Quando o autor polonês Andrzej Sapkowski criou, nos anos 1980, a série de livros “Wiedźmin” (traduzido no Brasil como “The Witcher: A Saga do Bruxo Geralt de Rívia”), reunindo contos e romances sobre o Bruxo Geralt de Rívia, ele não imaginaria que suas obras fariam tanto sucesso assim.

Expandindo para fora do universo literário, a coletânea, que começou a ser publicada em formas de livros em meados dos anos 1990, não só foi publicada em Histórias em Quadrinhos em seis álbuns, mas, também, foi adaptada para vários formatos de jogos, dentre eles: jogos de RPG, jogos de cartas, jogos de tabuleiro e uma incrível trilogia de videogames.

Mas, a gama de adaptações do bruxo mutante não parou por aí. As histórias do Bruxo Geralt de Rívia também alcançaram o cinema e televisão. No cinema, foi lançado um filme polonês, intitulado como “The Hexer”, em 2001, com 130 minutos de duração. Basicamente, o filme é vagamente baseado na série de livros de Andrzej Sapkowski, de forma extremamente condensada e, também, é um resumo de uma mesma série polonesa de televisão, de 13 episódios, que foi transmitida em 2002 pela emissora polonesa TVP2.

Mais tarde, chegou a vez de “The Witcher” conquistar a televisão. Em maio de 2017, a Netflix anunciou que daria início à produção para adaptar as obras de Andrzej Sapkowski em formato de série para ser lançada no streaming. Criada por Lauren Schmidt Hissrich como showrunner para a Netflix, a série “The Witcher” deu início às filmagens no final de outubro de 2018, na Hungria, Espanha e Polônia. A première de “The Witcher” ocorreu em Varsóvia, em 18 de dezembro de 2019, e sua estreia mundial foi em 20 de dezembro de 2019.

Na trama de “The Witcher”, Geralt de Rívia (Henry Cavill, de “O Homem de Aço”, 2013) é um bruxo mutante com poderes especiais, altamente treinado e exímio combatente, que mata monstros perigosos por dinheiro. Sendo um dos poucos bruxos remanescentes, Geralt de Rívia é um solitário viajante que luta para encontrar seu lugar num mundo onde as pessoas, muitas vezes, são mais cruéis do que as criaturas selvagens que ele encontra.

A Terra está num estado de caos enquanto o império de Nilfgaard procura expandir o seu território. Entre os refugiados desta luta está Cirilla (Freya Allan), a Princesa do reino de Cintra, que está sendo perseguida por Nilfgaard e acaba se tornando protegida de Geralt de Rívia após Cintra ser ocupada por Nilfgaard. Além disso, o caminho de Geralt de Rívia também irá cruzar com algumas figuras que mudarão sua vida. Em suas aventuras, Geralt de Rívia conhece o bardo Jaskier (Joey Batey) e Yennefer de Vengerberg (Anya Chalotra), uma poderosa feiticeira.

A primeira temporada acompanha os personagens em três linhas do tempo diferentes até que, finalmente, suas vidas são conectadas quando se juntam na Batalha de Sodden Hill contra os invasores de Nilfgaard. No decorrer da série, os diferentes arcos se entrelaçam simultaneamente de forma não linear e as passagens entre um arco e outro ocorrem de maneira brusca; o que pode confundir um pouco aos que não prestarem muita atenção na narrativa durante essa transição. Cada episódio de “The Witcher” narra os personagens em uma sequência de eventos em épocas diferentes, dando saltos temporais de um evento à outro de forma totalmente direta e sem identificação, e cabe ao telespectador identificar cada uma conforme os fatos são apresentados.

Para aqueles que não estão familiarizados com os livros e/ou com os games da saga, pode ser um tanto complicado e difícil pegar o fio da meada da série logo de início. Isso se dá porque a primeira temporada adapta nove contos dos dois primeiros livros da Saga, “A Espada do Destino” e “O Último Desejo”; livros estes que, na verdade, são coletâneas de contos publicados em formatos de livros. E estes dois primeiros volumes são de extrema importância para a adaptação da Netflix porque são neles que os personagens são apresentados, juntamente com o ambiente e os eventos em que eles estão inseridos, além de explicar a origem de todos eles.

O problema é que o autor da saga nunca criou um mapa para estabelecer, geograficamente, onde cada reino da série fica exatamente; nem em que continente a história se passa. E assistir uma série baseada em uma coletânea de livros que não estabelece os locais em que os personagens moram e se aventuram é mais complicado do que se imagina; ainda mais para aqueles que não leram os livros ou jogaram os jogos de videogame.

Isso se deu porque “The Witcher” ficou muito apegado aos livros, sem ter liberdade criativa para criar uma localização precisa dos reinos estabelecidos em tela e, assim, ajudar o espectador a se situar geograficamente ao acompanhar os personagens durante os episódios. A adaptação do material base transportada para a tela, nessa esteira, tentou ser o mais fiel possível, haja vista que os dois primeiros livros também não se aprofundam nas localizações geográficas da história em questão, e a série também não sanou esse problema. O mesmo ocorre em relação à época de cada evento ou personagem nele inserido e sua transição de um período para outro.

Embora haja essa complicação geográfica, “The Witcher” é impecável em outros aspectos. A própria história, em si, sobre bruxos, feiticeiras, elfos e criaturas já é um universo literário gigantesco e fantástico, cujos elementos fantasiosos podem ser amplamente explorados, e sempre sendo um gênero que agrada um público grande.

A ambientação, cenário e fotografia da primeira temporada também estão deslumbrantes e tudo está visualmente muito bonito. O mesmo se pode falar sobre o figurino, bem adequado à uma época em que, apesar de ser fantasiosa, é condizente com o gênero em questão.

As atuações em “The Witcher” estão excelentes e muito bem contracenadas, principalmente do que diz respeito às coreografias de lutas. Em especial a de Henry Cavill, que está impecável como Geralt de Rívia. Quando foi anunciado, em setembro de 2018, que Henry Cavill foi escalado para seu personagem na série, ele estava mais do que preparado para interpretar o bruxo mutante, não só em termos de preparação física e artística, mas, também,  sobre o assunto em si, haja vista que o ator britânico já conhecia o universo de “The Witcher” havia tempos anteriores, já que ele é costumeiro jogador dos jogos de videogame da saga em tela. Inclusive, estes games serviram como base de inspiração para Cavill conhecer os trejeitos visuais e comportamentais do personagem para, assim, adaptá-los em sua atuação.

Porém, o único ponto que incomoda, visualmente falando, sobre o personagem de Cavill, é a peruca usada pelo ator para personificar seu personagem. Elemento mal utilizado, que causou certa estranheza e deixou o ator esquisito. Erro este que foi corrigido na segunda temporada, felizmente.

Apesar da primeira temporada de “The Witcher” ser um pouco confusa em relação à sua estrutura narrativa, a série é uma excelente e fiel adaptação das obras do escritor polonês Andrzej Sapkowski, que apresenta uma história fascinante, envolvente, cheia de ação e recheada de conceitos mitológicos. É uma ótima opção para quem gosta do gênero, principalmente àqueles que são já fãs dos livros e games.

A primeira temporada de “The Witcher” está disponível na Netflix desde dezembro de 2019.

Nota: 8.5

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