Rian Johnson entrega uma excelente sequência de “Entre Facas e Segredos”, e consagra de vez Benoit Blanc como um dos melhores detetives da cultura pop.

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Atenção: Essa crítica pode conter SPOILERS do filme.

O filme segue um bilionário da tecnologia (Edward Norton) que convida seus entes mais próximos e queridos para uma comemoração em sua ilha grega particular, mas quando alguém aparece morto, o detetive Benoit Blanc (Daniel Craig) deve desvendar o mistério.

Um  dos maiores momentos do cinema em 2019 foi o filme “Entre Facas e Segredos”, um já clássico whodunit escrito e dirigido por Rian Johnson (Star Wars - Os Últimos Jedi, Looper: Assassinos do Futuro). Custando apenas US $40 Milhões de dólares e arrecadando mais de US $300 Milhões (e ainda conseguiu uma indicação para Melhor Roteiro Original no Oscar), a Lionsgate acabou vendendo os direitos de distribuição e produção dos próximos dois filmes da franquia para a Netflix, por um valor de US $460 Milhões de dólares (no valor já está incluso o orçamento dos dois filmes).

Sendo assim, Johnson retorna nos roteiros e direção, agora com a primeira sequência da franquia mantendo as inspirações nos romances de mistério escritos por Agatha Christie, com um elenco (quase) completamente novo e sendo considerado uma das grandes apostas da Netflix para a temporada de premiações.

Daniel Craig (007: Cassino Royale, Millennium: Os Homens que Não Amavam as Mulheres) retorna como o detetive Benoit Blanc, com as adições de Dave Bautista (Guardiões da Galáxia, Blade Runner 2049), Edward Norton (O Incrível Hulk, A Outra História Americana), Leslie Odom Jr. (Uma Noite em Miami, Hamilton), Janelle Monáe (Estrelas Além do Tempo, Moonlight: Sob a Luz do Luar), Kathryn Hahn (WandaVision, Homem-Aranha no Aranhaverso), Kate Hudson (Quase Famosos, Como Perder um Homem em 10 Dias), Madelyn Cline (Stranger Things, Boy Erased: Uma Verdade Anulada) e Jessica Henwick (Punho de Ferro, Game of Thrones) no elenco do filme, conseguindo montar um time de atores e atrizes tão impressionantes como o do primeiro longa.

A reviravolta na metade e o 2ª ato com a morte de Duke (Dave Bautista) e todo o twist de Andi (Janelle Monáe) é ótima, mas traz consigo um dos únicos problemas do filme: o pizão no freio do roteiro, já que ele move completamente a história para o passado, chegamos nos momentos de diálogos expositivos e toda a explicação da trama e tudo mais, deixando a narrativa um pouco arrastada. Outro grande problema do filme é o cgi nas cenas finais (principalmente durante o incêndio), já que fogo digital é sempre uma péssima ideia.

Assim como no primeiro filme, tudo aqui é meticulosamente pensado. A composição dos cenários e todos os objetos em cena contam a história, e detalhes que pareciam ser superficiais como mobílias, quadros, ou a forma em que um personagem segura um copo fazem total diferença na construção da trama. O roteiro de Johnson é muito perspicaz, ao ponto que cada diálogo, pequena informação ou ação de um personagem está cuidadosamente colocada para ser trazida de volta na história mais a frente.

É impressionante como o diretor consegue se reinventar e fazer esse segundo filme ser completamente diferente do primeiro, na estrutura, personagens, cenários, trama. Tudo é bem diferente, apesar de ser o mesmo diretor, roteirista e protagonista.

A direção também se beneficia muito da montagem extremamente ágil e fluída, com os dois primeiros atos despertando um interesse geral na trama e gerando dúvidas, questionamentos, falsos questionamentos, momentos engraçados e muito mais, para ter o terceiro ato catártico.

Benoit aqui é um personagem muito mais bem aproveitado pelo roteiro, por que vemos a história praticamente pelo seu ponto de vista, já que ele assume de vez o protagonismo da trama (diferentemente do primeiro filme em que a protagonista da história era a personagem da atriz Ana de Armas). É claro que Daniel Craig continua incrível no papel, sendo engraçado, inteligente, charmoso, com o melhor sotaque do mundo e sendo um dos melhores detetives da cultura pop (mesmo jogando Among Us muito mal).

O grande vilão interpretado por Norton é perfeito, e toda a reviravolta (que é levemente construída por Johnson desde o começo do filme) de que ele na realidade é um grande idiota que é incapaz de fazer ou planejar algo sozinho, é deliciosa. Norton é um grande ator que faz tempo que não se envolve de fato em um papel tão grande de uma produção tão boa, com o diretor sabendo muito bem explorar as suas qualidades como ator.

O resto do elenco também estão fantástico. Bautista interpreta bem uma paródia de Joe Rogan, enquanto Hudson e Henwick tem as melhores dinâmicas e piadas. Os únicos subaproveitados são os personagens de Leslie Odom Jr. e Kathryn Hahn, que não tem muito o que fazer ou grandes traços na personalidade.

Por fim, Johnson abordou temas sociopolíticos importantes e relevantes (principalmente na época do lançamento) no primeiro filme, como questões de imigrantes e o preconceito a eles. Aqui em Glass Onion, o diretor muda a chave e o seu alvo para as críticas, ficando muito mais nas figuras e celebridades da nossa sociedade moderna e questionando figuras como Elon Musk, Mark Zuckerberg e outros “grandes CEOS” de empresas que chegam cheios de promessas e uma suposta superioridade intelectual fajuta para esconder os seus egos e inteligência extremamente limitada. Mais pontual e certeiro que isso impossível.

“Glass Onion: Um Mistério Knives Out” é mais um trunfo da carreira de Rian Johnson como diretor e roteirista. Ele se mostra realmente competente para construir essa franquia de mistério, se reinventando em relação ao longa anterior sem perder a identidade e desenvolve ainda mais o seu carismático protagonista. É uma excelente adição de catálogo da Netflix que veio para fortalecer a área de filmes do streaming com muita força, sendo uma das melhores produções originais deles.

Nota: 9

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