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Existem filmes que são excelentes, mas que, infelizmente, são massacrados pelas Críticas. Assim, tais longas recebem avaliações (e notas) extremamente baixas e, com isso, caem no desgosto do público em geral – o que é uma tremenda injustiça. E é justamente este o caso de “O Mensageiro”, que recebeu um índice de aprovação desanimador de 8% no Rotten Tomatoes. Para piorar, o filme em tela também ganhou todas as cinco indicações do Framboesa de Ouro em 1998, incluindo Pior Filme, Pior Ator e Pior Diretor.

Porém, mesmo com um orçamento estimado de US$ 80 milhões e ganhando escassos US$ 20 milhões nas bilheterias mundiais, “O Mensageiro” não faz jus ao injustificado massacre de Crítica. Com um valor de produção razoavelmente dentro dos padrões para um filme dos anos 90, o filme em tela conta uma história única e cativante sobre liderança vindo de lugares onde menos se espera e de fortes ideais que triunfam sobre a tirania – mesmo quando estão em grande desvantagem. Isso faz de “O Mensageiro” uma empolgante, envolvente e impressionante aventura pós apocalíptica.


Em 2013, uma guerra destruiu grande parte dos Estados Unidos, inclusive o governo, anos após eventos apocalípticos não especificados, começando com o colapso da sociedade por meio de crimes e ataques militarmente organizados, liderados por Nathan Holn. Seguido por pragas, a guerra coletivamente deixou um enorme impacto na civilização humana e apagou a maior parte da tecnologia. Nesse contexto de caos quase absoluto, Bill (Kevin Costner, de “O Guarda-Costas”, 1992) é um andarilho nômade que tenta sobreviver interpretando Shakespeare nas localidades por onde viaja.

Porém, em um determinado vilarejo, Bill é capturado pelos “Holnistas”, um grupo guerrilheiro fascista liderado pelo temível General Bethlehem (Will Patton, de “Outer Range”, 2022). Porém, ele consegue escapar e encontra um carteiro morto. Com isso, o nômade veste as roupas para se aquecer e resolve ir à cidade mais próxima com a alegação de ser um representante oficial do governo restaurado; uma forma plausível de chegar nos vilarejos e ser alimentado. Inconscientemente, Bill inspira esperança às pessoas através de uma falsa promessa de um “Estados Unidos Restaurados da América”. Mas, o problema é que os Holnistas estão sempre prontos para atacar e espalhar terror. Para acabar de vez com toda a tirania e chacina, Bill precisa liderar uma batalha contra os Holnistas, inspirando as pessoas dos vilarejos a se unirem.


O Mensageiro” é dirigido pelo próprio ator Kevin Costner (sua segunda incursão na direção), cujo roteiro foi escrito por Eric Roth (“Forrest Gump”, 1994) e Brian Helgeland, baseado vagamente no livro homônimo de David Brin, de 1985. Em 1994, Costner se juntou com os dois roteiristas para adaptar o épico pós apocalíptico; e os cineastas se depararam com escolhas sobre o conteúdo a ser adaptado. Com isso, eles decidiram modificar algumas partes na adaptação cinematográfica, retirando os elementos futuristas das últimas partes do livro (tal como engenharia genética e supercomputadores) para melhor fundamentar a história como uma simples luta pela sobrevivência em um mundo desolado e liderança contra a cruel tirania.

Embora Kevin Costner apresente uma visão extraordinária do potencial do espírito humano na narrativa, esta emocionante história é levemente prejudicada por uma duração excessivamente prolongada. Isso ocorre pelo fato de a produção estar completamente absorta em abordar como uma simples pessoa pode inspirar esperanças e liderar seus semelhantes contra o terror da tirania – e, para isso, não poupa tempo em tela para explorar esse tema. Afinal, o dilema enfrentado por um simples nômade, transformado em mensageiro da esperança, é completamente aparente: enfrentar o inimigo e manter a ilusão de uma nação restaurada sob o risco de mais derramamento de sangue, ou render-se e deixar para trás qualquer aparência de falsa esperança?


Nessa esteira, “O Mensageiro” caminha em uma linha muito tênue entre um drama inspirador e uma aventura pós apocalíptica com um certo estilo de faroeste. Porém, ao tentar contrabalancear esses gêneros, a produção falha ao entregar algumas cenas excessivamente dramatizadas e algumas falas que são significativas na intenção, mas um pouco cafonas na execução. A inserção desses elementos no roteiro é altamente arriscada, fazendo com que algumas cenas se tornem um pouco bregas.

