Embora o faroeste tenha “saído de moda” um pouco a partir dos anos 2000, ainda se vê algumas produções do gênero sendo realizadas nestes últimos 20 anos, mesmo que não tenham conseguido alcançar o mesmo patamar dos clássicos entre as décadas de 1960 a 1990, tais como “Meu Ódio Será Sua Herança” (1969), “Era Uma Vez no Oeste” (1968), “Os Imperdoáveis” (1992) e “Wyatt Earp” (1994).

Mas, ainda assim, alguns ótimos filmes de faroeste conseguiram se destacar nesse meio, como, por exemplo: “Django Livre” (2012), “Bravura Indômita” (2010), “Pacto de Justiça” (2003), “Desaparecidas” (2004), “Os Indomáveis” (2007) e “Os Oito Odiados” (2015). E, também, incluo o remake (do original de 1960 – excelente também) do filme “Sete Homens e Um Destino” (2016) que, mesmo tendo sido criticado, tem um elenco de peso, excelentes atuações e uma história bacana.

E “Vingança & Castigo” provou que ainda se sabe produzir um excelente faroeste, digno dos grandes clássicos antigos. O mais novo filme de faroeste, lançado na Netflix no último dia 3 de novembro, conta com a direção de Jeymes Samuel (que, apesar de estar dirigindo seu primeiro filme – excelente por sinal –, já dirigiu o curta-metragem “They Die by Dawn”, em 2013) e com um excelente elenco de peso, tais como Idris Elba (de “Thor”, 2011), Regina King (de “Inimigo do Estado”, 1998), Delroy Lindo (de “Destacamento Blood”, 2020), LaKeith Stanfield (de “Judas e o Messias Negro”, 2021), Zazie Beetz (de “Deadpool 2”, 2018) e Jonathan Majors (de “Destacamento Blood”, 2020 – ator este que interpretará Kang, o Conquistador, no U.C.M.).

Na trama, Nat Love (Jonathan Majors) é um fora da lei, nos Estados Unidos do século XIX, que rouba o dinheiro dos criminosos que já haviam assaltado bancos e trens pagadores. Ele descobre que seu maior inimigo, Rufus Buck (Idris Elba), um impiedoso criminoso e violento assassino, será libertado da prisão pelos seus companheiros do bando e perdoado pelos crimes que cometeu. Buck também é responsável pela morte dos pais de Nat Love, presenciando os assassinatos aos dez anos de idade, o que fez com que Nat Love nutrisse um ódio profundo em busca de vingança por Buck.

Tomado pelo desejo de vingança, Nat Love reúne seu grupo de pistoleiros para caçar Rufus Buck em uma busca incessante por vingança. Ao ser resgatado na cela do trem em que estava sendo transportado, Rufus também reúne seu bando de criminosos e volta à ativa. Com isso, Nat Love deve elaborar um plano de vingança, para conseguir chegar até Rufus e vingar a morte de seus pais. Assim, ambos os lados devem fortalecer suas alianças e se prepararem para uma violenta e perigosa batalha no velho oeste.

Vingança & Castigo” já se mostra intrigante desde o começo, conduzindo assassinatos e tiroteio que, à primeira vista são injustificados, mas, com maestria, consegue segurar a explicação até o final. E, no meio de tudo isso, não economiza ação, pois o filme em tela é carregado de cenas de tiroteio.

Vingança & Castigo” conseguiu trazer, em sua profundidade, a essência dos filmes clássicos de faroeste antigos, não perdendo sua identidade própria e sem parecer um filme que tentou copiar elementos já apresentados anteriormente em outros filmes do gênero. Mais importante do que apresentar os clichês básicos dos faroestes, o longa em questão consegue satisfazer, com muita competência, aqueles que gostam de faroeste, sem capengar com cenas monótonas de jogos de pôquer nos saloons, conversas por demais longas, poucos momentos de tiroteio e planejamento exagerado de um plano de vingança que dura um filme inteiro que só vai ser executado no último ato. “Vingança & Castigo” é sobre um filme que há um planejamento de vingança, sim, mas foge daqueles filmes monótonos em que só há conversas demais e ação de menos.

