Com trama perturbadora e bem desenvolvida, "Fresh" é o maior acerto do gênero terror em 2022.
De uma coisa não podemos reclamar. O ano de 2022 entregou muito quando o assunto é o gênero terror. Tivemos os ótimos Pânico 5, Telefone Preto, Não! Não Olhe!, Noites Brutais, bem como os filmes da franquia X. Mas não pense que acabou aí. O filme que será tratado nesse texto vem sendo aclamado pela crítica e já começou a receber indicações na temporada de premiações.
Fresh é uma comédia de terror estadunidense dirigida pela estreante Mimi Cave e escrita por Lauryn Kahn. A produção é assinada por Adam McKay, Kevin J. Messick e Maeve Cullinane. O filme, que é uma parceiria entre Legendary Pictures e Hyperobject Industries, teve sua estreia no Festival Sundance de Cinema em 20 de janeiro de 2022 e chegou ao Hulu ainda em 4 de março de 2022. No Brasil você pode assisti-lo por meio do streaming Star+.
A história acompanha Noa (Daisy Edgar-Jones), uma jovem que conhece Steve (Sebastian Stan), um cirurgião plástico, em um mercado. A partir de uma relação repentina e intensa, a jovem aceita o convite para viajar com ele, sem imaginar o que o misterioso médico escondia.
O roteiro de Lauryn Kahn impressiona. É uma experiência sinistra que explora com audácia a maldade humana com um tempero de sátira. O texto envolve, ao mesmo tempo que cultiva uma série de sentimentos no espectador, entre eles a tensão e a curiosidade por explorar as nuances de um plot tão selvagem e inesperado.
É fácil se identificar com a protagonista e acaba sendo um gatilho enorme perceber que para uma mulher um simples caminhar na rua à noite, não é algo tão simples. Para uma mulher, antes de aceitar um convite para uma viagem a dois, você precisa de se blindar de inúmeras formas. É a partir desse contexto que a narrativa se desenrola, ao explorar os riscos de se confiar e se abrir pra alguém, especialmente nos dias de hoje e, sobretudo, com o desafio do gênero. Em meio a narrativa são feitas ainda severas críticas sociais a um meio que objetifica a mulher e a descredibiliza.
O ritmo do longa funciona muito bem. Temos uma introdução eficiente no que se propõe e, assim como Noa, nos encantamos imediatamente por aquela relação. Tanto que por um breve momento, você imagina que está se aventurando por uma linda e doce comédia romântica. Não leva muito tempo para o verdadeiro plot se revelar e nos tirar o fôlego. É chocante e agoniante acompanhar a jornada pela sobrevivência. O longa dosa uma comédia insana que funciona por mais inusitado que esse sentimento possa parecer.
Mimi Cave estreia na direção da melhor forma possível. E como uma visão feminina faz toda a diferença na entrega e retirando rótulos impregnados em boa parte das películas do gênero. Ela consegue uma sintonia quase hipnótica entre os personagens, enquanto lança um verdadeiro frenezi em tela. A sobreboposição de cenas de diferentes contextos é um golpe de mestre para intensificar os sentidos. O som é mais um elemento essencial para tornar a experiência indescritível.
Daisy Edgar-Jones está impecável como Noa e consegue transmitir a vulnerabilidade e desespero, equilibrando bem com a força. Ela é a âncora da obra e uma personagem fácil de se torcer. A dupla com Sebastian Stan é simplesmente o casamento perfeito.
Por falar nele, Sebastian Stan mostra que é um ator versátil. Seu personagem oscila muito bem entre a candura, a dissimulação e a crueldade e entrega cenas emblemáticas, dentre elas a que dança ao lado da protagonista.
Outra personagem vital para a trama e muito bem conectada é Mollie (Jonica T. Gibbs). Ela é aquela amiga que todos nós desejamos ter, disposta a tudo para ajudar. Mais do que amiga, genuinamente uma família. Como é bom um longa que não é sobre competititividade feminina, mas sim solidariedade.
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