Tais elementos narrativos são um pouco exagerados – mas, por outro lado, podem ser facilmente superados com rapidez suficiente para que o público consiga desfrutar desta robusta produção com uma alta expectativa de entretenimento. Ao mesmo tempo, “O Mensageiro” é um dos raros filmes que expressa em tela uma grande representação de uma visão épica sobre ideais e liderança, que realmente inspiram as pessoas. A clareza e sinceridade com que essas ideias são articuladas ao longo da narrativa conseguem fazer com que o longa em questão seja memorável.


Levando tudo isso em conta, é seguro afirmar que, apesar dos erros na trama, “O Mensageiro” está completamente longe de ser ruim. A produção é um projeto ambicioso que exala uma sensação descomunal de emoção ao apresentar uma simples história sobre um andarilho nômade solitário à margem da sociedade que inspira esperança e lidera uma resistência justa e gloriosa contra um esquadrão fascista que aterroriza a população sobrevivente indefesa e amedrontada em um desolado deserto pós apocalíptico – e que, além disso, se perdeu em meio a anos de guerra, fome e terror há muito tempo.

Seguindo essa linha narrativa, “O Mensageiro” é um filme que visa uma transição contrabalanceada entre a sinceridade dramática de “Danças com Lobos” (1990) com o espetáculo visual de “Waterworld – O Segredo das Águas” (1995); mas, infelizmente, carece de alguns detalhes explicativos ao longo da narrativa. Para compensar essa falha, a produção investe em personagens marcantes e notáveis, que, lentamente, tentam reestabelecer sua infraestrutura como sociedade enquanto são massacrados por uma força tirânica.


Em relação ao elenco, não há dúvidas de que Kevin Costner conseguiria reunir excelentes atores. Will Patton entrega um formidável desempenho em tela como o implacável, rígido e brutal líder dos Holnistas. Larenz Tate também faz um ótimo esforço para interpretar Ford Lincoln Mercury, um rapaz de forte personalidade que se deixa inspirar pelo personagem de Costner e consegue assumir uma certa liderança e independência. Olivia Williams (de “O Sexto Sentido”, 1999) está deslumbrante ao longo do filme, projetando força e inteligência em sua maior potência. Vale ressaltar, também, a incrível participação de Daniel Von Bargen (de “A Filha do General”, 1999), que se destaca bastante como o Xerife de Pineview. Detalhe para as pequenas participações de Scott Bairstow (de “Caçador de Ossos”, 2003) e de Giovanni Ribisi (de “Avatar”, 2009). Kevin Costner entrega uma performance extremamente carismática como uma pessoa simples e comum que simplesmente luta por sua vida e, por uma guinada do destino, coloca-o em uma posição de líder capaz de inspirar e guiar as pessoas. Nesse sentido, Costner consegue transpor perfeitamente os extremos opostos entre a forte liderança de seu personagem em contraste com a cruel tirania imposta pelo perverso personagem de Patton.

Por fim, a parte técnica de “O Mensageiro” também está impecável. A Cinematografia de Stephen Windon está soberba e habilmente composta, além do sutil uso de CGI – com isso, a grandeza visual está deslumbrante. A exuberante Trilha Sonora de James Newton Howard também está perfeita, que combina completamente com a Cinematografia de Windon. Além disso, o trabalho de locação e o uso de vários figurantes também estão impressionantes.


Em sua essência, “O Mensageiro” é uma história inspiradora, que fala sobre a força da união entre as pessoas e como os ideais podem se tornar maiores do que aqueles que espalham terror. Além disso, o filme em tela mostra como é nítida a discrepância entre duas pessoas que lideram lados opostos de uma batalha: enquanto um lidera de forma inspiradora um grupo de sobreviventes oprimidos, o outro é um ditador que comanda um exército de forma tirânica que espalha mais terror. A falsa esperança do Mensageiro torna-se um ideal real e sólido no qual outros desamparados encontram inspiração e propósito para lutarem contra a tirania.

Como a maioria das boas adaptações, esta versão cinematográfica é simplificada – em relação ao livro usado como material base –; mas isso não tira o mérito de todo o trabalho investido na produção, que se esforçou para entregar um longa bem estruturado e com um resultado satisfatório. Apesar de suas falhas, é extremamente difícil justificar as duras Críticas a que o longa foi submetido. Desta forma, “O Mensageiro” é uma empolgante, envolvente e impressionante aventura pós apocalíptica, que aborda temas substanciais e transmite uma importante mensagem de inspiração sobre liderança. Embora seja um pouco sobrecarregada por uma excessiva duração, a produção consegue obter êxito em transmitir todo o potencial da história e entregar um desfecho incrivelmente emocionante. Com isso, o filme em tela é uma produção visualmente deslumbrante – além de ser, provavelmente, o filme pós apocalíptico mais cativante de todos os tempos.

O Mensageiro” está disponível, para alugar, na Amazon Prime Video e no YouTube.

Nota: 10

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