Finalmente, a terceira parte de Jurassic World chega aos cinemas brasileiros, lançado em 2 de junho, depois de uma espera de quatro anos. O último capítulo da nova trilogia presenteia os fãs ao juntar as duas gerações da franquia – Jurassic Park e Jurassic World – de forma nostálgica e empolgante; porém, é pouco inovadora, encerrando um já cansado ciclo bastante explorado em seus últimos cinco filmes.
Neste
terceiro e último (será?) capítulo da franquia, os dinossauros escapam de seus
santuários e, agora, vivem entre os humanos. Com isso, a produção tenta
encaixar ambas as trilogias existentes em uma conclusão satisfatória. Mas, com
bastante esforço, este terceiro longa luta para recapturar e rejuvenescer a
sensação mágica de admiração que emocionou o público de forma estrondosa.
Na trama, quatro anos após a destruição da Ilha Nublar, os dinossauros circulam livres pelo planeta; agora estão vivendo e caçando ao lado de humanos em todo o mundo. Com os dinossauros à solta, os humanos precisam lidar com esse problema e encontrar uma forma de coexistir pacificamente. Contudo, nem todos os dinossauros conseguem viver em harmonia com os humanos, trazendo problemas graves. Esse frágil equilíbrio remodelará o futuro e determinará, de uma vez por todas, se os seres humanos continuarão sendo os principais predadores em um planeta que, agora, compartilham com as criaturas mais mortíferas da história em uma nova era. Para piorar, uma nuvem devastadora de gafanhotos está destruindo os suprimentos de comida humana em regiões agrícolas dos Estados Unidos, depois de sofrer mutação com dinossauros.
Quando
a jovem Maisie Lockwood é sequestrada por contrabandistas de dinossauros, os
ex-funcionários do parque dos dinossauros, Claire (Bryce Dallas Howard, de “A
Vila”, 2004) e Owen (Chris Pratt, de “Guardiões da Galáxia”, 2014) saem em
busca da garota e resgatá-la. Sua jornada os leva para um habitat
de dinossauros operado por uma corporação global que também está sendo
investigada por Alan Grant (Sam Neill, de “Jurassic Park – Parque dos
Dinossauros”, 1993) e Ellie Sattler (Laura Dern, de “Jurassic Park – Parque dos
Dinossauros”, 1993), que tentam descobrir as causas do novo desastre ecológico
que está dizimando plantações e desconfiam que a empresa BioSyn está envolvida.
A trama de “Jurassic World: Domínio” dá sequência nos acontecimentos do longa anterior após um hiato de quatro anos. E, como o subtítulo aponta, a história central mostra as consequências dos dinossauros serem libertados e estarem reocupando seu lugar na cadeia alimentar na atual civilização. Em meio à essa nova geopolítica ambiental, a humanidade é obrigada a se adaptar e tentar sobreviver ao caos causado pelos dinossauros em meio à sociedade – situação que piora ainda mais com a chegada do desastre ecológico, causado pelos gafanhotos geneticamente modificados.
Esse
desequilíbrio ambiental irá remodelar o futuro e tirar o ser humano do topo da
cadeia alimentar em um planeta que, agora, compartilha com as criaturas mais predadoras
da história. Para se aproveitar de tal situação, não tarda a surgir um mercado
negro, voltado à caça, captura, venda e que até realiza uma espécie de rinha de
dinossauros. Essa atividade ilegal leva governos de todo o mundo a criarem
direitos exclusivos para a contenção e proteção dos dinossauros.
E, no meio de todo esse furacão político e ecológico, encontra-se a BioSyn, empresa de engenharia genética que se aproveita da situação caótica e descontrolada para dominar o mercado biogenético. Além do mais, a empresa possui um enorme santuário para preservar vários dinossauros, chamado BioSyn Alley. Com o poder de manipular material genético na palma das mãos e cegos pelo desejo de lucrar ainda mais, a BioSyn, fatalmente, não deixa de cometer os mesmos erros anteriormente cometidos pela InGen. Vale destacar que a BioSyn se situa nas Montanhas Dolomitas, na Itália, e a empresa desempenha um papel muito importante na trama.
