viraram protagonistas de diversos filmes que fazem parte de uma franquia. A mensagem de seus filmes originais agora é diluída ou até mesmo esquecida. GvK (abreviação de Godzilla vs Kong) não possui um tema unificante ou uma mensagem. Não há sequer espaço para qualquer tipo de subtexto. Mas a proposta do filme é simples: vamos te mostrar dois monstros gigantes lutando entre si e você irá se divertir. 

Levando em consideração a proposta do longa, posso considerar que ele entrega o que promete. O filme possui duas horas de duração, sem os créditos uma hora e quarenta. Já na primeira meia-hora do filme ocorre a primeira luta entre os titãs. O ritmo do filme é dinâmico, várias coisas acontecem e há pouquíssimos momentos onde você é capaz de respirar e processar o que aconteceu. O filme é seguido de revelação após revelação, seguida por exposição e então ação desenfreada, apenas para mais ação ocorrer em seguida. 


Os personagens humanos, como é de praxe, só estão lá para explicar algumas pontas soltas, soltarem diálogos expositivos, soltarem uma piadinha para criar momentos cômicos (obrigatórios em um blockbuster PG-13) e reagirem á destruição em volta deles. Qualquer tentativa de arco dramático ou caracterização é falha. Tudo é muito raso quando se trata deles. A personagem da Millie Bobby Brown tem uma história com o pai dela que é feita para nos importarmos com ela, mas isso só é citado duas vezes, esquecida durante todo o segundo ato e resolvida de maneira piegas no final do filme. A única personagem humana realmente legal é a garota muda que se comunica com o Kong. 

Na parte sonora, a trilha do Tom Holkenbork, ou Junkie XL, não é memorável. Nenhum tema se destaca e a maioria é esquecível. A trilha também não potencializa a ação, já que não senti o tom épico que era necessário pra um filme desse tipo. O design de som e efeitos sonoros também não ajudam muitos. Os grunhidos e gritos dos monstros titulares possuem o peso necessário para o porte deles, mas depois de quinze minutos seguidos onde só há gritos e sons de explosões, a coisa começa a não ficar bastante agradável. A Abertura 1812, obra orquestral do Tchaikovsky, possuiu como um de seus instrumentos canhões de artilharia reais e sabe usar os sons de disparos de forma primorosa. Mas como o maestro aqui é Adam Wingard e não o Tchaikovsky, toda essa barulheira é questionável. 

Quanto há ação, posso dizer que tudo é acertado. Adam Wingard sabe como filmar sequências de ação. O filme se nega a seguir a escola do Michael Bay onde há mil cortes por segundos, câmera tremida e onde tudo é confuso. Aqui a ação é clara, o enquadramento nos ajuda a ver tudo o que está acontecendo e os movimentos de câmera ajudam a dar a fluidez necessária para essas sequências. A edição também ajuda bastante, só há corte quando é necessário, fazendo com que cada plano corra pelo tempo necessário. 

Godzilla vs Kong no final é só mais um blockbuster divertido de ação. Considerando o filme por si só, é um bom passatempo sim. Levando em conta o contexto geral do Mosterverse, esse novo universo cinematográfico, GvK não parece ser o filme-evento que o universo precisava. Ao final do longa, me questiono o que mudou realmente no universo do filme além de algumas coisinhas. 

Nota: 7,0

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