Mais do que um simples faroeste com cenas de tiroteio, “Vingança & Castigo” também apresenta cenas de drama, romance e um certo humor ácido, tudo colocado em medidas exatas ao longo da trama, em meio a muito sangue, não descaracterizando seu ponto principal, que é contar uma história no velho oeste sobre assaltos a bancos, trens, assassinatos e, obviamente, sobre crimes e vingança. E tudo isso sem exagerar na violência, mantendo o estilo básico que todo filme de faroeste precisa para agradar aqueles que gostam deste gênero.

Apesar de ser seu primeiro filme na direção, Jeymes Samuel, que também assina o roteiro juntamente com Boaz Yakin, impressiona com o excelente trabalho apresentado, conduzindo uma trama excepcional dos filmes de faroeste e transportando para a tela, de forma clara, a mensagem que o roteiro queria dizer, além de explorar ao máximo a condução dos atores em cena, que também apresentaram uma excelente atuação. Mesmo com maior complexidade e motivações claras acerca de suas ações, seus personagens tem um alto potencial pesado, pois eles estão carregados de ódio e rancor, o que os motivam serem violentos.

Destaque para a parte visual e estética de “Vingança & Castigo”, que foi muito bem explorada, tanto nos planos abertos como nos fechados. O filme em tela sabe ser visualmente colorido, nos momentos certos, sem exagerar em suas proporções, bem como também sabe exibir-se no oposto disso, ou seja, sabe ser acromático em outros determinados momentos. Essa contraposição é bem equilibrada ao longo do filme em questão, sem ferir a fotografia do filme e nem cansa os olhos de quem o assiste, visualmente falando.

O grande diferencial de “Vingança & Castigo” é o excelente elenco. O filme em tela se destaca ao apresentar um faroeste composto, majoritariamente, por atores negros. Somada, também, com a equipe técnica inteira, “Vingança & Castigo” é uma obra que, evidentemente, reestrutura a parte inclusiva étnica em uma produção deste gênero, que se totaliza em 95% de toda a sua composição. Isso traz uma importância para o filme de tal forma que torna “Vingança & Castigo” um filme original e especial, mesmo que histórias semelhantes já tenham sido contadas antes. E, com certeza, isso traz uma força enorme e significativa para a importância da representatividade. “Vingança & Castigo” saiu do estereótipo de que só víamos mocinhos e vilões brancos no velho oeste, trazendo uma roupagem moderna para o gênero.

Outro ponto que merece destaque é a trilha sonora diferenciada. O filme em tela foge dos tradicionais instrumentos musicais usados para compor as trilhas sonoras de faroestes – tais como violões, flautas, violinos e, dinamicamente, substitui por rap, reggae e soul. Entre os sucessos contemplados estão incluídos vários talentos, como JAY-Z, Lauryn Hill, Seal e Jadakiss. Tal decisão, tomada pelo diretor Jeymes Samuel, mesclou os gêneros de uma forma completamente inovadora e, com certeza, elevou “Vingança & Castigo” a um filme bem estiloso, musicalmente e artisticamente falando.

Por fim, não se pode deixar de mencionar a belíssima homenagem que “Vingança & Castigo” faz ao falecido e querido ator Chadwick Boseman. Em um determinado trecho do filme, pode-se perceber que o nome C. A. BOSEMAN (Chadwick Aaron Boseman, nome completo do ator) está estampado na lateral de um trem. O excelente ator e eterno rei de “Pantera Negra” (2018) faleceu em agosto de 2020, devido a um câncer de cólon.

Vingança & Castigo” conseguiu inovar o gênero de filmes de faroeste, tornando-se moderno e estiloso, ao mesmo tempo em que presta inúmeras referências aos clássicos antigos, com enorme competência. Com isso, consegue agradar quem gosta de faroestes, pois, sem dúvida, é um filme que contempla ação e tiroteio do começo ao fim com uma história agradável e convincente, além de contar com um excelente elenco.

Vingança & Castigo” está disponível na Netflix.

Nota: 9.5

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