Exageros de George Lucas prejudicam o que poderia ser um ótimo filme.

A trilogia prequel de Star Wars é amada e odiada por muitos fãs, especialmente em comparação com a icônica trilogia original. George Lucas assumiu a direção e roteiro dessa nova leva de filmes e 'Ataque dos Clones' contorna alguns equívocos cometidos em 'A Ameaça Fantasma', mas acaba fazendo novos erros na condução da narrativa.

Esse novo capítulo da saga situa-se dez anos após os eventos do Episódio I e mostra que diversos sistemas estelares querem deixar a República. Tais pretensões criam um clima político tenso no Senado Galáctico e quando a Senadora Padmé Amidala (Natalie Portman) sofre uma tentativa de assassinato, o Conselho Jedi envia Obi-Wan Kenobi (Ewan McGregor) e Anakin Skywalker (Hayden Christensen) para protegê-la.

É interessante notar que apesar de apenas três anos entre a produção do primeiro e o segundo filme, é nítido o amadurecimento da trama e dos personagens como um todo. Obi-Wan agora é um mestre respeitado e luta para guiar Anakin para o caminho dos Jedi, mas o jovem é extremamente desobediente. Skywalker dá seus primeiros passos rumo ao lado sombrio da Força quando ignora os ensinamentos da Ordem e apaixona-se por Padmé, uma relação amorosa proibida.

O roteiro de George Lucas e Jonathan Hales tem todas as ideias certas, mas a execução deixa muito a desejar. A relação entre Anakin e Padmé possui momentos fofos, mas a breguice dos diálogos estraga todo o esforço do elenco. Se Shakespeare escrevesse uma peça romântica ruim, o resultado seria a cena em que ambos os protagonistas declararam seu amor com uma eloquência tão falsa que bate aquele sentimento de vergonha alheia. A criação do exército de clones é outra história mau explicada, tornando-se uma mera conivência para ter uma luta emocionante no ato final. Todo o mistério envolvendo Jango Fett (Temuera Morrison) e o Conde Dookan (Christopher Lee) é tão óbvio de perceber que me surpreendeu a burrice/arrogância da Ordem Jedi em juntar os pontos de conexão entre Darth Sidious (Ian McDiarmid) e os clones.

Um ponto que deve ser elogiado é o modo como Lucas começa a desmistificar a Ordem Jedi como fonte de inspiração e sabedoria. São diversos os momentos em que a arrogância deles é palpável, deixando explícito o motivo para sua futura queda. Uma das cenas que exemplificam isso é na parte em que Obi-Wan vai procurar informações sobre o sistema Kamino e não as encontra nos arquivos da Ordem, é então que a responsável pela biblioteca fala que se algo não está nos arquivos, logo não existe.

Tal fala é certeira em mostrar a arrogância dos Jedi em achar que são os conhecedores de toda a verdade. Anakin nesse filme deixou de ser aquele garotinho fofinho e tornou-se um homem cheio de dores sobre seu passado, as habilidades com a Força tornaram o jovem muito confiante e perigoso. A jornada dele é construída para mostrar aos fãs um pouco da dualidade do personagem, ele é uma pessoa que sofreu perdas e sofre desde muito cedo. O único problema nessa abordagem está na atuação fraca de Hayden Christensen, ele faz muitas caras e bocas nas cenas e é pouco convincente em momentos dramáticos. Basta observar a cena em que Anakin conversa com Padmé após matar uma vila de pessoas do Povo da Areia, todo o impacto dramático perde-se na performance fraca do ator.

A trama política é outra bola fora de Lucas, pois em nenhum momento é explicada as razões para que exista um movimento separatista e nem quais são as demandas deles. O roteiro simplesmente ignora isso e coloca a República como a certa da trama, diminuindo muito a discussão política que isso poderia gerar. O humor nesse filme é mais contido que as palhaçadas de Jar Jar Binks (Ahmed Best ) no Episódio I, no entanto, os exageros se fazem presentes mais uma vez na figura de C-3PO (Anthony Daniels) cuja presença é um mero fanservice e em nada agrega para a história.

Outro desserviço é a obsessão do diretor com efeitos digitais, há computação gráfica em quase todos os cenários e isso deixa a película muito artificial. São poucas as cenas em que o público sente que as locações são reais e isso tira a imersão da trama, pois até as batalhas são carregadas de CGI de péssima qualidade na maior parte do tempo. O ato final em Geonosis é legal, mas poderia ser melhor se o diretor usasse mais efeitos práticos para deixar as cenas de ação mais realistas, é nítido quando os personagens lutam contra bonecos de CGI mal feitos.

Para encerrar, devo afirmar que a trilha sonora de John Williams segue impecável nesse segundo filme, sempre deixando as cenas melhores e mais emocionantes. O design de produção dos planetas é muito eficiente, o esforço dos artistas para dar uma característica distinta para cada locação é muito louvável.

'Star Wars: Episódio II - Ataque dos Clones' é divertido, falho e exagerado.

Nota: 5,0

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