Versão moderna do famoso conto dos Irmãos Grimm tem um excelente visual, mas um roteiro medíocre desperdiça a chance de fazer algo memorável.


Sinopse: Versão do conto de fadas em que o caçador enviado pela Rainha Má para matar sua bela enteada, Branca de Neve, torna-se seu protetor e mentor, ensinando-lhe a arte da guerra para enfrentarem as forças reais junto com os 7 anões e os seres da floresta.

Branca de Neve e O Caçador é o primeiro longa metragem dirigido por Rupert Sanders e conta uma versão reimaginada da famosa história de Branca de Neve, mas com uma narrativa e visual bem mais sombrios. Se por um lado, o diretor sabe construir cenas visualmente belas, por outro é nítido que não soube extrair boas atuações do elenco, pois os atores além de caricatos em suma maioria, parecem aborrecidos por estarem ali.

A trama tem início com um breve resumo da infância de Branca de Neve e nos mostra desde a morte de sua mãe até os eventos que elevaram a Rainha Má ao trono de seu reino. Essa primeira metade tenta emular a composição de conto de fadas com um narrador contando os eventos e muita exposição barata. Por exemplo, em certos momentos, ele nos diz o que está acontecendo sendo que já estava bem claro, isso faz com que o filme subestime a inteligência do espectador.

Após isso, a trama avança no tempo e é aí que os problemas começam. É mostrado que Branca de Neve ficou vários anos presas numa torre e durante esse tempo a Rainha Má conhecida como Ravenna desolou todo o reino com sua maldade e ambição. Todo essa situação é contada de maneira apressada com o roteiro forçando situações que favorecem a protagonista o tempo todo, mas emburrecendo os demais personagens.

Se Ravenna queria o coração de Branca de Neve, por que não ir logo a torre onde ela estava presa e resolver a situação lá ? Mas não, o roteiro força situações bastante improváveis e coloca tudo na conta de uma entidade superior quando a personagem principal precisa de ajuda. Se ela precisa fugir, tem um cavalo à sua espera. Se precisa de ajuda para chegar à algum lugar, surge alguma alma bondosa para levá-la ou dar abrigo. Como se esses problemas já não fossem ruins, os personagens são muito mau escritos com uma exceção que pontuarei mais a frente.

Branca de Neve é basicamente uma jovem que é bonita e apenas isso. Não há um desenvolvimento de personagem, ela passa anos presa numa torre e não tem nenhum tipo de trauma ou problemas para se relacionar. Quando o roteiro quer reiterar a importância dela na derrota do mal, bota tudo na conta de uma predestinação pra lá de conveniente. A situação só piora com a péssima atuação de Kristen Stewart que não sabe como expressar nenhuma emoção e se limita a falar de um modo artificial que não passa inspiração de qualquer tipo. Em certa cena, ela faz um discurso que quase me fez desligar a TV, porque além dos diálogos serem péssimos, ela não sabe dizer de um modo que fique aceitável.


O Caçador interpretado por Chris Hemsworth é outro que sofre com péssima escrita. É estabelecido que ele virou uma pessoa amarga após a morte trágica de sua esposa, porém esse recurso narrativo só é usado quando o roteiro quer criar intrigas baratas. No resto do filme, ele banca a pose de herói relutante e nem isso funciona porque a atuação de Hemsworth é apática demais. Ele sempre faz um olhar de tédio e não demonstra nenhum tipo de sagacidade nem nas cenas mais irônicas.

A melhor personagem do filme é a Ravenna interpretada por Charlize Theron. A personagem funciona, pois mesmo com o roteiro fraco, a atriz consegue trazer uma profundidade para a personagem com uma postura de alguém que está em conflito com olhares que denotam uma alma sofrida, mas que não consegue conter sua ambição. Um fato interessante é que há um simbolismo estabelecido na história no qual Branca de Neve e Ravenna são dois lados da mesma moeda, luz e trevas. O problema disso reside no fato de que a parte da luz não tem um bom tratamento por parte dos roteiristas sendo apenas mais um caso de estabelecer pureza como algo bom, mas sem dar uma profundidade para o personagem portador dela.

Por mais que a trama seja ruim, esse filme tem um dos melhores visuais produzidos nesse gênero. Os figurinos de Coleen Atwood tem um excelente design e possuem um destaque na história com as cores que cada personagem usa refletindo seus respectivos estados de espíritos. Por exemplo, a Rainha Má sempre usa roupas com tons mais escuros para dar realce a sua personalidade sombria enquanto que o Caçador está sempre sujo como se não conseguisse lavar seus pecados.

A direção de Rupert Sanders consegue imprimir um bom ritmo na narrativa e trazer cenas com um bom impacto visual. Nota-se de longe que ele é um diretor mais estético, seu grande problema talvez tenha sido sua inexperiência em longas metragem. As cenas de ação são corretas, possuem uma boa coreografia na maioria do tempo e não há muitos cortes.

O aspecto técnico que mais se destaca é o excelente trabalho de CGI com as diferentes criaturas tendo um design assustador e com uma computação gráfica bem feita. As cenas na Floresta Negra e no Reino das Fadas são ótimos exemplos do empenho técnico da equipe de efeitos visuais para dar uma personalidade diferente para cada local ao mesmo tempo em que mostravam a fauna e flora que vão desde trasgos a fadas carecas.

Branca de Neve e O Caçador é um filme cheio de defeitos, mas que serve bem para uma diversão mais descompromissada.

Nota: 4,5

Publicado por: Matheus Eira
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