Em meio a produções de ficção e outras sobre histórias reais, também há os filmes que se inspiram, parcialmente, em um caso real e apresentam roteiros cuja veracidade se dá somente em partes. Ou seja, determinados longas pegam uma história real e constroem um roteiro em volta desse caso, mesmo que não seja 100% retratado da forma como completamente ocorreu.

Silverton: Cerco Fechado” se encaixa nessa premissa. O filme em tela se inspira, parcialmente, em eventos reais que aconteceram no dia 25 de janeiro de 1980, em Silverton, subúrbio de Pretória, capital da África do Sul.

Após o fracasso de uma missão de sabotagem em um depósito de gasolina, um grupo de rebeldes sul-africanos, que lutam contra o Apartheid e pela liberdade, percebem que caíram em uma armadilha e que a polícia já estava à espreita para efetuar a prisão. Após uma fuga, eles buscam refúgio em um banco em Silverton, Pretória. Fazendo os funcionários do banco e seus clientes de reféns, o trio exige a libertação de Nelson Mandela em troca da libertação dos prisioneiros.

Os rebeldes causam alvoroço nacional, enquanto os riscos e as tensões aumentam. Para resolver o caso, o Capitão Johan Langerman (Arnold Vosloo, de “A Múmia”, 1999) é chamado para negociar com eles a respeito da libertação dos reféns antes que o exército tome conta da situação. Para piorar a situação, o grupo desconfia que há um traidor entre eles, sendo informante da polícia.

O Apartheid foi um regime radical de segregação racial, implementado pelo pastor protestante Daniel François Malan (então primeiro-ministro), na África do Sul entre 1948 a 1994, imposta pela minoria branca, que impôs severas restrições aos direitos dos negros. Nesse período, foi desencadeado uma onda de movimentos significativos de resistência anti-apartheid, gerando violência e um ciclo de retaliações violentas com o objetivo de desestabilizar o regime segregacionista através de atos de terrorismo.

Com base nisso, “Silverton: Cerco Fechado” é um filme de ação e suspense que relata, parcialmente, uma história real ocorrida no começo de 1980, onde um grupo que lutava contra esse radical regime segregacionista tinha se preparado para sabotar um depósito de gasolina; mas que, durante a execução, se viu emboscado pela polícia, que já tinha recebido a informação da operação. Com isso, o grupo se vê obrigado a encontrar refúgio dentro de um banco durante a fuga, fazendo cerca de 25 reféns, dentre funcionários e clientes. Presos dentro do banco, com a polícia à espreita do lado de fora, o grupo anti-apartheid aproveita a situação para exigir a libertação de Nelson Mandela – que cumpria prisão perpétua desde 1964 na prisão em Robben Island sob a acusação de sabotagem – em troca da soltura dos prisioneiros.

Dirigido por Mandla Dube e roteirizado por Sabelo Mgidi, “Silverton: Cerco Fechado” apresenta, de forma dinâmica e até bem realista, uma retratação de apenas alguns fragmentos do que realmente ocorreu no caso em questão. Com isso, Dube e Mgidi tomam a total liberdade de criarem um roteiro e direção a partir do incidente de Silverton Siege ocorrido na época, precisando fazer os devidos reajustes narrativos para que coubesse dentro de uma proposta adequada e pertinente.

Em suma, a película mantém os pontos básicos dos acontecimentos no incidente. Os principais são: o ataque ao depósito de combustível perto de Mamelodi, o confronto com a polícia, a fuga até o banco e o trio mantendo 25 reféns civis no andar térreo do banco por um período de seis horas. Mgidi manteve, de forma geral, o incidente que serviu de base para o roteiro.

Por outro lado, alguns outros pontos foram sendo retratados de forma completamente diferente ao longo do filme. O principal, de forma geral, é o final, que não se esforçou para permanecer fiel à realidade. A película altera alguns detalhes narrativos no desfecho, tal como o primeiro tiro dado, que, na realidade, ocorreu apenas por volta das 19 horas. Outro detalhe modificado é em relação à morte de dois reféns: o filme realmente retrata a morte deles, mas houve uma modificação nas circunstâncias em que isso aconteceu.

Em relação ao elenco, o único ator conhecido em “Silverton: Cerco Fechado” é Arnold Vosloo, que entrega uma atuação convincente e primorosa. O ator interpretou Imhotep nos dois filmes “A Múmia” (1999 e 2001) e, também, participou de outros filmes conhecidos, como “Diamante de Sangue” (2006) e “G.I. Joe – A Origem de Cobra” (2009). Excelente ator; porém, pouco reconhecido e com poucas atuações. É uma pena, pois ele merece mais participações.

Embora não seja 100% fiel ao ocorrido, “Silverton: Cerco Fechado” cumpre seu papel ao contar uma história no qual é apenas inspirada. Quando se usa um caso real como mera inspiração para que seja contada em forma de filme, a produção cinematográfica não tem a obrigação de transpor completamente a fidelidade de todos os fatos e detalhes que serviram de inspiração para o determinado longa. É o que diferencia filmes “inspirados” de “baseados” e “adaptados”. Com isso, entende-se que uma produção inspirada em tal fato é que tal produção apenas usa a ideia central para criar um roteiro inteiramente novo, mas apenas relacionado com o ocorrido.

Silverton: Cerco Fechado” mostra seu potencial ao entregar uma narrativa dinâmica e acelerada. De modo geral, é um filme que consegue agradar ao abordar uma história inspirada em um caso real, mesmo que de forma diferente do que realmente ocorreu na íntegra. Ainda que sendo apresentado superficialmente, a narrativa é intensa e mostra um conflito que ficou marcado na época de seu acontecimento. A produção conseguiu construir e entregar uma narrativa produtiva, com boas cenas de ação, diálogos breves e transmitindo a mensagem geral na qual foi proposta. E foi apresentada de forma satisfatória, mesmo alterando seu desfecho e misturando o que é real e o que é ficção.

Silverton: Cerco Fechado” está disponível na Netflix.

Nota: 8.0

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