Adam McKay entrega uma sátira ao negacionismo, atual e extremamente necessária.
Os dois últimos anos têm sido no mínimo caóticos a nível mundial. Enquanto o negacionismo estava concentrado em ideias absurdas, embora de certa forma inofensivas ao coletivo, tais como a de que a Terra é plana, não percebemos o perigo à espreita. Com a pandemia e o crescimento de grupos antivacina, enxergamos da pior forma possível os reais riscos da existência de extremistas anticiência. E é justamente levando à reflexão sobre a gravidade desse tema, que Adam McKay vem nos provocar com o seu mais novo longa.
Não Olhe Para Cima (Don't Look Up) é um filme estadunidense de catástrofe de cunho satírico escrito, dirigido e produzido por Adam McKay, que venceu o Oscar por melhor roteiro adaptado com A Grande Aposta (2015) e assina a produção da melhor série de 2020, Sucession, além de participar de outros sucesso como Vice (2018). O filme original Netflix foi lançado no catálogobdo streaming no dia 24 de dezembro.
O longa narra a história de dois astrônomos, Kate Dibiasky (Jennifer Lawrence) e Dr. Randall Mindy (Leonardo DiCaprio), que após descobrirem que um cometa está em rota de colisão com a Terra vão ter que convencer o mundo, incluindo as principais autoridades americanas, a acreditarem nisso.
O que era para ser uma sátira acaba nos assombrando pelo tamanho realismo e similaridade com o que estamos vivendo. De forma ácida, McKay consegue mostrar como o negacionismo cega e é capaz de colocar tudo o que temos em risco. Ele não deixa também de alfinetar o sistema capitalista, ao representar os bilionários que posam como grandes apoiadores da humanidade, mas que no fundo têm como único objetivo aumentar seus lucros não se importando com o que isso possa custar aos demais.
O estilo de filmagem é bem clássico de McKay, com as câmeras se posicionando como se o longametragem fosse uma espécie de documentário, com seus closes e dinâmicas que dão ênfase à personalidade de seus personagens. Alguns cortes caóticos alcançam bem o objetivo de evidenciar o caos e o drama iminente.
O ritmo, no entanto, pode incomodar em sua metade um pouco arrastada. E apesar do tom ser propositalmente de sátira, em um apocalipse global é de se esperar o envolvimento de outras grandes potências mundiais. Ao mostrar basicamente um único ponto de vista, o filme perde em sua mensagem.
Os efeitos especiais não incomodam, contudo também ficam dentro da zona apenas do aceitável. Em um filme com elenco estelar, era de se esperar um melhor investimento no CGI.
Por falar em elenco, vamos aos nomes de peso que participam da trama. Como protagonista, Leonardo DiCaprio arrasa na pele do ansioso Dr. Mindy. Os momentos de crise de pânico do astronômo são extremamente verossímeis e ele representa bem como algumas pessoas podem facilmente se tornar massa de manobra do sistema.
Jennifer Lawrence mais uma vez entrega um excelente resultado como Kate. É através de sua personagem que o filme alfineta acerca da pauta sexismo. Na trama, a mídia escolhe taxá-la como a "surtada" simplesmente por ela se posicionar e falar as verdades que ninguém quer ouvir e por não apresentar a "aparência" e comportamento que a mídia deseja.
Como a presidente dos Estados Unidos, Janie Orlean, temos a brilhante Meryl Streep. Seu assessor e filho na trama é interpretado por Jonah Hill, e este costuma dividir opinões sobre seu timing e estilo de humor. Eles representam o núcleo negacionista, que incomoda e nos tira do eixo como fazem os da vida real. Para alguns o humor aqui pode soar como forçado, porém com o laboratório que temos no Brasil, ele passa a ser observado com muito mais razoabilidade e coerência.
E não pense que os nomes de sucesso param por aí. Temos ainda Cate Blanchett, Rob Morgan, Timothée Chalamet, Ariana Grande, entre outros! Haja cachê pra pagar toda essa gente!
A película não se esquece de abordar os famosos muristas, também conhecidos como neutros, que ao não se posicionarem acabam dando forças aos negacionistas. Chris Evans evoca esse tipo de gente em uma breve participação especial no final da história.
Fica o alerta aqui para duas cenas pós-créditos que são bastante relevantes e que podem passar batidas, já que o filme não é da Marvel!
Com acidez e provocação o filme consegue impactar e deixar sua marca com um final bem chocante e plausível, ainda que numa sátira. Sua abordagem não é apenas atual, como é necessária. Portanto, entre os indicados nas temporadas de premiações, coloquem este na lista de prioridades.
Não Olhe Para Cima concorre a alguns prêmios no Globo de Ouro, entre eles melhor filme de comédia ou musical, melhor ator com Leonardo DiCaprio e melhor atriz com Jennifer Lawrence e certamente estará em outras premiações.
Você confere a lista completa de indicados ao Globo de Ouro 2022 clicando AQUI.
Nota: 8,0
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