Na teoria, dramas sobre superação são agradáveis de serem assistidos e funcionam como base de inspiração para quem os assiste. Mas, na prática, nem todos conseguem sair da fórmula genérica de um filme clichê, que apresenta apenas o básico e não consegue dar um engajamento necessário para se destacar entre os longas típicos do gênero.
É
este o caso de “Ferida”, que, após ser exibido no Festival Internacional
de Cinema de Toronto de 2020, foi comprado pela Netflix por cerca de US$ 20 milhões
de dólares e disponibilizado no catálogo do streaming no último dia 24 de
novembro.
O filme em tela conta a história de Jackie (Halle Berry, de “John Wick 3: Parabellum”), uma lutadora de MMA em decadência que falhou na única coisa que ela sempre foi boa: lutar. Depois de largar os ringues, Jackie passa a lutar contra a depressão e alcoolismo, além de sofrer com o namorado abusivo, enquanto trabalha de diarista para pagar as contas.
Quando
Manny, o filho de seis anos que ela abandonou com o pai, é deixado na porta de
sua casa, Jackie tem que vencer seus próprios demônios, tentar dar a volta por
cima e batalhar por uma vida melhor. Assim, ela recebe uma chance de voltar aos
ringues, recuperar a carreira e ganhar a oportunidade de dar uma vida melhor
para o filho. Para isso, Jackie deve enfrentar uma das estrelas em ascensão
mais ferozes do mundo do MMA e lutar para se tornar a mãe que o filho merece.
“Ferida” é o primeiro filme dirigido por Halle Berry, que também protagoniza o papel principal, e já estava treinando artes marciais havia três anos quando recebeu o roteiro, assinado pela, também, estreante, Michelle Rosenfarb. Em sua estreia na cadeira de diretora, Halle Berry se mostra um tanto tímida demais ao dirigir e apresentar um filme que se mantem parado demais em sua exaustiva duração, que ultrapassa um pouco mais de 2 horas.
Apesar
da história central ser emocionante, sobre uma mulher cujo mundo virou de ponta
cabeça ao acolher o filho abandonado, dar a volta por cima nos ringues e
superar as adversidades da vida, “Ferida” falha ao explorar mais a construção dos
personagens e suas emoções ao longo de sua narrativa; com isso, o roteiro acaba
se esquecendo de engrenar uma marcha mais rápida para contar uma história que parece
que não sai do lugar. Berry focou mais no desenvolvimento dos personagens do que
na história, propriamente dita. O resultado é que “Ferida” se tornou um filme
com atuações ótimas, mas com roteiro ruim, tornando-se um filme lento e demorado
demais.
Halle Berry é uma excelente atriz (com exceção de “Mulher-Gato”) e sua atuação em “Ferida” é a melhor parte do filme, convence e se entrega totalmente às emoções que a personagem precisa passar. Mas, como diretora, parece que esqueceu de ocupar todas as funções que a cadeira necessita. O longa em questão quis prometer demais, mas entregou de menos.
O
pior é que “Ferida” entregou uma história de superação cheia de clichês e longa
demais, com uma história um tanto vazia demais. Um filme que se aprofundou mais
na caracterização dos personagens, explorando suas emoções e como eles se
encaixam no ambiente ao seu redor e acabou por se esquecer de engrenar a história.
Com isso, parece que o filme em tela entrou no modo automático ao contar uma história sobre superação de forma genérica e vazia demais, apenas movimentando seus personagens ao longo de mais de 2 horas de duração como peças de xadrez. Seus personagens não tiveram desenvolvimento algum, apenas representações exaladas de emoções muito bem exploradas pela direção, que tenta contar uma história de superação de forma sombria.
Embora
“Ferida” tenha cenas de lutas muito bem coreografadas e bem encenadas – o que, talvez,
compense todo o lado dramático da história –, o filme em tela não é muito
envolvente, além de ser bastante vazio em seu conteúdo. O que é triste, pois o
enredo prometia uma história bacana sobre uma mulher derrotada pela vida que
precisa voltar a lutar no octógono para superar derrotas do passado. Porém, o
que compensa o filme é a excelente atuação de Halle Berry, que sabe entregar um
trabalho talentoso e convincente.
“Ferida” já está disponível na Netflix desde o dia 24 de novembro.
Nota: 5.5
Postar um comentário