Há um certo cuidado que todo filme baseado em fatos precisa seguir. Ele precisa estabelecer, por exemplo, se o telespectador já está ciente do caso real ou se o público nada está sabendo sobre a história. Com base nisso, “Treze Vidas – O Resgate”, dirigido pelo diretor Ron Howard, é minucioso ao contar uma história real sobre resgate e heroísmo.
O
filme em tela explora os atos heroicos de mergulhadores profissionais ao
retratar, de forma bem fiel, uma das recentes e mais extraordinárias histórias
sobre resgate. E, tal como “Apollo 13 – Do Desastre ao Triunfo” (1995), também
dirigido por Howard, o tempo e um espaço limitado em específico se tornam os vilões da trama, e a frenética corrida
para resgatar um grupo de crianças é a premissa principal da produção.
Em 2018, uma situação dramática parou a Tailândia: em 23 de junho daquele ano, 12 crianças de um time de futebol infantil tailandês ficaram presas dentro da caverna Tham Luang Nang Non, no norte da Tailândia, durante uma tempestade inesperada. O período das menções chegou mais cedo e as fortes chuvas começaram a inundar a região repentinamente, inclusive o labirinto do sistema subterrâneo da caverna, impedindo o grupo de sair de dentro da montanha.
Enfrentando
um ambiente hostil, uma equipe composta pelos mergulhadores mais experientes do
mundo se junta às forças tailandesas e voluntários para resgatar os doze
meninos e seu treinador. Com poucas chances e um mundo inteiro assistindo, o
grupo vivencia o maior desafio de suas vidas.
O roteiro, assinado por William Nicholson, segue o documentário “The Rescue”, de 2021, adotando um tom essencialmente mais tenso e dramático. “Treze Vidas – O Resgate” se esforça para contar essa história complicada, destacando não apenas os medos dos pais das crianças, mas a luta de um grupo de mergulhadores experientes que lideraram a missão. É uma tarefa difícil e o diretor Ron Howard é habilidoso ao manusear as complexidades dos eventos narrados. Howard adota uma abordagem mais ousada e imersiva, oferecendo um relato expansivo da missão.
Com
isso, a produção é eficiente ao enfatizar que o resgate foi resultado de um
esforço de equipe, com a contribuição conjunta entre os mergulhadores
independentes de caverna, o especialista tailandês em águas subterrâneas,
Thanet Natisri, o governo Tailandês e a Marinha Tailandesa. O Diretor de
Fotografia, Sayombhu Mukdeeprom, e o Design de Som subaquático também se
destacam ao conseguirem transmitir um ambiente nítido e claustrofóbico.
Por outro lado, “Treze Vidas – O Resgate” deixa um pouco a desejar no que diz respeito à forma como o plano de resgate foi executado pelos mergulhadores. Depois de estabelecer o grupo em perigo, o desespero das famílias e o governo tentando definir quem são os culpados, o longa praticamente abandona esses elementos narrativos em favor de dois mergulhadores de cavernas do Reino Unido, que lutam para obter acesso e apoio. A decisão de deixar de lado todos esses elementos narrativos em favor da simples execução do resgate impede que Howard consiga explorar o lado emocional da situação.
Pode-se
perceber tal ponto quando os mergulhadores Rick e John encontram, pela primeira
vez, as 13 pessoas presas na caverna e, em vez de oferecer os primeiros
socorros, os mergulhadores começam a gravar vídeos dessas pessoas famintas que
já estão presas há dez dias. Essa decisão narrativa poderia ter sido explorada
com um lado mais emocional, mas, infelizmente, o diretor perdeu tal
oportunidade. Com isso, é estranho perceber o quanto o diretor se esforça para
evitar o lado emocional ao longo da narrativa e focando mais na elaboração e
execução do plano de resgate.
As atuações em “Treze Vidas – O Resgate” estão excelentes. Viggo Mortensen e Colin Farrell entregam performances extremamente fantásticas ao trazer um senso de humanidade a uma história extraordinária. Farrell faz um trabalho brilhante ao convencer em tela o quão arriscadas e perigosas eram as condições na caverna.
Mortensen
também tem uma forte atuação ao apresentar um personagem emocionalmente frio e
rabugento, mas impressionantemente capaz de entender a gravidade da situação.
Sem dúvida, a boa interação entre Mortensen e Farrell é uma parte fundamental
do sucesso do filme.
“Treze Vidas – O Resgate” é um drama que consegue transmitir toda a tensão e realismo – bem como todo os esforços das pessoas que ajudaram – do incidente ocorrido na Tailândia, mobilizando cerca de 10 mil pessoas de 17 países, que se envolveram diretamente na operação de resgate, que durou 18 dias. A produção cobre este período de tempo no filme mostrando os muitos desafios que ocorreram ao longo do caminho. E isso, por si só, já é uma história envolvente.
Ron
Howard é eficaz ao conseguir retratar tal caso real com uma narrativa fiel,
decente, bem estruturada e coerente, apresentada de forma direta;
mesmo que não seja, necessariamente, memorável. Embora a abordagem do diretor
para contar uma história sobre heroísmo, bravura e resgate seja surreal e
tensa, o resultado final não consegue ser muito surpreendente ou emocionante. Na
melhor das hipóteses, o filme em tela é, basicamente, a luta do homem contra o
tempo e contra forças da natureza.
“Treze Vidas – O Resgate” está disponível na Amazon Prime Video.
Nota: 6.5
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