O gênero de espionagem é extremamente amplo, quase faltando ideias inovadoras e criativas para ser produzido. Porém, “The Old Man” contradiz essa ideia ao apresentar o que há de melhor em tramas de espionagem. Assim sendo, a série torna-se uma das produções com essa temática mais bem elaboradas e criativas de 2022.

O título da série não é muito atraente e não passa, com muita exatidão, o que esperar da produção. Mas, à medida que o enredo se desenrola, fica evidente que a narrativa, os personagens e os momentos impactantes de ação e suspense se destacam por serem muito interessantes e inovadores, criando uma história bastante eficaz sobre espionagem – e parte disso se dá graças à combinação espetacular dos grandes astros Jeff Bridges e John Lithgow.

Na trama, Dan Chase (Jeff Bridges, de “Homem de Ferro”, 2008) é um ex-agente da CIA, conhecido como “Old Man”, que, agora, está aposentado e tenta levar uma vida tranquila escondido no norte do Estado de Nova York há trinta anos. Mas, quando seu esconderijo é descoberto e sofre uma tentativa de homicídio, Chase percebe que está sendo caçado. Ao procurar um novo esconderijo, Chase encontra abrigo com Zoe McDonald, uma mulher com um passado misterioso.

Para escapar com vida, Chase precisa se reconciliar com seu passado e abrir mão de sua tranquilidade para se proteger daqueles que querem matá-lo. Quando Chase se mostra mais difícil de prender do que as autoridades esperavam, o diretor assistente do FBI de contrainteligência, Harold Harper (John Lithgow, de “O Escândalo”, 2019), é designado para trazer o ex-agente de volta em segurança por causa de seu passado complicado como fugitivo renegado.

Baseado no livro homônimo de 2017, escrito por Thomas Perry, “The Old Man” foi criado e roteirizado por Jonathan E. Steinberg e Robert Levine; tendo Jon Watts (“Homem-Aranha: Sem Volta para Casa”, 2021) dirigindo os dois primeiros episódios. A série estreou em 16 de junho de 2022 no canal FX, sendo lançada no Brasil dia 28 de setembro, no streaming Star+.

Em essência, “The Old Man” é um excelente, inteligente e ágil thriller de ação sobre espionagem, cuja tensa narrativa aborda questões de identidade, moralidade, passados misteriosos e a busca pela verdade. Originalmente planejado para ter dez episódios, a produção precisou reduzir para apenas sete, reformulando os capítulos para que o seriado se encaixasse nesse formato; mas sem se apressar em sua narrativa. Com isso, as sequências de ação são poucas e um tanto distantes entre elas. Mas, sempre que tais cenas aparecem em tela, a direção e a composição narrativa desenvolvida pela produção têm ótima eficácia. Dessa forma, os diálogos extensos e as intensas reviravoltas entre o passado com o presente fornecem uma identidade própria imperdível.

Existem duas linhas do tempo que mantêm a trama em ótimo andamento. A principal é o presente, onde o ex-agente da CIA, Dan Chase, está fugindo e tentando se manter no anonimato quando sua atual localização foi descoberta pelo FBI. Sua complexa e misteriosa conexão com o diretor do FBI, Harold Harper, encarregado de encontrá-lo, torna a investigação e o jogo de gato e rato mais complexo ainda. No meio de tudo isso, a agente Angela Adams e sua misteriosa identidade apresentam dinâmica à trama – principalmente devido à relação entre Chase, Harper e Adams.

A situação fica ainda mais complicada quando um perigoso fantasma do passado de Chase e Harper volta para assombrá-los. E a série em tela destaca a importância e relevância desse elemento narrativo através de flashbacks bem elaborados ao longo dos episódios.

Esses flashbacks são necessários para a compreensão das atitudes dos personagens, pois contam sobre a missão de Dan Chase no Afeganistão e os serviços que ele fez para a CIA. Mas, esses flashbacks, muitas vezes, retardam a ação e parecem mais lentos do que a linha do tempo presente na produção, onde Bridges e Lithgow trazem uma maior seriedade real ao drama político.

No entanto, um ponto não muito bem explorado é o poder emocional, que geralmente se resume às cenas de telefonemas, que capturam personagens se escondendo de todos os outros. Ainda assim, “The Old Man” é emocionante e é ancorado por tremendas performances de liderança que faz com que valha a pena para quem quer assistir um verdadeiro thriller político.

As talentosas atuações de Jeff Bridges e de John Lithgow são excelentes, críveis e capturam com perfeição a natureza mutável que a narrativa quer explorar, sobre moralidade e levantando questões sobre quem pode quebrar as regras – mesmo quando estão sobrecarregados com diálogos superficiais sobre o certo e o errado. As acrobacias físicas de Bridges são ainda mais notáveis ​​pelo fato de o ator, com 72 anos, quase morrer durante a produção quando foi diagnosticado com linfoma em outubro de 2020 e ser submetido a tratamento contra o câncer, que o levou ao hospital por seis semanas. Com isso, as filmagens do programa foram temporariamente paralisadas, quando Bridges recebeu um diagnóstico de linfoma e depois contraiu Covid-19 durante seu tratamento contra o câncer.

Levando em consideração os problemas de saúde de Bridges durante a produção, “The Old Man” conseguiu reformular seu formato, retomar com as filmagens e se sair muito bem. Há uma sensação mais extraordinária e misteriosa na atmosfera da série, que certamente se deve, em parte, a um Jeff Bridges envelhecido, mas ainda muito ágil e convincente nas cenas de lutas corporais. Bridges é bastante crível nesses momentos como uma ex-agente que tem consciência que está envelhecendo, mas que, também, sabe que sua vida passada e treinamento estarão constantemente presentes em sua vida.

Os dois primeiros episódios são impressionantes dirigidos por Jon Watts, responsável pela recente trilogia do Homem-Aranha, de Tom Holland. Watts consegue explorar uma certa violência durante as intensas cenas de ação e lutas corpo a corpo, mas sem recorrer ao exagero. Além disso, Watts é eficiente ao retratar o drama de forma cuidadosa e minimalista.

The Old Man” teve um desempenho extremamente satisfatório, inclusive se tornando o seriado mais assistido da FX quando foi lançado. Em 27 de junho de 2022, a série “The Old Man” foi renovada para a 2ª Temporada pela FX, mas ainda não tem previsão de lançamento.

The Old Man” aborda reflexões sobre identidade, moralidade e que o passado sempre volta para assombrar; além de, também, ser incrivelmente comovente. A profundidade desses elementos narrativos explorados na primeira temporada certamente entrega uma produção bastante intrigante e inovadora. Com ritmo ágil e tenso, a série em tela prova ser uma ousada produção sobre espionagem muito bem construída ao revisitar o passado e entregar um futuro incerto de personagens que estão tentando lutar pela sobrevivência – e com desempenhos extraordinários de Jeff Bridges e de John Lithgow liderando o caminho.

A produção exibe seu enorme peso ao demonstrar que a trama não é, simplesmente, só sobre espionagem que adota cenas clichês de ação, mas é uma interessante história de como os personagens lidam com seus passados obscuros e de como eles reagem com as consequências de suas escolhas, bem como a forma com que as reviravoltas afetam suas vidas. Com isso, “The Old Man” entrega uma inovadora e intrigante narrativa sobre perseguição de gato e rato entre os personagens em busca de redenção, que se deparam com passados sombrios e confrontos inevitáveis com antigos fantasmas – recheado de drama, tensão e ação.

The Old Man” está disponível, no Brasil, na Star+.

Nota: 9.0

Post a Comment

Postagem Anterior Próxima Postagem