Com frequência, são lançados filmes sobre casos reais que abordam desastres e crimes ambientais. O que muda são as maneiras como esses casos são retratados nas produções. Assim, embora a película não retrate 100% tudo da forma exatamente como ocorreu, o objetivo das obras cinematográficas é apresentar uma visão mais próxima, seja de forma inspirada ou baseada na determinada ocorrência.
E,
por mais incrível e sensacionalista que a história narrada nos filmes possa
parecer, é inegável o impacto e a eficácia que tais produções causam. “Minamata”
é um bom exemplo sobre um desastre ambiental chocante ocorrido em Minamata, cidade
japonesa localizada na província de Kumamoto, afetando milhares de pessoas que morreram
ou ficaram com graves sequelas por causa do envenenamento de mercúrio causado
por uma empresa de produtos químicos.
Na trama, W. Eugene Smith (Johnny Depp, de “Piratas do Caribe: A Maldição do Pérola Negra”, 2003) ganhou fama fotografando os horrores de guerra nas linhas de frente durante a Segunda Guerra Mundial, mas agora vive como um recluso. Quando Robert Hayes (Bill Nighy, de “Harry Potter e as Relíquias da Morte: Parte 1”, 2010), o editor da Life Magazine, pede ajuda a Eugene para expor um grande escândalo, ele retorna ao Japão para revelar ao mundo a realidade dos moradores de Minamata, uma cidade costeira em que a comunidade está sendo envenenada por mercúrio, causado pela negligência de uma poderosa fabricante de produtos químicos, em 1971.
Baseado
em uma história real, “Minamata” aborda um conflito ocorrido no Japão, em 1971,
no que ficou conhecido como o Desastre de Minamata, quando mais de duas mil
pessoas foram envenenadas por mercúrio ao consumir peixes contaminados pelos
dejetos jogados no mar por uma grande corporação química. Dirigido e
roteirizado por Andrew Levitas, o filme em tela é uma adaptação do livro
homônimo, escrito pelo próprio fotógrafo em conjunto de sua esposa Aileen
Mioko Smith, em 1975, e procurou mostrar o efeito devastador do envenenamento
por mercúrio em comunidades locais por uma grande empresa que despejou produtos
químicos em seus cursos de água.
“Minamata” é uma tentativa mais humanizada de se fazer uma denúncia sobre a história real de um crime ambiental que prejudicou muitas pessoas e matou tantas outras. Durante o longa, pode-se perceber o quão grave e devastadores foram os efeitos do envenenamento em massa da população pelo mercúrio. É mais um caso sobre pessoas afetadas pela negligência de uma empresa, que não se preocupou em despejar produtos químicos no ecossistema daquela região. Com isso, tais pessoas que sofrem com o crime ambiental e que são ignoradas pela empresa responsável são o foco da produção em questão; e tendo W. Eugene Smith com a missão principal de tirar fotos para denunciar o crime.
Assim,
como que de acordo, o filme em tela se propõe a mostrar os conflitos entre a
população com os responsáveis corporativos, tendo os militares presentes para
conter e controlar as manifestações. Ademais, a produção também apresenta os
chocantes efeitos dos produtos químicos na população local, que sofre com as
sequelas. Não é por menos que “Tomoko In Her Bath”, foto tirada por W. Eugene
Smith em 1971, é uma das fotos mais famosas do fotojornalista durante o Desastre
de Minamata.
Andrew Levitas tenta construir uma narrativa básica com base no panorama geral da aventura biográfica de W. Eugene Smith quando está prestes a se aposentar, mas que aceita realizar um último trabalho; desta vez no Japão, a pedido de dois jovens japoneses que conhecem seu primoroso trabalho durante a Segunda Guerra Mundial e resolvem pedir sua ajuda. Isso dá o foco necessário para que Levitas aborde a trama em pouco menos de duas horas de duração, retratando, brevemente, os casos de envenenamento daquela comunidade costeira.
“Minamata”
não teve grande divulgação na época de seu lançamento, em 2020, por conta do
envolvimento do escândalo entre Johnny Depp e Amber Heard. A obra foi
abandonada pela MGM, que havia adquirido o longa, mas que, posteriormente, não
demonstrou mais interesse na distribuição. Com isso, a produção ficou à deriva,
tendo, inclusive, sua estreia mundial exibida no 70º Festival Internacional de Cinema de Berlim, em fevereiro de 2020,
com o objetivo de encontrar uma distribuidora.
Após uma renegociação, o filme em tela foi adquirido para lançamento pela American
International Pictures (AIP), divisão da MGM que cuida dos lançamentos diários.
Após esse período transitório, “Minamata” chega ao Brasil sendo distribuído diretamente
no streaming da Globoplay.
É interessante e, ao mesmo tempo, chocante, ver quantos casos envolvendo crimes ambientais, vítimas sendo ignoradas e empresas fazendo descasos em meio a tudo isso. “Minamata” é só mais uma produção cinematográfica que aborda um caso dentre tantos que expõe essa narrativa, que impressiona o quanto uma população local sofre com os resultados das ações e/ou emissões dessas empresas, que, muitas vezes, acabam por negligenciar as pessoas afetadas, por estarem mais interessadas em obter lucros. E isso até ganhar uma enorme divulgação na mídia, que expõe tais empresas e ganham notoriedade nacional e até mesmo mundial. Destaque sobre isso pode ser visto ao final de “Minamata”, onde vários outros casos de crimes ambientais ocorreram; sendo exibidas várias fotos de conflitos e desastres ambientais, inclusive o de Brumadinho, em Minas Gerais, em 2019.
“Minamata”
é um drama simples que aborda o descaso de uma corporação responsável perante
uma comunidade costeira envenenada pela contaminação de mercúrio. Com isso, o
filme foca nos resultados impressionantes dessa negligência que afetam a
população local, que sofre com o impacto desse crime de forma dolorosa. É triste
de ver até que ponto a dimensão e gravidade com que um caso desse (e tantos
outros) vai; chegando até a banalizar a vida humana, que tenta (muitas vezes em
vão) lutar por retratações imediatas das empresas poluidoras, das autoridades e
responsáveis pelos danos ambientais.
“Minamata” está disponível na Globoplay.
Nota: 7.0
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