Todos os anos, sempre são lançados filmes apocalípticos, que causam a destruição global e/ou a aniquilação da humanidade. Cada produção aborda uma forma diferente de devastar o planeta e a sociedade, e uma vem sendo apresentada cada vez mais absurda que a anterior. É impressionante como as mais variadas e inimagináveis ideias de catástrofes são criadas.
“Moonfall:
Ameaça Lunar” chegou no começo de 2022 nesse prisma, explorando uma catástrofe
de nível global e mostrando ser um desastre, em todos os sentidos. E, não sendo
diferente, o longa apresenta uma ideia absolutamente incomum, trágica,
desastrosa, absurda e sem lógica alguma para contar uma tese nova neste círculo
de produções que tem como objetivo a destruição do planeta e da humanidade.
Na trama, uma força misteriosa tira a Lua da sua órbita por motivos desconhecidos e passa a se deslocar em direção à Terra, podendo causar uma colisão em breve, capaz de aniquilar toda a humanidade. Semanas antes do impacto, Jo Fowler (Halle Berry, de “John Wick 3: Parabellum”, 2019), ex-astronauta e vice-diretora da NASA está convencida que pode resolver essa situação e impedir que o impacto aconteça, mas os únicos que acreditam nela são Brian Harper (Patrick Wilson, de “Aquaman”, 2018), um astronauta com quem ela já voou junto em uma missão espacial dez anos antes, e o teórico conspiracionista, K.C. Houseman (John Bradley, de “Game Of Thrones”, 2011 – 2019); sendo que Houseman é quem descobre que a Lua saiu de órbita e está em direção à Terra após ter contato com um funcionário de um observatório no Chile.
Com
o mundo à beira da aniquilação, Jo Fowler precisará unir forças com o
colega astronauta e com o teórico da conspiração e, juntos, eles montarão um
plano de última hora para viajar ao espaço e evitar a catástrofe global. Em
situação de emergência, o grupo de cientistas não especializados no assunto precisam
ir até a Lua e impedir a colisão antes que a humanidade seja extinta. Mas, lá
descobrem que a Lua não é o que parece.
Roland Emmerich tem um grande histórico de dirigir filmes que abordam catástrofes, tais como os dois “Independence Day” (1996 e 2016), “Godzilla” (1998), “O Dia Depois de Amanhã” (2004) e “2012” (2009). Agora, o diretor entrega mais uma ficção científica com essa mesma narrativa, porém com um padrão completamente inferior e desprovido de qualquer conteúdo lógico.
Esse
enorme (e misterioso) interesse de Emmerich em apresentar produções que narram
a destruição da Terra atiça cada vez mais suas ideias em como criar diversas
formas catastróficas de produzir longas com essa temática. E cada projeto que
ele cria se mostra cada vez mais desastroso. “Moonfall: Ameaça Lunar” é a mais
recente produção do diretor, que, embora tenha capacidade para dirigir outras
histórias (tais como os excelentes “Stargate”, 1994, “O Patriota”, 2000, e
“Midway – Batalha em Alto Mar”, 2019), insiste em entregar mais um longa que
chega a ser um completo absurdo e sem nexo.
Filmes de ficção científica apocalípticos são exagerados e estão sempre (re)inventando maneiras de destruir o planeta e a humanidade. Todos (ou, pelo menos, a maioria) têm mais ou menos o mesmo molde: uma ameaça global se faz conhecida, heróis determinados se oferecem para salvar o planeta, os Estados Unidos sempre bolam um plano de salvação e resolvem tudo (é sempre só os Estados Unidos que tem essa capacidade para salvar o mundo; que coisa incrível né!), destruição e caos acontecem na Terra, parte do elenco morre e a narrativa fica melhor ainda se incluírem um nerd que é o único que sabe de tudo. Emmerich sabe disso, pois ele próprio já liderou produções com esses elementos. Porém, ao roteirizar e dirigir “Moonfall: Ameaça Lunar”, Emmerich tira o pé do freio no que se refere ao compreensível/razoável e aperta o pé no acelerador do absurdo.
