Guy Ritchie entra no mundo dos espiões com boas ideias, mas uma péssima execução.


Sinopse: Durante a Guerra Fria, um agente da CIA e um agente da KGB decidem unir forças para se infiltrar em uma organização criminosa e perversa que planeja usar armas nucleares para acabar com o equilíbrio do poder.

O Agente da U.N.C.L.E é um filme de espionagem baseado na série de mesmo nome dos anos 60, nota-se de longe que é um projeto com uma execução visual interessante e possui bons nomes no elenco. No entanto, por mais que seja um filme divertido, sofre com um péssimo roteiro que não sabe o que fazer com os personagens e ironicamente parece um piloto de uma série de TV com um orçamento mais robusto. É um filme de origem que busca tentar revitalizar essa franquia de espiões, mas tem sérios problemas de lógica, desenvolvimento de personagens e humor.

Em primeira instância, vale destacar que o elenco é bom e faz o que pode com o texto limitado. Henry Cavill interpreta Napoleon Solo, um espião da CIA que trabalha a contragosto e tem um gosto refinado para roupas e comida. Ele tem um charme ao estilo James Bond e parece ser muito esperto para sair de situações complicadas, porém é extremamente mau desenvolvido pelo enredo com seu background como ladrão sendo pouco explorado e suas habilidades como espião sendo sabotadas pela falta de lógica do roteiro. É sabido que filmes de espionagem não são conhecidos pela verossimilhança com a realidade, mas esse aqui abusa da suspensão de descrença do público.

São vários os momentos nos quais os personagens tomam decisões totalmente arbitrárias em termos de logística apenas para criar uma tensão barata e um senso de camaradagem para lá de forçado num primeiro momento. Por exemplo, em determinada cena, Solo descobre que seus companheiros estão sendo seguidos e sendo o mais óbvio possível, vai falar com eles num local extremamente público com os inimigos podendo estar vigiando. Esse é um dos vários erros de lógica gritantes do roteiro de Guy Ritchie e Lionel Wigram. Outro grande problema está no comportamento dos protagonistas, é dito que tanto Solo quanto Kuryakin (Armie Hammer) são os melhores agentes da CIA e KGB, só que durante a projeção, isso é totalmente esquecido com eles agindo de modo amador e sendo excessivamente emotivos, fugindo totalmente do que se espera para os melhores agentes do ramo.


O filme até tem um tom levemente satírico, todavia, isso não é desculpa para infantilizar os personagens, tendo em vista que é um filme de espiões com gostos mais “refinados", um humor mais inteligente teria sido mais assertivo. Se com Solo, os desenvolvimento é ruim, com Illya Kuryakin é ainda pior. Esse personagem é o arquétipo estadunidense de espião russo, parece ter força sobre-humana, é mau humorado, quer resolver tudo na violência e óbvio é tido como “estúpido”. A história dele é interessante, porém ao invés de focarem nessas questões mais íntimas, Ritchie tenta forçar um romance dele com Gaby Teller (Alicia Vikander), relação essa que não funciona. A química de Hammer e Vikander é boa, mas o texto não sabe como trabalhar a atração deles de forma orgânica, tudo fica na base de pequenos gestos apressados e algumas cenas até legais, mas que não são suficientes para convencer o público.

Gaby Teller é um caso um pouco mais interessante, pois ela é astuta, bem-humorada e inteligente. O problema do desenvolvimento dela está justamente no romance mencionado anteriormente, caso isso fosse removido, teria um espaço maior para trabalhar as dubiedades da personagem. Em termos interpretativos, Vikander é funcional. Os vilões da trama são os mais genéricos e bobos possíveis fazendo jus ao resto do filme, Elizabeth Debicki interpreta uma magnata nazista que deseja dominar o mundo e todos os clichês que se possa imaginar com essa premissa.

No que tange à parte visual, o longa acerta bastante. Todos os cenários, figurinos e acessórios tem a vibe de espionagem clássica com o design de produção emulando bem os diferentes locais por onde eles passam como Berlim Oriental (mais apagada visualmente) e a Itália cheia de vida, monumentos históricos, arte e cores vívidas. A fotografia de John Mathieson usa tons mais lavados em cenas noturnas e sempre com uma iluminação bem clara nas cenas diurnas. As cenas de ação são legais, há um bom uso da imaginação na criação de combates interessantes, mas há menos ação do que poderia ter, as cenas são muito confinadas à determinamos espaços, boicotando o potencial de adrenalina ali existente. Por último, vale ressaltar a boa trilha sonora de Daniel Pemberton e a ótima escolha musical para algumas cenas, sem dúvida, foram momentos que tornaram o filme mais divertido.

O Agente da U.N.C.L.E é divertido, mas ainda sim, decepciona em quase tudo que uma boa história exige.

Nota: 4,0

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