Mesmo com atuação marcante de Olivia Colman, "A Filha Perdida" entrega um roteiro desinteressante e arrastado.


A Filha Perdida (The Lost Daughter) é um drama psicológico estadunidense, baseado no livro de mesmo nome de autoria de Elena Ferrante, escrito e dirigido pela estreante Maggie Gyllenhaal, atriz conhecida e ganhadora do Globo de Ouro pela minissérie feita para televisão The Honourable Woman.

O longametragem teve sua estreia mundial em setembro de 2021 no Festival Internacional de Cinema de Veneza e chegou ao catálogo da Netflix em 31 de dezembro de 2021.

Na trama acompanhamos a professora universitária de 48 anos, Leda (Olivia Colman), que passa suas férias de verão sozinha em uma bela praia da Grécia. Lá, ela fica obcecada por Nina (Dakota Johnson) e sua filha, o que se torna um gatilho para antigas memórias de sua própria maternidade virem à tona.

O filme consegue cultivar a curiosidade e prender a atenção em seu primeiro terço. Pouco a pouco, assim como Leda, passamos a observar atentamente Nina e sua família, bem como as nuances das relações a partir de uma ótica externa, enquanto ao mesmo tempo ficamos cada vez mais intrigados acerca do passado da própria Leda, por meio de flashbacks da vida da professora, agora em sua versão mais jovem, e interpretada pela brilhante Jessie Buckley.

Passada sua hora inicial, no entanto, é como se a história simplesmente se arrastasse. Ainda que assistamos a uma temática relevante, que é a maternidade real e despida de protocolos e deslumbres, ela nos é apresentada de maneira desorganizada, sem crescentes, sem um propósito concreto e isso a torna desinteressante. É importante frisar que nem tudo o que funciona na literatura, necessariamente se adequa da mesma forma às telas e eis aí a falha de Gyllenhaal.

É como se a narrativa tentasse nos ludibriar, fazendo-nos crer que talvez a força motriz do temperamento da protagonista fosse o luto. E é importante deixar claro que é justamente isso o que se espera de um drama psicológico. O problema é quando não há contrapartida. Ou seja, acompanhamos o caos e a complexidade no que mais parece ser uma linha reta. Como se estivéssemos vendo um reality show da vida daquelas mulheres sem nenhum objetivo relevante.

Enquanto o roteiro é desinteressante, saiba que o elenco é justamente o contrário e muito bem dirigido. Olivia Colman entrega uma personagem cheia de camadas, difícil de se desvendar e, especialmente, realista. Ela consegue externalizar os fantasmas de sua experiência como mãe de uma forma única e mostra que nem tudo é um mar de rosas e que nem todas as mães obrigatoriamente têm que agir mediante uma fórmula pré-determinada.

Para alguns talvez sua personagem surja apenas como uma péssima e egoísta mãe, mas o intuito aqui é mostrar que o conceito de maternidade é muito maior do que hormônios e que nem todas as mulheres estão destinadas para essa missão da mesma forma.

Jessie Buckley, como a Leda ainda jovem, captura com precisão o fardo dessa controversa mãe e se sai muito bem. Dakota Johnson, por sua vez, não fica atrás e corrobora seu talento fechando esse trio feminino que é de longe o que nos segura até o final do longa.

O filme traz ainda o debate sobre culpa e relações familiares, com situações de cotidiano que apesar de exploradas de uma forma quase artesanal por Maggie Gyllenhaal, que soube aproveitar bem os cenários e a atmosfera local ao seu favor, simplesmente não conseguem prender a atenção por serem excessivamente chatas.

Maggie Gyllenhaal  nos deixa propositalmente sem respostas e isso evidencia que a proposta é exclusivamente mostrar a complexidade e o caos que pode residir em uma mulher. Se funcionou essa aposta? Não. Em especial, por em seu cerne não termos uma personagem necessariamente empática ao público.

A Filha Perdida é mais uma daquelas películas cult que apontará discrepâncias significativas nas avaliações da crítica especializada e público geral. De um lado teremos amantes e defensores ferrenhos da obra, do outro, espectadores comuns lutando para não cair no sono antes do seu desfecho. Nessa luta, eu fico do lado dos comuns.

Nota: 5,5

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