Muita gente no Brasil parou para torcer pelo filme Central do Brasil (1998) na categoria "Melhor filme estrangeiro" no Oscar de 1999. O longa estrelado por Fernanda Montenegro tinha até potencial, mas deu o azar de concorrer com um dos melhores filmes já feitos fora dos Estados Unidos, o italiano A Vida é Bela (1997), do diretor e humorista Roberto Benigni.

Também atuando na produção como ator principal, Benigni apresentou ao mundo a história do judeu Guido Orefice, que vivia na Itália fascista, e de seu filho, Giosué (Giorgio Cantarini). Presenciando em pequenos detalhes o avanço da ideologia autoritária no país desde o início do longa, a situação chega ao seu limite quando pai e filho são levados para um campo de concentração em Berlim (Alemanha).

Lá, mesmo enfrentando a opressão e o autoritarismo de um campo de concentração, Guido faz de tudo para impedir que Giosué descubra o que está acontecendo e onde eles estão. Ele inventa que os dois estão participando de um jogo, o que impede Josué de reclamar, chorar, se comunicar com os oficiais e o mantém escondido a maior parte do tempo enquanto o pai é explorado no trabalho forçado dos campos de concentração.

Pode parecer uma contradição que um filme sobre o tema se chame "A Vida é Bela", mas é exatamente isso que Benigni consegue apresentar nas quase duas horas de arte do longa. O filme, inclusive, pode ser dividido em duas partes. Na primeira, Guido é apresentado ao público e faz de tudo para conquistar o coração de Dora (Nicoletta Braschi), promovendo vários "acidentes" para que o caminho dos dois se cruze. Desse relacionamento, nasce justamente Giosué, que é apresentado ao público poucos minutos antes da virada no roteiro: a ida forçada dos dois ao campo de concentração.


Essa virada, inclusive, é feita de maneira dramática e radical, sendo bastante visível a mudança de tom pela qual o longa passa no momento em que Dora encontra a casa em que os três moram revirada após a passagem dos oficiais. Essa divisão explícita do filme, a ponto de parecerem dois longas em um, foi essencial para que o diretor passasse sua mensagem. Embora seja um filme que retrate um período execrável da história da humanidade, é acima de tudo um longa sobre a felicidade e sobre o amor do protagonista por sua família.

Essa felicidade, embora em menor escala, permanece também no campo de concentração a cada momento que Guido tem com seu filho ou a cada vez que ele consegue convencê-lo a cumprir alguma regra de seu jogo e, dessa forma, livrá-lo da morte. Também está presente quando Dora, que também irá ao campo de concentração, descobre que o marido e o filho estão vivos. Esse misto de sentimentos presente na segunda parte, inclusive, é um retrato exato do desfecho da história: feliz e trágico ao mesmo tempo.

A Vida é Bela foi bastante criticado por usar o humor para retratar o nazismo, o que foi visto por alguns como desrespeito às vítimas reais da ideologia. Porém, não dá para esperar do filme algo que ele não propõe, ou muito menos traçar probabilidades de acontecerem ou não os fatos narrados na história. É uma produção que desde a cena inicial se mostra como direcionada ao lúdico. E isso não é um demérito, já que mesmo assim consegue emocionar tanto quanto clássicos como A Lista de Schindler (1993) ou O Pianista (2002), cada um com sua fórmula e seu objetivo.

Nota: 10

Publicado por: Douglas.

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