Com atuações incríveis de Zendaya e John David Washington, o filme mostra um embate de egos de um casal ao mesmo tempo em que faz severas críticas à indústria e críticos especializados.


O cineasta Malcolm (John David Washington) e sua namorada Marie (Zendaya) voltam para casa, após a festa de lançamento de um filme, para aguardar o iminente sucesso de crítica e financeiro. A noite de repente toma outro rumo quando revelações sobre o relacionamento começam a surgir, testando a força do amor do casal.


O mais novo longa do diretor Sam Levinson (Euphoria, País da Violência) acabou chamando a atenção de todos por ter sido filmado completamente em segredo durante o ano de 2020, no meio da pandemia. O filme totalmente em preto e branco fez sucesso durante diversos festivais de cinema e acabou sendo adquirido pela Netflix, que distribuiu o filme mundialmente exclusivamente através de seu serviço de streaming.


Os primeiros 20 minutos do longa apresentam muito bem o tom do filme e seus protagonistas, o diretor de cinema Malcolm, interpretado por John David Washington (Tenet, Infiltrados na Klan) e sua esposa e atriz Marie, interpretada por Zendaya (Euphoria, Homem-Aranha: Longe de Casa). Vemos takes longos mostrando o casal chegando em casa após a premiére do novo filme de Malcolm e seu entusiasmo com o seu novo filme, comemorando e dançando de felicidade e em contraponto sua esposa Marie que se mostra fria, irritada, indisposta e totalmente incomodada.


É então que o filme começa a fazer suas críticas à indústria cinematográfica e a grandes veículos, chegando a citar  críticos da Variety, LA Times, Indiewire e outros. Malcolm faz severas criticas a maneira que esses críticos enxergam seus filmes (e de pessoas negras no geral), achando que todos os filmes feitos por negros tem que seguir certas cartilhas políticas para serem considerados "bons". Normalmente se referindo aos críticos com um tom de deboche e os chamando de “pessoas brancas”, o diretor do filme optou por fazer duras críticas que embora possam soar pedantes e prepotentes, trazem uma boa reflexão e crítica da maneira como alguns críticos e grandes veículos da imprensa se comportam.



As discussões e longos diálogos somados com a narrativa lenta mas intrigante explora muito bem a dinâmica e conflitos interpessoais do casal. Desde o primeiro momento o telespectador percebe que algo está incomodando Marie, enquanto Malcolm está tentando descobrir o que é, o casal acaba tendo diversas discussões sobre o filme, o passado e a atual relação. Mágoas e ressentimentos aparecem, da mesma forma que o ego de ambos geram novas feridas e uma fragilidade no casal.


O destaque do filme acaba ficando mesmo com as incríveis atuações de Zendaya e John David Washington. Enquanto a atriz convence como uma mulher amargurada, com um passado sofrido e que busca uma resposta de Malcolm, Washington entrega muito bem um personagem entusiasmado, explosivo e carente. Os atores brilham com seus monólogos, mas a grande cena onde ambos atingem a catarse é a cena da banheira, onde vemos Malcolm se abrindo para Marie e comentando seu passado com outras namoradas e inspirações para seu filme.



Já a direção de Levinson é bem segura, mas o diretor sabe muito bem utilizar o talento dos atores e os monólogos escritos para criar uma forte narrativa e takes longos sem cortes, onde a câmera passeia pelo cenário enquanto os personagens conversam. A cinematografia de Marcell Rév (Deus Branco) e trilha sonora de Labrinth (Euphoria) ajudam a compor muito bem o tom e cenários do longa. A fotografia preto e branco somada a uma casa enorme e “de gente rica” realça a atmosfera e melancolia da trama. E embora o filme escolha utilizar músicas pop para dizer o que os personagens estão sentindo (uma função narrativa porca e desinteressante), o diretor tem a completa noção disso e utiliza a personagem de Marie para fazer um comentário sarcástico sobre isso para Malcolm.


O ato final do filme acaba enfraquecendo a narrativa do longa, visto que os 20 minutos finais do filme são uma repetição de todos os temas e discussões do casal. Embora a conclusão seja interessante e  mostra uma realidade de que todos nós não gostamos de admitir (que estávamos errados e devemos nos desculpar com as pessoas que maltratamos), ela deixa a desejar por estender mais a discussão dos personagens, sendo que as perspectivas dos dois personagens e seus argumentos já haviam sido mostrados.



Malcolm & Marie pode não ser perfeito, mas é um excelente exercício narrativo que tem ótimos diálogos e atuações marcantes que são dignas de premiações. Mesmo com os 20 minutos finais sendo uma repetição de temas e discussões apresentadas ao longo do filme, o longa em nenhum momento se torna chato ou desinteressante, se tornando uma excelente opção para aqueles que gostam de boas atuações e um drama sobre um casal.


Nota: 8.5

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