Adam Sandler é um divisor de águas. Há quem ame seus filmes e, também, há quem odeie. É verdade que Sandler tem uma extensa carreira em filmes pastelões de comédia, muitos dos quais com uma qualidade bastante duvidável. Porém, dentre tantas produções ruins, ainda se consegue encontrar alguma que seja realmente boa e engraçada – pode ser bastante raro, mas possível.
Entretanto,
em 2019, Sandler resolveu se aventurar no gênero de Drama, entregando uma
excelente atuação com o filme “Joias Brutas”. Seu papel dramático maximizou, de
forma intensa, a grandiosidade da atuação do ator e lhe rendeu um impecável
desempenho em tela. Agora, Sandler repete a dose em “Arremessando Alto” com uma
atuação brilhante e impecável.
Na trama, Stanley Sugarman (Adam Sandler, de “Joias Brutas”, 2019) é um olheiro profissional do basquete que está cansado de passar semanas na estrada procurando novas estrelas. Quando Rex Merrick (Robert Duvall, de “O Juiz”, 2014), o dono do time, morre, o filho Vince (Ben Foster, de “Contrato Perigoso”, 2022) assume a gerência e as coisas começam a desandar para Stanley. Com a carreira em ruínas depois de ser despedido do recém adquirido cargo de treinador do time, Stanley continua exercendo seu trabalho de olheiro sem muito propósito. Após muito tempo sem encontrar um talento nato do basquete, Stanley descobre Bo Cruz (Juancho Hernangómez), um garoto humilde da periferia espanhola que se mostra um excepcional jogador amador, jogando com um grupo em um parque nos arredores de Madri.
Stanley
decide levar Bo Cruz para os Estados Unidos e, a partir daí, o objetivo
principal do treinador é torna-lo uma estrela internacional do basquete. Mesmo
sem a aprovação do seu time, Stanley e Bo tem apenas uma chance de brigar por
um espaço na NBA. Motivado a despertar em Bo toda a paixão e dedicação
necessária para se destacar no esporte, Stanley acredita que, juntos, podem
alcançar o sucesso nas quadras e na história do basquete.
Não é o primeiro filme sobre esportes em que Adam Sandler atua – já tendo participado de “Um Maluco no Golfe” (1996) e “O Rei da Água” (1998). Porém, diferentemente destas duas produções, “Arremessando Alto” traz uma abordagem mais dramática e séria; sem comédia pastelão recheada de piadas e caretas bobas. Com isso, Sandler prova seu talento no gênero e entrega uma atuação extremamente promissora e notável em um papel dramático – talvez a sua melhor atuação desde “Joias Brutas” (2019). Não é exagero alegar que Sandler está impecável no papel de mentor e treinador, entregando uma atuação muito diferente do que o público está acostumado a assistir, além de trazer uma autenticidade genuína ao seu personagem. Sandler conseguiu repetir a mesma (excelente) performance que em “Joias Brutas”, com sucesso.
Adam
Sandler e Juancho Hernangómez tem uma química perfeita em tela. Eles conseguem transpor essa interação juntos em seus papeis de forma intensa e cativante. Com
isso, seus personagens conseguem entregar um relacionamento dinâmico e com
extrema fluidez. Da mesma forma, o filme em tela foca no relacionamento do personagem
de Sandler com a família. Essa dinâmica familiar também ajuda a construir um forte
vínculo de apoio entre os personagens, fortalecido ainda mais com a interação
entre Sandler e Queen Latifah, que formam uma ótima parceria juntos.
Por mais que pareça um drama da vida real (o que não é), “Arremessando Alto” não tenta reinventar a roda das produções esportivas. Tanto é que o filme não exige profundo conhecimento sobre o basquete, nem tenta explicar como ele é jogado. O objetivo da trama é apenas contar a história de dois homens tentando realizar seus sonhos – principalmente (e, talvez, mais interessante), levando em consideração que o personagem de Adam Sandler é uma pessoa de meia idade (no auge dos seus 50 anos) que ainda está lutando para conquistar seu desejo de se tornar treinador.
Como
em praticamente todos os filmes sobre esportes, “Arremessando Alto” não foge
dos elementos narrativos considerados clichês comuns; e alguns previsíveis,
até. Porém, o diretor Jeremiah Zagar os insere de forma leve e satisfatória, de
modo a apresentar um filme que evidencia o amor e respeito pelo basquete. E, de
fato, esses elementos clichês funcionam, haja vista que a narrativa precisa se
desenrolar e chegar a um final satisfatório.
“Arremessando Alto” é um drama esportivo com uma combinação agradável de humor, persistência e resiliência. Porém, o filme em tela também mostra um panorama geral de como os bastidores do ramo esportivo funcionam: há observações sobre os aspectos comerciais da indústria esportiva, bem como a atitude hostil que os próprios jogadores têm uns contra os outros.
No
entanto, o que mais chama a atenção na produção são as performances intensas e,
ocasionalmente, divertidas. À medida que o filme avança, o público aprende mais
sobre a relação entre Stanley e Bo, ficando claro o quão parecidas são essas duas
pessoas na vida, lutando por um futuro melhor.
“Arremessando Alto” pode não chegar ao topo de seu gênero como um filme de esportes, principalmente por não ser baseado em uma história real. Mas, com certeza, é uma adição poderosa para o gênero em questão, elevada por um roteiro ágil, com direção hábil e com excelentes atuações – principalmente de Adam Sandler, que mostra todo seu potencial ao entregar uma performance intensa e convincente no gênero dramático. O filme em tela pode não deixar de apresentar elementos narrativos considerados clichês (e levemente previsíveis), mas não são exagerados.
E,
talvez, a melhor coisa é que não importa se o público gosta de basquete: “Arremessando
Alto” tem o poder de ser fascinante, satisfatório e emocionante ao contar uma
história de luta, persistência, dedicação, superação e resiliência. Com isso, o
filme em tela consegue brilhar ainda mais ao se apresentar como um dos poucos dramas esportivos que consegue agradar não apenas os fãs de esporte, mas, também,
a todos que apreciam tal gênero cinematográfico.
“Arremessando Alto” está disponível na Netflix.
Nota: 8.5
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