Foi em 2012, no primeiro filme dos Vingadores, que vimos Thanos pela primeira vez no Universo Cinematográfico Marvel. Foi uma cena pós-créditos curta, na qual o Titã Louco vira sua cabeça, olha para a câmera e então sorri. Desde então, tivemos duas aparições ocasionais dele, uma em Guardiões da Galáxia e outra em Vingadores: Era de Ultron, e sempre tivemos menções e aparições das Joias do Infinito. Estava claro que Thanos era o grande vilão desse primeiro capítulo do MCU, chamado de Saga do Infinito, pois eles estavam construindo esse mistério em torno dele e nos fazendo ficar ansiosos para o embate Vingadores e Thanos. Joss Whedon tinha dito que nunca estava nos planos usar Thanos como vilão do segundo filme dos Vingadores, pois ele era “o mestre soberano da vilania e destruição”. Era ele, que tinha o nome derivado de Thanatos, o deus da morte na mitologia grega, que precisava ser a principal ameaça. A espera de ver esse maníaco roxo que é a personificação da malignidade finalmente em ação valeu a pena porque nesse filme vemos o melhor antagonista de todo o MCU. Em sua base, Vingadores: Guerra Infinita é um ótimo filme do Thanos.
Apesar de ser com certeza o ponto alto do filme, Thanos não foi a única coisa que esse filme trabalhou de forma certeira. As cenas de ação, trunfo dos Irmãos Russo, são dinâmicas, divertidas e parecem que saíram de uma splash page. Não há como um fã de quadrinhos não sorrir vendo o espetáculo que é a sequência em Titã, com todos os personagens usando seus poderes e habilidades variadas. Tony com a tecnologia de sua armadura, Doutor Estranho usando magia, Homem-Aranha se balançando com suas teias, todos combinando poderes para tentar derrotar o Thanos. É um momento que passa rápido e que é um deleite de se assistir.
O tom e a atmosfera desse filme também são o que o tornam tão peculiar entre os outros filmes da Marvel. O senso de urgência, o perigo iminente, tudo isso o torna tão diferente, e destrói o argumento de que o MCU segue uma fórmula em tudo que faz. Os filmes anteriores dos Vingadores são inspiradores, aqui pelo final você é deixado depressivo. E é claro que o resultado só podia ter sido aquele, pois como parar o ser mais poderoso do Universo de se tornar ainda mais poderoso?
As atuações nesse filme também estão acima do nível da das produções anteriores. Zoe Saldana entrega sua melhor performance aqui como Gamora, principalmente na cena do sacrifício, que é fenomenal. As discussões entre Tony e Stephen só funcionam por causa das atuações de Robert Downey, Jr e Benedict Cumberbatch e Thanos só tem o apelo que tem por causa de Josh Brolin, ainda mais com aquela voz e postura que deixam o personagem ainda mais intimidante. E é claro, Tom Holland dá um show em sua cena final, que é o momento mais impactante do longa.
Os efeitos especiais também não deixam a desejar. São críveis, ainda mais quando se trata do Titã Louco, com suas microexpressões e pequenos detalhes que te fazem esquecer que tudo aquilo ali não é real. O CGI também melhora as cenas de ação, ainda mais quando se trata dos poderes. Talvez o MCU exagere no seu uso, mas a computação gráfica é o que ajuda a traduzir a loucura dos quadrinhos para as telonas. Aqui temos o Doutor Estranho com mil clones, Thanos jogando uma lua nos heróis e outras coisas que só vemos em histórias em quadrinhos sendo bem executadas nessa mídia por causa desse artifício.
A trilha sonora também ajuda muito o filme, elevando vários momentos. A cena da entrada de Thor em Wakanda não seria épica se não fosse pelo tema icônico dos Vingadores, começando em um crescendo quando vemos os heróis sendo subjugados pelos Batedores de Thanos, até atingir seu ápice na chegada de Thor, Rocket e Groot. A cena entre Thanos e Gamora também não seria tão tocante se não fosse pela trilha, assim como quando a Feiticeira Escarlate precisa destruir a Joia da Mente, quando todos os outros efeitos sonoros do filme desaparecem, deixando apenas espaço para a trilha magistral de Alan Silvestri, tornando o momento poderoso.
A fotografia do filme, por outro lado, não me parece especial. As cenas em Vormir são visualmente lindas, isso não há como negar, mas o resto me parece o usual, padrão da Marvel Studios. O que faz com que as pessoas pensem que todos os filmes da Marvel pareçam iguais é porque não há uma mudança significativa na identidade visual entre um e outro filme, com exceção de Guardiões da Galáxia, Thor: Ragnarok e Doutor Estranho. As cores parecem pálidas em alguns momentos, e a cor cinza parece ser a predominante em outros. Então, por partes, podemos culpar a manipulação de cores por prejudicar o trabalho de Trent Opaloch e não deixar a fotografia brilhar, mesmo que vejamos alguns shots que se destaquem.
E então temos o personagem mais desenvolvido e com mais tempo de tela, Thanos. Suas motivações fazem sentido e parece que Thanos realmente se importa e que ele está tentando fazer a coisa certa, claro que em sua visão distorcida do mundo. Mas ainda assim, mesmo que alguns tenham dito que ele não fez nada de errado, Thanos é narcisista e não é chamado de Titã Louco por nada. Entendemos o porquê ele faz o que faz, ele tem presença, é intimidador, podemos dizer que Thanos é um vilão perfeito. O único problema é que os heróis não tentam mostrar o quão errado Thanos está. Sabemos que o que Thanos fez é errado pois é cruel, mas o filme não tenta mostrar que a ideia de reduzir a população para que possamos ter mais recursos é totalmente errada, poderíamos ter visto os heróis questionarem o plano de Thanos.
Guerra Infinita é um ótimo filme, mas que também tem seus defeitos. O conceito do Hulk não querer sair e fazer com que Bruce Banner tenha que enfrentar as ameaças por conta própria é boa, mas é tratado como piada pelo roteiro. Todas as cenas na qual Banner tenta se transformar servem para fazer você rir e são cômicas e bobas. Capitão América pouco aparece e nunca entendemos o que o fez mudar. Vemos ele de barba e com um traje desgastado, e fica por isso mesmo. Os Filhos de Thanos, aliados do Titã Louco, não apresentam uma ameaça real e são subutilizados, com exceção do Fauce de Ébano.
Mas Guerra Infinita é maior que seus poucos defeitos e prova que o MCU ainda pode ir mais longe. Não há fatiga de filmes de super-heróis aqui. A inventividade e a criatividade da franquia continuam em alta e revigoram o subgênero. E mesmo depois de dez anos, a Marvel Studios consegue surpreender. Quem imaginava que no final desse filme, veríamos Thanos se sentar em sua varanda, olhar o horizonte e então sorrir depois de sua vitória, tendo matado metade da vida do Universo.
Nota: 9
Publicado por: Sam.
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