A boa e velha dramédia melhor do que nunca!
Traição, mentiras, psicopatia, legítima defesa...O que leva uma mulher a matar? As respostas são diversas, mas certamente algumas dessas palavras devem ter vindo à sua mente. São esses e muitos outros elementos que servem como substrato para a série de hoje: Por que as Mulheres Matam (Why Women Kill).
Criada por Marc Cherry, conhecido pelo aclamado sucesso Desperate Housewives (Donas de Casa Desesperadas, 2004), Por que as Mulheres Matam é uma comédia dramática, em seu melhor estilo novelesco, produzida em 2019 para o streaming da CBS, o CBS All Acess, que chegou este ano ao catálogo do Globoplay e conta com 10 episódios.
A série narra a história de três diferentes mulheres, cada uma em uma linha temporal distinta, que têm em comum o fato de terem vivido todas na mesma mansão e experienciarem de alguma forma a infidelidade em seus casamentos.
"Desde sempre" tramas que narram histórias familiares despertam a curiosidade. Nada melhor do que presenciar situações nas quais você pode se enxergar, chorar junto e dar boas gargalhadas, ainda que muitas vezes elas sejam apresentadas com uma pitada de exagero. Fica melhor ainda quando as mulheres são enfatizadas nesses contextos.
O primeiro arco da história trata de Beth Ann Stanton (Ginnifer Goodwin, Once Upon a Time) e se passa em 1963. Beth Ann é a típica dona de casa da década de 1960, preocupada em agradar o marido 24 horas por dia, a ponto de praticamente se anular, em especial pelo fato de se culpar por uma tragédia do passado, que não só marcou o casal, como também a deixou em maior estado de submissão. Beth Ann descobre que o marido a trai com uma jovem garçonete e acha um jeito pra lá de “exótico” pra tentar acabar com o caso de Rob (Sam Jaeger), tornar-se amiga da amante dele.
Tenho que ressaltar que aqui está meu arco favorito, sem minimizar os outros obviamente. Ginnifer Goodwin ficou conhecida pela série Once Upon a Time (2011), na qual ela interpretava uma das personagens centrais, a Branca de Neve, e devo dizer que sua atuação em Por que as Mulheres Matam é impecável e incrivelmente mais madura. Seu semblante é capaz de falar por si. Acompanhamos Beth se tornar uma mulher mais forte e segura de si, após suas contínuas decepções, mas que ao mesmo tempo vai se afundando em um poço de mentiras, que a tornam cada vez mais dura, fria e calculista. As reviravoltas desse arco são de roer as unhas e prender a respiração! E como é bom assistir ao desabrochar do feminismo!
O segundo arco se passa em 1984, sendo protagonizado pela brilhante Lucy Liu, estrela da série Elementary (2012) e de As Panteras (2000). Ela interpreta Simone Grove, uma mulher rica, exuberante e fútil, que vê seu terceiro casamento arruinado quando descobre a infidelidade de seu marido, que também é seu melhor amigo. É essa a linha temporal que garantirá as cenas mais hilárias, uma vez que Simone arranjará uma forma de se "vingar" de Karl (Jack Davenport) ao se envolver com o filho de sua melhor amiga, um jovem de 18 anos, Tommy (Leo Howard). O timing de humor de Lucy é afiado, o que mostra sua extrema versatilidade e só posso dizer: Lucy, perfeita sem defeitos! Que atuação! Aqui também se concentram os figurinos mais interessantes e coloridos que representam com exatidão a atmosfera oitentista. O desfecho é o mais sensível de todos, sem dúvida, e mostra muito bem que um casamento é muito mais que sexo e que as pessoas podem sim se transformar e aprender a valorizar o que realmente importa.
O terceiro e último arco da trama se passa em 2019. Acompanhamos Taylor Harding (Kirby Howell-Baptiste, Killing Eve) uma advogada bem sucedida e extremamente moderna, que mantém um relacionamento aberto com Eli (Reid Scott), roteirista que há dois anos não produz nada, lida com a dependência química e vive às custas da esposa. Taylor acaba trazendo para dentro de casa um de seus affairs, Jade (Alexandra Dadario, Percy Jackson e o Ladrão de Raios), que é perseguida por um ex-namorado abusivo, e a partir daí o trisal está formado. No entanto, não será fácil uma relação a três, em especial pelo fato de Eli insistir em mentiras e trair a confiança de Taylor constantemente e também porque Jade parecer esconder informações importantes acerca de seu passado.
A princípio me incomodou pensar que eu assistiria simultaneamente três histórias paralelas, mas logo meu receio caiu por terra, dada a fluidez com que isso é feito. A edição é muito bem realizada e o roteiro traz uma história rica o suficiente para você se interessar em assistir a jornada de cada uma de suas protagonistas e se envolver emocionalmente com todas elas.
As três histórias são contadas de forma entrelaçada tendo sempre no início de cada episódio algo que nos instigue a tentar descobrir quem essas mulheres matarão e o porquê. Serão os maridos, uma vez que motivos não faltam, ou outros personagens que cruzam suas vidas?
Desde o primeiro episódio você é capturado pelo ritmo ágil do enredo. Embora conte com um elenco incrível, uma das poucas coisas que me incomodou é que no arco de Taylor, Eli é quem ganha mais o enfoque e protagonismo, o que é uma pena, já que Kirby Howell-Baptiste é uma atriz fantástica que me pareceu subutilizada e poderia ter tido uma personagem muito mais densa. Alexandra Dadario também não está na melhor de suas atuações. Acho que a dissimulação de sua personagem poderia soar menos caricata, pra render assim um plot mais emocionante e menos previsível. Acaba que essa linha temporal é a menos empolgante das três, por ser de fácil leitura, mas de modo algum ela é desinteressante.
Os figurinos são incríveis e acabam por contribuir com uma fotografia linda, rica em cores e contrastes. O último episódio atinge seu ápice ao coexistir as três linhas temporais em uma mesma cena de uma maneira extremamente artística e de estética deslumbrante. Resumindo, a cena é simplesmente MARAVILHOSA.
A série faz rir e emociona ao mesmo tempo, sobretudo ao trazer à tona temas importantes como o luto, traição, machismo, violência doméstica, homofobia e sexualidade. Sua segunda temporada está confirmada, embora seus desfechos coesos indiquem um rumo totalmente diferente para sua sequência. Se ainda não assistiu, só digo: tá esperando o quê?
Nota: 9,0
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