Crítica| De Olhos Bem Fechados (1999)

O último filme de Stanley Kubrick veio como amostra perfeita de seu completo controle sob a narrativa cinematográfica, dirigido, co-roteirizado e editado por um dos maiores cineastas da história, "De Olhos Bem Fechado" é um devaneio sobre diferentes ansiedades sociais.

"De Olhos Bem Fechados" acompanha o Dr. Bill Hargrove (Tom Cruise) numa jornada de descobertas morais e pessoais após sua esposa lhe revelar um segredo. Descrever o filme ao dizer que "acompanha" o Dr. Bill é a melhor forma de definir a narrativa, semelhante a um videogame imersivo, o público é colocado no ponto de vista do protagonista enquanto ele sai pela noite cumprindo diferentes "missões" em ordem de colocar a história para frente. Isso pode ser notado em como o roteiro coloca o Dr. Bill em diferentes situações que lhe colocam em lugares diferentes.

Essa identificação com o protagonista criada através do ponto de vista permite a criação de um protagonista falho porém admirado. Bill sendo um médico bonito casado com uma linda mulher representa claramente o ideal masculino e se esforça para vender essa imagem, porém ainda é atormentado pela perspectiva de ser só mais um funcionário de seus pacientes ricos e não ser um deles por mais valorizado que seja.

Todas as situações em que Bill é colocado trazem alguma forma de mistério mostram como essa história é sobre segredos, mas não apenas isso, sobre ideias pré-concebidas, como personagens criam uma ideia a respeito de Bill que não passa de uma imagem criada por ele e como Bill confunde a imagem criada por outros por conteúdo real.

Famosamente, "De Olhos Bem Fechados" mantém o recorde mundial de filmagem constante mais longa de um filme, isso muito devido a insistência de Kubrick em fazer múltiplos takes da mesma cena. É possível notar o cansaço dos atores no filme que serve para compor seus personagens, quando vemos Bill e sua esposa Alice acordados de madrugada e ainda drogados, o porte deles era o cansaço real que Tom Cruise e Nicole Kidman sentiram devido a quantidade de takes que seu diretor insistiu em fazer.

Visualmente o filme conta sua história através de cores em contraste, passado na época de Natal, a imagem das luzes coloridas está em todo o lugar, os cenários na maioria tem uma cor primária que se destaca em tela enquanto o fundo contrasta essa cor primária de maneira a ilustrar como temos o que está visível a nossa frente mas por trás temos algo bem diferente da imagem passada.

Stanley Kubrick faleceu seis dias após terminar de editar "De Olhos Bem Fechados", deixando esse como seu último legado na sétima arte após um trabalho extremamente exaustivo para criar uma obra provocativa e ambiciosa com um completo controle sob cada aspecto trabalhado.