"O Segredo: Ouse Sonhar" é aquele filme "legalzinho" de Sessão da Tarde, que peca por não dar sutileza às mensagens e mais parece uma palestra motivacional.

Só existem duas formas de se viver. A primeira é como se nada fosse um milagre, a segunda é como se tudo fosse um milagre”. Sob essa premissa surge O Segredo: Ouse Sonhar (The Secret: Dare to Dream), um filme com direção de Andy Tennant que é construído a partir de um dos maiores best sellers de autoajuda de todos os tempos, O segredo de Rhonda Byrne.

Se você nunca leu O segredo, o livro trata da Lei de Atração. Segundo essa lei, tudo que somos é fruto dos nossos pensamentos. Se pensamos em coisas boas, tendemos a atrair coisas boas para a nossa vida. Em contrapartida, se são os pensamentos negativos que mais ocupam a nossa mente, a tendência é que coisas ruins aconteçam ao nosso redor. Não é uma tarefa fácil, já que não dá pra ser realizada mecanicamente ou de maneira tendenciosa, contudo deve ser praticada até que se torne um comportamento inato que refletirá em sua qualidade de vida. Entre relatos de experiências interessantes e comoventes, a mensagem transmitida é a de que temos que nos concentrar no que queremos e não no que não queremos, o que parece óbvio, mas é pouquíssimo realizado em um mundo essencialmente pessimista. O mais legal é que a abordagem não se apoia no cunho religioso, sendo apresentada inclusive de um ponto de vista físico e da neurociência.

É a partir desse contexto que nasce a história de Miranda Wells (Katie Holmes, Boneco do Mal 2), viúva e mãe de três filhos. Ela está atolada em dívidas e sente que as coisas seguem sempre ladeira abaixo em sua vida. Falta dinheiro para atender os desejos dos filhos e ela precisa abrir mão até mesmo de cuidar de sua própria saúde, já que por mais que trabalhe exaustivamente no restaurante de seu namorado Tucker (Jerry O’Connell), ela nunca consegue dinheiro o suficiente. Pra piorar ainda, um terrível furacão está prestes a chegar à cidade e Miranda não sabe se sua casa será capaz de suportar a tempestade. Sua sogra Bobby (Celia Weston) tenta convencê-la de que um novo casamento pode ser sua tábua de salvação, porém valeria mesmo a pena, uma vez que Miranda não tem certeza sobre os sentimentos que nutre por seu atual namorado?


Sua vida começa a mudar da forma mais improvável possível, quando um dia ela colide contra um carro, devido a uma pequena distração. De forma inesperada, o motorista Bray Johnson (Josh Lucas, Ford vs Ferrari) é bastante solidário e se oferece para ajudá-la mesmo não sendo culpado pelo acidente. Miranda acha estranho, por não estar acostumada a receber ajuda, no entanto, é impossível não se render ao carisma daquele homem misterioso, que curiosamente tinha ido mais cedo a sua casa para entregá-la um envelope, só que ela não estava na ocasião. Ao reparar tal coincidência, ele prefere guardar um pouco mais essa informação, por um motivo que ele mesmo não compreende em sua totalidade. O segredo desse envelope é o cerne do enredo.


O contato entre os dois não se encerra ali, visto que ele logo sente o quanto aquela família está cercada por desesperança e, de alguma forma, a presença dele passa para Miranda um conforto que ela não sente desde a perda de seu marido em um trágico acidente aéreo. Em uma convivência mesmo que breve, ele começa a ensinar a aquela família o quanto devemos ter cuidado, porque recebemos exatamente aquilo que esperamos.

O longa traz um roteiro que lembra muitos os romances de Nicholas Sparks, como Noites de Tormenta e Um homem de sorte. Ele navega num drama mais reto e dentro da zona de conforto, sem grandes reviravoltas, embora ainda assim consiga ser tocante. Não é um filme ousado e muito menos daqueles que você chora compulsivamente, mas causa alguns embargos, faz refletir e nos encoraja a aplicar essa lição em nossas vidas, até porque não faz mal praticar o pensamento positivo.

Katie Holmes consegue construir uma protagonista realista e que é gente como a gente. Conseguimos sentir o fardo daquela mãe, ainda que sua interpretação esteja longe do brilhantismo. Seu figurino e maquiagem, ou melhor a ausência da mesma, dão o realismo requisitado a personagem. Sua relação com os filhos Missy (Sarah Hoffmeister), Greg (Aidan Pierce Brennan), Bess (Chloe Lee) é plausível e fácil de gerar afeição.

Josh, por sua vez, esbanja um carisma irresistível e é simplesmente impossível não se apaixonar prontamente pelo seu personagem. E é justamente aí que situa-se um dos pontos fracos do filme, que é a construção de um protagonista sem defeitos e com um otimismo inabalável, que acaba por trazer incredulidade a trama. Em certos momentos, o roteiro não coopera o suficiente, e Bray apresenta falas prontas e frases de efeito que fazem ele mais parecer um palestrante motivacional. A situação só não fica pior graças ao talento de Josh.

A transição de cenas também não é das melhores se apoiando naqueles jargões novelescos para fazerem o segredo render até o último terço do filme.

Mesmo com algumas inconsistências, valorizo sempre um romance mais maduro nas telinhas, que faz refletir, e com um casal bem fofinho. Como amante do gênero, indico, só não precisa colocar na sua lista de prioridades, já que é apenas um drama romântico na média!


Nota: 6,5

 

 

 

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