Amor com Data Marcada é uma aposta simples e divertida da Netflix para abrir a temporada de filmes natalinos.
Ahhhhh o Natal! Um dos feriados mais amados do ano, por suas cores, simbolismo e mensagens positivas, nunca passa batido pela indústria cinematográfica. Todos os anos, conforme se aproxima o mês de outubro, começam a chegar as produções com esse clima bem “Jingle Bells”, água com açúcar, que a gente debocha, mas no fundo não vive sem. Os filmes que integram essa categoria, não são lançados pra serem do estilo cult, ou dramáticos demais. Eles têm uma missão mais simples a cumprir, que é trazer suavidade após um ano desgastante (2020 que o diga) e nos reconfortar. Partindo desse pressuposto, um dos gêneros quase que consagrados para esse período são as sempre bem-vindas comédias românticas.
A obra da vez da Netflix, que
esta semana tem mantido o primeiro lugar do Top 10 brasileiro, é Amor com Data Marcada. O nome original
do filme é Holidate, que nada mais é
do que um trocadilho feito a partir da junção da palavra holiday, que significa feriado em inglês, com a palavra date, que significa encontro. Esse termo diz muito sobre o enredo
do filme. O brasileiro, como não tem limites, criou seu próprio trocadilho para
usar no lugar de holidate, por isso
durante o filme não se surpreenda quando se deparar com o exótico termo
ferigato/ferigata. Um pouco ridículo? Sim. Mas vamos ao que realmente interessa!
O longa conta a história de Sloane
(Emma Roberts) uma jovem que passou por um término de namoro doloroso e que
sofre o que muitas outras garotas solteiras certamente encaram no dia a dia (eu
me identifiquei inclusive), que são os famosos constrangimentos impostos em
reuniões familiares. Em todo feriado, quando a família se encontra, é sempre a
mesma ladainha e interrogatório: “E aí arrumou alguém?” “Assim você não vai
conseguir casar!”, dentre outras perguntas e comentários indiscretos e
completamente desnecessários. A família reflete, portanto, uma pressão social
patriarcal, na qual se pressupõe que a mulher só pode ser feliz na companhia de
um homem e nunca sozinha. Pra piorar a situação de Sloane, o irmão caçula dela,
York (Jake Manley),
propõe casamento à namorada Liz (Cynthy Wu) durante o jantar de Natal, e como a sua irmã mais velha,
Abby (Jessica Capshaw), já
é casada, o fardo de ser a única solteira da família, recai completamente sobre ela.
Do outro lado, temos Jackson (Luke Bracey), que também carrega frustrações de um relacionamento ruim e é o típico cara que, por conta disso, não quer se envolver e, ainda por cima, acha boa parte das mulheres lunáticas. Como a família dele reside na Austrália, seu objetivo é encontrar uma parceira com quem ele possa passar os feriados, e assim não ficar solitário, mas sem que essa mulher crie expectativas de compromisso, casamento e similares.
Essas duas histórias complementares finalmente se esbarram num shopping. Logo que os dois se conhecem, a troca de farpas é imediata, reflexo de duas personalidades fortes, e em pouco tempo Jackson propõe a Sloane uma espécie de pacto de Holidate. Os dois seriam um a companhia do outro nos feriados. Então não haveria cobranças familiares, nem compromisso sério ou vínculos afetivos. Obviamente, como em toda comédia romântica, nem sempre o plano sai como desejado e é a partir disso que a história se desenrola.
O roteiro é bastante previsível, algo totalmente permitido quando falamos dos filmes feitos para o Natal. Um bom clichê tem seu lugar, sim! Portanto, vou analisar os três pilares fundamentais do gênero: o romance, a comédia e a mensagem.
Quanto ao romance, o casal tem uma química inquestionável. Já conhecia o trabalho de Emma, que atuou na TV em várias temporadas de American Horror Story, e ela entrega um resultado ótimo. Encarna bem aquela clássica mulher orgulhosa e cabeça dura, que no fundo é extremamente sensível, embora crie uma espécie de escudo pra novas experiências e acaba por não externalizar de fato o que sente. O ator australiano, Luke Bracey, participou recentemente da série Pequenos Incêndios por Toda Parte e lá já constatei o seu talento e versatilidade. Ele interpreta muito bem o cara que posa de superficial, mas quando se envolve, quer o pacote completo. O casal funciona bem, você torce por eles e devo dizer que o timing de humor de ambos é afiado, preciso e de fato se configura como a engrenagem do filme.
A comédia torna o longa bem agradável de ser assistido. Mesmo apresentando seus momentos mornos, tem três cenas que eu considero como os ápices, ou seja, aquelas cenas onde você acaba rindo alto, sem se comedir. Divirtam-se com a cena da festa de ano novo, ao som do clássico de Dirty Dancing, a cena do acidente com explosivos e, por fim, o retorno para casa após a festa à fantasia. Vale ressaltar que a duração do filme é certeira, resultado de um roteiro dinâmico que não dá espaço para enrolação.
Se há um problema a ser mencionado em Amor com Data Marcada pra mim é a mensagem. O filme inicialmente tenta vender o posicionamento de que a mulher pode ser feliz sozinha, de maneira independente, o que é a mais pura verdade e uma temática essencial de ser discutida. Entretanto, a protagonista em nenhum momento acredita realmente nisso, e só fala isso da boca pra fora. Consequentemente, o resultado é você se deparar com um contexto onde na verdade a mulher solteira é apresentada em uma condição de solidão e completamente sem rumo e infeliz.
Acho que um assunto essencial e delicado como esse poderia ter sido tratado com um pouco mais de maturidade e ousadia. Ao direcionar o relacionamento como a única válvula de escape para a felicidade, o empoderamento do qual o filme tenta se apropriar é jogado no lixo.
Mesmo com uma mensagem esvaziada, não dá pra menosprezar os acertos do filme. Por isso, assista e desfrute do humor agradável e leve de Amor com Data Marcada, porém sem esperar nada muito além disso.
Nota: 7,0
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