Os
fãs mais atentos podem perceber que a BioSyn não é uma empresa incluída
exclusivamente neste filme em questão; e nem Lewis Dodgson também. Dodgson é
o chefe do departamento de pesquisas da BioSyn – empresa rival da InGen –
que, no primeiro filme da franquia Jurassic Park, de 1993, subornou Dennis Nedry,
funcionário da InGen, para roubar alguns embriões congelados contendo o
DNA de dinossauros (e escondendo dentro de uma lata refrigerada). Em “Jurassic
World: Domínio”, Dodgson tem uma participação maior, sendo responsável por
coordenar as pesquisas e desenvolvimento de clonagem de dinossauros.
Dar continuidade a uma franquia que, há muito tempo, está inserida na memória afetiva coletiva do público é um desafio enorme. Mas, há casos em que isso pode ser feito de forma satisfatória. “Jurassic World: Domínio” é a prova disso, que retoma tudo o que nos surpreende nas produções originais, mas o faz de forma bastante nostálgica. O filme em tela revisita as raízes do Jurassic Park, mergulhando no poder máximo da engenharia genética como nunca visto antes. No entanto, o longa é incapaz de escapar da mesma sensação de destruição iminente que atormentou os antigos parques temáticos.
“Jurassic
World: Domínio” se desenrola como uma aventura intensa e empolgante, que leva o
telespectador a um mundo totalmente novo, com cenários, conceitos e
elementos narrativos diferentes. Os
dinossauros não estão mais isolados em ilhas, mas livres e espalhados por todo
e qualquer lugar do planeta; inclusive entre os seres humanos. Com isso, tanto
os dinossauros quantos a espécie humana são obrigados a se adaptar à essa nova
realidade, tendo que conviver juntos em tais circunstâncias.
Sobre essa narrativa supracitada, destaca-se três pontos muito bem estruturados e abordados no filme em questão, que são: A) o tráfico e comercialização ilegal de dinossauros nos mercados negros; B) como a população reage junto ao convívio diário com os dinossauros; e C) todo o estrago que os dinossauros causam, seja dentro das cidades, como nas zonas rurais e nas áreas marítimas. Acrescente-se a isso, também, toda a repercussão midiática que todos esses transtornos causam ao redor do planeta e como a população mundial têm reagido ante tais acidentes.
Por
outro lado, o longa também mostra como a natureza adaptou essa nova realidade
aos dinossauros, que precisam se impor e exigir seu espaço na civilização
moderna – além de passar uma sensação de perigo e ameaça aos seres humanos,
que, agora, fazem parte da cadeia alimentar. São um excelente ponto positivo
abordado nesta película, haja vista que o final de “Jurassic World: Reino
Ameaçado” deu margem para várias possibilidades, onde qualquer coisa pode
acontecer.
Colin Trevorrow dirige novamente a terceira parte da segunda franquia após “Jurassic World” (2015). A película volta a circular entre laboratórios que, se não fosse o fato de sua função dentro do enredo estar bem estabelecida desde o início, qualquer um poderia pensar que eles são para dar passeios aos visitantes.
O
diretor, de forma bem estruturada, insere referências aos acontecimentos
ocorridos na Costa Rica. Há a lata de creme de barbear coberta de lama que
Dennis Nedry usou para roubar os embriões; detalhe que o enredo não diz quem ou
como a lata foi recuperada em Isla Nublar. Há, também, as incubadoras com bebês
dinossauros e as salas de controle com botões verdes e vermelhos. Todos esses
elementos são referências ao primeiro filme, de 1993, introduzidos com bastante
sutileza; porém, com excelente maestria.
Complementando a experiência, estão os animais jurássicos. Os animatrônicos foram magistralmente construídos pelo designer John Nolan e seu estúdio – responsável por inúmeros comerciais e, também, em “O Cristal Encantado: A Era da Resistência” (2019), série da Netflix. Se o primeiro filme, de 1993, revolucionou a era dos efeitos visuais com bonecos animatrônicos e CGI, pode-se perceber que o sexto filme da franquia continua impressionando e emocionando com os incríveis e realistas efeitos práticos. “Jurassic World: Domínio” utilizou tanto os animatrônicos quanto CGI para construir os dinossauros.