Em
um roteiro que se preocupa mais em desenvolver uma forma mais catastrófica
possível de como a destruição da Terra vai ocorrer e menos com sua
plausibilidade, tende a cair no erro de faltar senso do ridículo e noção do razoável.
Isso se pode observar ao longo de “Moonfall: Ameaça Lunar”. E, talvez, seja o
filme mais absurdo da carreira de Roland Emmerich.
A narrativa de colocar a Lua como uma ameaça global sai de uma mera hipótese ao considerar que o satélite natural da Terra não é o que todo mundo pensa (apesar do que todos os cientistas dizem), apenas para argumentar, sem qualquer tipo de lógica, que o satélite é uma megaestrutura habitada por um elemento artificialmente inteligente e autossuficiente. E o primeiro a “descobrir” isso é sempre o nerd especialista em teorias da conspiração, que nunca é levado a sério e sempre ignorado (senão ridicularizado) pelas autoridades; mas, mesmo assim, é levado a bordo de uma nave espacial com destino à Lua sem nunca ter tido qualquer tipo de treinamento para tal.
Para
compensar qualquer dificuldade narrativa, o filme em tela resume bem
praticamente todas as burocracias e problemas técnicos que se exigem para, tão
logo, colocar a intrépida (mas parcialmente inexperiente) equipe a bordo de uma nave espacial direto à Lua. Esse atalho narrativo é justificado pelo melhor
aproveitamento prático do enredo, que precisa agilizar o desenvolvimento da
história para que tenha duas horas de duração – e para que caiba dentro do
orçamento também. Diga-se, de passagem, que “Moonfall: Ameaça Lunar” é um dos
filmes independentes mais caros já produzidos, com um orçamento entre US$138 a
146 milhões. Tal orçamento não condiz com a péssima produção que, de tão bombástica,
já pode ser cotada como um dos filmes mais catastróficos – com o perdão do trocadilho
– do ano. E olha que nem chegamos na metade do ano ainda.
Os dois únicos pontos positivos de “Moonfall: Ameaça Lunar” são o elenco e os efeitos especiais. O longa conta com a participação de Halle Berry e Patrick Wilson que, embora tenham uma sempre excelente atuação, parecem estar no automático. O destaque maior, desta vez, foi para John Bradley, que entregou uma atuação confortável e descontraída. Infelizmente, o impecável Donald Sutherland foi muito mal aproveitado, com um tempo em tela extremamente curto. Michael Peña também é outro ator que teve uma leve injustiça em tela, encarregado de dar vida a um personagem extremamente coadjuvante e descartável – o ator merece urgentemente ser superado nessa questão de representar tais tipos de personagens e começar a ganhar mais papeis centrais e de destaque em sua carreira.
Os
efeitos visuais realmente são impressionantes e dignos de filmes com a temática
de catástrofe global. “Moonfall: Ameaça Lunar” garante um espetáculo visual
convincente e condizente com a proposta. Roland Emmerich dificilmente falha
nesse quesito.
Por fim, em janeiro de 2022, Emmerich se pronunciou sobre a possibilidade de filmar duas sequências consecutivas caso “Moonfall: Ameaça Lunar” for um sucesso. É impressionante a capacidade que se tem para acreditar que tal filme, com tanta falta de lógica possível, pode fazer tamanho sucesso. O pior é que, por mínimo que seja, tal possibilidade ainda pode existir – o que é mais inacreditável ainda, se pensar que duas sequências dessa história sejam consideradas.
“Moonfall:
Ameaça Lunar” é um pacote básico de filmes catástrofes, que selecionam os
elementos narrativos mínimos essenciais para contar uma ficção científica
completamente absurda, exagerada e incoerente. O filme em si consegue ser um
desastre total, caindo no mais completo clichê e, incrivelmente, carregado de
cenas impactantes de destruição. Mas, uma coisa é certa: filmes catástrofes
ainda fazem um sucesso estrondoso, mesmo que sua proposta seja completamente
ridícula. Mesmo não sendo plausível, o longa em questão é um prato cheio para divertir
aqueles que buscam entretenimento barato e desprovido de qualquer lógica,
apenas.
“Moonfall: Ameaça Lunar” está disponível na Amazon Prime Video.
Nota: 2.5
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