'O Clube das Winx' foi uma série de animação italiana que foi exibida pelo SBT nos anos 2000, fazendo parte da infância de muitas crianças dessa geração. A trama contava a história de um grupo de amigas que lutavam contra forças do mal e se transformaram em fadas embaladas por músicas dançantes e visuais cheios de glitter. Quem aí não lembra da abertura com a música tema das Winx ?
Pois bem, a versão live-action produzida pela Netflix não tem absolutamente nada haver com a proposta da animação ainda que mantenha certos elementos para dar um fanservice para os fãs. A trama dessa nova saga das Winx é focada nos terrores da adolescência e possui um tom mais "adulto", mesmo que recheada de clichês presentes em séries teen da atualidade. Composta por seis episódios, a trama inicia-se no primeiro dia de aula de Alfea, uma escola de magia localizada numa dimensão "mágica" que ensina fadas e guerreiros à serem fortes para lutar contra forças do mal.
A protagonista principal é Bloom (Abigail Cowen), uma fada recém-descoberta pela diretora Farah (Eve Best) que possui poderosos poderes relacionados ao fogo. Logo de cara, já dá para perceber a jornada de cada um dos personagens apresentados na série. O roteiro é tão sem imaginação que cada estereótipo de adolescente apresentando é levado de cabo a rabo pela narrativa até o final. Bloom é a típica adolescente que busca por uma identidade, Musa (Elisha Applebaum) só quer ficar calada em seu canto, Stella (Hannah van der Westhuysen) é a bad bitch, Aisha (Precious Mustaphar) é a nerd e Terra (Eliot Salt) tem dificuldade para se enturmar por ser insegurança sobre a aparência.
Cada um delas é apresentada assim e ainda que haja uma desconstrução de certos estereótipos, continua sendo aquele clichê previsível feito melhor em outras produções. Tais clichês são ordinários de fato, mas funcionam dentro da história, deixando os personagens com dilemas credíveis para que o público sinta uma mínima empatia por eles. Existem três núcleos de narrativa nessa trama, o primeiro envolve os dilemas da convivência escolar entre os jovens, o segundo é o grande mistério que envolve a origem de Bloom e o terceiro é a luta contra entidades do mal chamadas de Queimados.
Desses núcleos, dedica-se muito tempo na construção dos dois primeiros enquanto que a ameaça principal é subtutilizada pelo enredo a não ser quando há a necessidade de fazer um suspense previsível. A direção da série é outro problema, as cenas são muito apressadas dando a impressão de que os responsáveis não entendem que alguns momentos necessitam de uma duração maior para que o espectador se envolva com a situação e os personagens.
Um bom exemplo dessa pressa é perceptível no episódio piloto, um homem sai de sua casa em busca de uma ovelha perdida e entra num local perigoso para procurar. Esse é um momento que pediria uma tensão palpável e a construção de uma atmosfera de suspense que deixasse o espectador apreensivo, mas ao invés disso, temos uma abertura de um episódio ruim de 'Arquivo X' onde os ângulos de câmera são amadores.
Esse amadorismo se faz presente em outros aspectos da trama. Alfea é uma versão cospobre de Hogwarts, tudo é sem imaginação e mais importante barato de se fazer. Acredito piamente que o orçamento baixo da série é o maior responsável pela falta de grandes sequências de ação, os cenários genéricos e a ausência de efeitos visuais complexos para cenas de magia mais interessantes.
Para um mundo "mágico", a dimensão conhecida como "Outro Mundo" é descaradamente uma cópia da nossa realidade com direito à referências de obras famosas da cultura pop e redes sociais como Twitter, Instagram e etc. Como todos esses elementos existem num mundo que em teoria é diferente, a série não quer explicar e nada faz o mínimo sentido. Esses elementos modernos são usados para dar uma certo realismo ao enredo, mas só fazem piorar a já precária lógica do roteiro.
As atuações do elenco até que não são ruins, porém o texto não ajuda. Todos os atores do núcleo dos Especialistas são péssimos, fica claro que o critério para a escalação foi ser o mais padrão de beleza possível, pois atuação é quase nula. As atrizes que interpretam as fadas são bem melhores com o destaque ficando para as intérpretes de Aisha e Stella que fazem o possível para extrair o melhor do material entregue. Porém, devo reclamar do uso da Aisha na história, pois ela vira a amiga negra da protagonista que não tem arco próprio e é usada como escada do roteiro para impulsionar a jornada de Bloom.
A ruiva é a típica protagonista de séries teen que busca a verdade por trás de sua origem e tem problemas com a mãe por sua personalidade introvertida. Um detalhe curioso é que tal "reclusão" da personagem é ignorada pelos roteiristas em diversas ocasiões como no episódio da festa, onde a jovem interage e bebe socialmente como se sempre fosse a tais eventos, sendo que dois episódios antes a mesma afirmara que brigava com mãe justamente por não querer ser sociável.
Por mais que o roteiro não seja dos melhores, o mistério da origem de Bloom e a conspiração sobre os Queimados são engajantes o suficiente para manter o público interessado na história. Os plot-twists são bem pensados e levam a trama para uma nova direção, ainda que não sejam tão sutis quanto poderiam. O clímax do episódio final é apressado e fraco por conta da já citada falta de orçamento, decepcionando quem esperava alguma cena de ação finalmente empolgante.
'Fate: A Saga Winx' é genérica, mas entretêm o suficiente para uma primeira temporada.
Nota: 5,0
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