Ao
contrário dos animatrônicos, os efeitos digitais usados para criar os
velociraptores ficaram extremamente horríveis. A produção entrega um péssimo e
ineficaz trabalho de CGI. Infelizmente, é decepcionante perceber o quanto
“Jurassic World: Domínio” falhou nesse ponto – o que, a esta altura do
campeonato, já era para estar muito melhor do que 29 anos atrás, quando o
primeiro filme da franquia foi lançado. O péssimo uso de CGI neste longa em
questão – entregando um resultado ruim – só realça ainda mais o que longa de
1993 fez de melhor.
Sobre o incrível elenco, “Jurassic World: Domínio” conseguiu a emocionante proeza de reunir as 2 gerações, de ambas as trilogias. “Domínio” traz de volta o trio de personagens clássicos do primeiro Jurassic Park, e os coloca em parceria com a dupla principal de Jurassic World para uma incrível aventura, que precisará de toda a experiência possível de todos para resolver o enorme e catastrófico desastre ecológico apresentado na trama. A química entre Sam Neill, Laura Dern e Jeff Goldblum estão mais forte como nunca. Bryce Dallas Howard e Chris Pratt mantém o mesmo padrão de atuação, em termos de qualidade – entregando um trabalho excelente, como sempre. Vale destacar, também, o retorno de B.D. Wong como Dr. Henry Wu, cientista que fez sua estreia no primeiro Jurassic Park e voltou em todos os filmes de Jurassic World.
Sem
dúvida, o filme em tela pertence ao elenco clássico de Jurassic Park,
que, mais do que nunca, merecia participar deste grandioso e épico final.
Inegavelmente, esse encontro com o elenco atual de Jurassic World é justamente
o ponto positivo mais alto e mais forte da atual trilogia. A produção sabe
disso, e entrega esse encontro de forma emocionante; inegavelmente, era
justamente isso que o público mais queria nessa nova trilogia.
Steven Spielberg emocionou o público e marcou uma geração inteira com “Jurassic Park: O Parque dos Dinossauros” (1993), considerado um dos maiores clássicos do cinema. Depois de quase 30 anos, a franquia se encerra com uma nova trilogia e, com sucesso, rejuvenesce a história para novas gerações. E, nesse ponto em específico, “Domínio” fecha satisfatoriamente os arcos principais dos personagens atuais, principalmente o de Maisie Lockwood.
“Jurassic
World: Domínio” entrega todos os elementos narrativos que os fãs da franquia
precisam: dinossauros enormes e ameaçadores, muito suspense, várias cenas de
ação, momentos tensos e emocionantes. Somando-se a isso, a produção também
prima com o Design de Som, incrivelmente bem desenvolvido.
Não é exagero alegar que “Domínio” é o melhor filme da trilogia nova; haja vista que entrega uma empolgante e emocionante produção, cheia de adrenalina. Neste ponto, é importante frisar que o terceiro capítulo deixa de lado o tom narrativo mais sombrio que o diretor Juan Antonio Bayona inseriu em “Jurassic World: Reino Ameaçado” (2018). Com isso, o diretor Trevorrow retoma o tom narrativo adotado no primeiro Jurassic World, que ele mesmo dirigiu; o que é excelente.
Porém,
é necessário frisar a importância de se encerrar a franquia com este longa em
questão. Quando os dinossauros começam a aparecer em tela de forma secundária dentro de sua própria franquia,
muito provavelmente é hora de finalizar esse ciclo cinematográfico enquanto
está em sua melhor forma. “Jurassic World: Domínio” conclui sua trilogia não
apenas com um final triunfante, mas como uma franquia completamente esgotada e
já com sua temática explorada de todas as formas possíveis, eliminando
toda e qualquer possibilidade de se criar algo novo e desconhecido.
“Jurassic World: Domínio” está disponível na Amazon Prime Video.
Nota: 6.0