Eu me importo é uma comédia previsível e que nem sempre funciona, mas possui boas atuações. 

Lançado na última sexta-feira (17/02) na gigante de streaming Netflix, a produção de J Blakeson conta a história da curadora vigarista Marla Grayson (Rosamund Pike) que lidera um esquema para enganar idosos. No entanto, ela acaba aplicando o golpe na mãe de um poderoso magnata que irá tentar a todo custo recuperá-la. 

Primeiramente, é bom ressaltar a estética adotada pela equipe técnica e que se mantem constante durante toda a produção. Não apenas em figurinos e cenários, mas na própria condução da narrativa  - a história contada é exatamente a escolhida pelo diretor (que também assina o roteiro). A proposta, contudo, pode acabar não funcionando com todos os públicos. 

O longa apresenta um humor peculiar e que dificilmente irá lhe arrancar gargalhadas. As escolhas de Blakeson levam a algo bem mais sutil. Dessa forma, a comicidade da trama mora justamente na completa indiferença apresentada por Marla ao praticar os seus crimes. Não há hesitação, remorso ou o que seja da sua parte. A cara de pau da protagonista ao mentir para os idosos é com certeza um dos pontos altos. Todavia, aqui está algo a ser debatido: o que soa como engraçado para alguns, pode ser ofensivo para outros. É importante lembrar que trata-se de uma obra ficcional e que não romantiza os atos de sua protagonista. Nesse ponto, não vejo a produção como potencialmente influenciadora - admirar ou desprezar as atitudes de Marla vai de cada indivíduo.


Talvez o ponto mais interessante da premissa, mas que não é inteiramente abordado, seja a maleabilidade do sistema público de saúde e o quão suscetível este está à corrupção. Talvez por pura escolha narrativa, o diretor não foca em demasia nesse ponto, ainda que exiba de maneira pontual a fragilidade desse sistema. Apesar de inicialmente restringir-se aos Estados Unidos, cabe trazer a reflexão também ao solo brasileiro, vide a persistência da violência contra idosos. 

Isto posto, existe uma queda de qualidade quando descobrimos (lê-se revelado, pois isso já estava claro) o envolvimento de uma máfia por trás da última vítima de Marla (Dianne Wiest, obrigado pela cena no hospital). Daí em diante, a trama segue uma incansável sequência de conveniência de roteiro e situações clichês, sendo que algumas beiram o absurdo. Quer dizer, existe algo mais batido do que membros de gangue abobalhados? Em outro momento, para efeito de análise, Marla sai de uma quase morte e atravessa meio mundo para salvar Fran (Eiza González) - e consegue!
 
Em quesito atuação, Rosamund Pike brilha como a curadora Marla Grayson. Com sua performance consistente, fica claro desde a primeira cena no tribunal que sua personagem é uma pessoa má. Irritante e inegavelmente inteligente, Grayson ganha um bônus pela interpretação de Pike. Eiza González, por outro lado, atua de maneira competente, mas sem grande destaque . A química entre as atrizes é boa, mas como casal não chegam a fazer o telespectador se importar (cof cof) . Além disso, existe muito pouco espaço no roteiro para isso. Já Peter Dinklage entrega um chefe de máfia cômico, embora não intencional. 

I Care a Lot (no original), no fim, se resume a isso: expor uma faceta desconhecida das políticas públicas, atuações consistentes e uma série de cenas genéricas e que acabam tornando-se cansativas. Para uma parte do público, a fórmula talvez funcione, mas para quem esperar algo mais, pode acabar se decepcionando.  

Nota: 6/10

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