"The Morning Show" é daquelas séries que você não tira o olho da TV e maratona sem sentir!
A primeira produção da Apple TV+ não
poderia ser melhor. The Morning Show
é uma série dramática estrelada por ninguém menos que Jennifer Aniston, Reese
Witherspoon e Steve Carell. Inspirada no livro Top of the Morning: Inside the Cutthroat World of Morning TV, do jornalista Brian Stelter, o drama chegou à plataforma em novembro do ano passado.
O
assunto não poderia ser mais atual. Em tempos em que escândalos de assédio
sexual emergem, não só é apropriado como se faz urgente trazer o tema à tona,
ainda mais quando se tem como plano de fundo os bastidores da TV. O showbiz definitivamente
não só emana deslumbramento, como também obscuridade, prova disso se faz no
escândalo que envolveu o criador e CEO da Fox News que ocupou todos os
tabloides. E esse é apenas um de inúmeros exemplos reais, infelizmente.
A série mostra os bastidores de um noticiário cujos âncoras são Alex Levy (Jennifer Aniston, Friends) e Mitch Kessler (Steve Carell, The Office) que têm a parceria de 15 anos à frente do matinal interrompida devido a denúncias de assédio e má conduta sexual por parte de Mitch, que acabam por estampar todos os jornais. A demissão do apresentador se torna inevitável e isso impacta diretamente na rotina do programa que precisa se reformular o mais rápido possível, colocando inclusive em risco a permanência de Alex que precisará de se reinventar e jogar pesado se quiser continuar na bancada.
Na busca por uma nova cara para estampar o programa matinal e distanciar a má imagem da emissora, Bradley Jackson (Reese Witherspoon, Big Little Lies) parece uma ótima opção, principalmente após um vídeo dos bastidores de uma manifestação que ela cobria viralizar na rede. A repórter do interior está longe de ser um robô repetidor de teleprompter, entretanto. Ela é ousada, por isso tem dificuldade em seguir roteiros engessados, quer ser reconhecida por sua imparcialidade e ao mesmo tempo por seu senso de justiça. Bradley quer sobretudo fazer jornalismo de verdade, contar histórias que importam, não interessando o dinheiro por trás disso. Sua jornada não será fácil, uma vez que colidirá com Alex que, por estar há muito tempo a frente do noticiário, está habituada a seguir regras sem questionar, ou até mesmo estabelecê-las.
A série navega no estilo de The Newsroom, da HBO, que mostrava também os bastidores de um noticiário, embora esta com cunho mais político. É interessantíssimo acompanhar o que ocorre por trás das câmeras, desde as partes mais técnicas e burocráticas, mas especialmente as "tretas". The Morning Show já de início mostra Mitch tentando se defender das acusações de assédio, no entanto, ao longo dos episódios por meio de flashbacks assistimos de fato como aconteceu, e então não dependemos apenas das versões contadas pelas duas partes, apesar de que a fala dos personagens já é mais do que suficiente para que façamos o nosso juízo.
Como boa parte dos assediadores, Mitch usa a tese da relação consensual e demonstra não compreender a gravidade de suas atitudes movendo mundos e fundos para provar uma inocência inexistente. Enquanto isso, muitas questões vão sendo levantadas no decorrer dos dez episódios, como por exemplo até que ponto os demais integrantes da equipe do programa tinham ciência dos fatos e se calaram, ou seja, foram coniventes com esse ato inescrupuloso, e isso inclui a própria Alex Levy. Carell domina o drama como ninguém. E ele encarna tão bem o papel, que é fácil odiá-lo e ter nojo de suas atitudes.
A história mostra de forma contundente como o meio televisivo ainda é extremamente machista e misógino. Como os principais cargos são geridos por homens, as mulheres sofrem todos os tipos de importunação sexual possíveis, sendo manipuladas a tomarem certas atitudes, uma vez que se torna a única via passível de permitir o avanço de suas carreiras.
O medo de perder o emprego e da forte articulação que homens poderosos podem fazer com a carreira de uma mulher a ponto de arruiná-las por completo, as silencia e faz com que boa parte seja condescendente com tais atos criminosos. A cada episódio fica muito claro que se uma pessoa se aproveita de sua condição superior no trabalho para manter relações com um(a) colega, isso é assédio sim!
É como dizem... esse tipo de crime é o único em que a vítima tem que provar a inocência, e não o contrário.
Jennifer Aniston está em um dos melhores papéis de sua vida e é o grande nome da série que lhe rendeu a indicação ao Emmy e vitória no SAG Awards. Rotulada por muitos como uma atriz de comédia, aqui ela prova com destreza a que veio. Alex é uma apresentadora talentosa, que sabe que a idade pode tirá-la dos holofotes, mas ela é extremamente calculista e sabe bem como virar o jogo a seu favor e está longe de ser a candura que aparenta em frente as câmeras. Por anos ela colocou o emprego a frente de sua família e casamento, e agora o risco de perder sua carreira é simplesmente estarrecedor. A personagem de Bradley mexe com suas estruturas de caráter e quem sabe trará de volta alguém que possivelmente se perdeu no caminho turbulento do sucesso.
Reese Witherspoon também está fantástica e é como se ela preparasse o terreno pra Jennifer brilhar, sem conflito de egos. E como isso reflete positivamente na trama! Bradley Jackson é o oposto de Alex. Vem de uma família complicada e carrega consigo aquela vontade de mudar o mundo através de sua profissão. No entanto, ela vai ter que dosar o temperamento explosivo se quiser permanecer no posto. Às vezes é necessário dar um passo para trás, para dar dois a frente, como diz o ditado.
A troca de farpas entre as duas é formidável no folhetim. Os diálogos rápidos e intensos são um espetáculo garantido. Destaco ainda o elenco de apoio que, sem dúvida, é mais uma razão do sucesso da série. O final é extremamente impactante, daqueles que você precisa de tempo para se recuperar e digerir. É daquele tipo de série que você conta as horas para segunda temporada.
Aproveito pra dizer que a segunda temporada está sendo gravada e explorará a pandemia da COVID-19. Não posso estar mais ansiosa! Assista!
Nota: 9,0
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