Filme de drama que mostra romance entre gringa e pernambucano não apresenta nada de interessante em sua duração de duas horas.
Catherine, uma burocrata francesa e viúva de meia-idade agora dominada pelo luto mora com sua irmã e cunhado em Recife, um favor dado por sua irmã ao ver seu estado após a morte recente do marido. Ela vive em uma letargia, consumida pela rotina e tardes passadas nas lindas praias pernambucanas. O que os franceses chamam de ennui. A personagem vê sua vida mudar após conhecer o jovem Gil, começando um caso com ele que muda toda sua trajetória.
Adaptado do romance de mesmo nome de Jean-Christophe Rufin, La Salamandre (Salamandra) é seu típico filme europeu (apesar de ser brasileiro), com aquela estética que entrou em vigor na década de 2010, feito especialmente para os festivais. Durante as quase duas horas de filme, eu só conseguia pensar no que John Ford disse para o jovem Steven Spielberg após o mesmo pedir-lhe alguns conselhos: “Quando você aprender que pôr o horizonte na parte inferior ou na parte superior pode ser melhor do que no meio do quadro, então, talvez, algum dia, você possa se tornar um bom diretor.”
Os longos planos e cortes esparsos, a linguagem de um filme importante, ou melhor, a linguagem de um filme que se considera importante, servem apenas como verniz para esse objeto que no fim é vazio. O adjetivo sofisticado se aplica bem ao longa se formos ao dicionário e ler seu significado para denotar “algo que não é natural; postiço, artificial, afetado.” As elipses são todas bem seguras, assim como a virada na segunda metade. É um filme que se deixa levar pelas aparências, onde não há nada além da superfície, que nem sequer chega a ser bonita.
É um filme que não pensa na imagem, e aí está o seu primeiro problema. Apesar disso, é um filme que pensa que está pensando na imagem, apesar de não estar, e aí está seu outro principal problema. Os stablishing shots da Recife comprovam o que eu pensava a cada momento, de que o filme tentava algum virtuosismo visual: é um filme cuja decupagem foi pensada por um estudante de fotografia que entrou há pouco tempo no curso. É aquela mesma bobagem da fotografia contemporânea que não pensa no espaço nem nas pessoas. Só quer ser instagramável, perdão o neologismo. Infelizmente nem sequer há uma criatividade nos ângulos. O horizonte está sempre no meio dos planos. Catherine, quando contrastada contra o espaço, não parece pequena com a cidade a engolindo, nem grande com ela se estabelecendo em uma dialética com seu ambiente. No final, os planos não significam nada, a Catherine só é, a Recife só é, e isso já basta. Seria um filme heideggeriano se o roteiro fosse mais inteligente.
Serei justo com o diretor, Alex Carvalho, e admitir que pelo menos ele tem um olhar apurado quando se trata de corpos. Os close-ups em costas, os planos com corpos seminus e nus, nesses alguma beleza dá para ser encontrada; infelizmente tem mais um momento de fotografia instagramável com corpos, no qual o destaque é um contraste entre um corpo nu preto masculino e um corpo nu branco feminino. É de revirar os olhos.
O roteiro também brinca com contrastes e tenta arranhar alguns temas importantes. Ou considerados importantes. Tem o contraste social no romance entre a senhora francesa rica e o rapaz pobre e preto, que é manuseado na maneira que se espera de um romance escrito por um francês. Um show de obviedades, o equivalente cinematográfico de um longo post de Facebook com um textão revoltando-se contra tudo o que há de errado em nossa sociedade. A vontade de explorar esse contraste protagoniza as piores cenas do longa.
Salamandra acaba por ser entediante, um corpo morto e oco que ressuscita nas cenas de putaria sob a visão do espectador com sua curiosidade mórbida. O motivo do título, a comparação da protagonista com o anfíbio, é a pá de cal. Fajuto, satisfeito consigo mesmo e com seus temas existenciais ou qualquer bobagem parecida, transitando entre um marasmo e uma malemolência disfarçados de sofisticação. Realmente sofisticado, ou seja, postiço, artificial, afetado.
Nota: 2
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