Filmes de terror e de suspense psicológicos que mexem com a mente e com o subconsciente da pessoa sempre instigam com a nossa curiosidade, mas, dependendo da abordagem que o longa faz, também causa intriga, por usar de técnicas que, na vida real, não existem.

Hypnotic”, lançado na Netflix em 27 de outubro, é um suspense que usa a hipnose como tema principal, até consegue entreter e deixar apreensivo, mas não consegue fugir da premissa acima. Controlar a mente de outras pessoas com simples sessões de hipnose e palavras-chave pode até ser fascinante dentro de um universo cinematográfico, mas, ainda assim, não deixa de ser absurdamente exagerado.

Na trama, Jennifer Tompson (Kate Siegel, de “Missa da Meia-Noite”, 2021) é uma mulher que está tentando mudar sua vida após sofrer um aborto espontâneo e, com isso, se sente estagnada em sua vida, tanto pessoal quanto profissionalmente. Assim, ela busca a ajuda do Dr. Collin Meade, um terapeuta bastante renomado e especialista em hipnotismo. Jennifer decide participar de algumas sessões de hipnotismo com o Dr. Meade, para tratar de seus traumas recentes e poder seguir em frente com sua vida e em seu relacionamento com seu noivo. Mas, depois de algumas sessões intensas, ela percebe que sua terapia está lhe deixando pior.

Jennifer descobre, então, que a terapia tem efeitos estranhos e sinistros sobre ela, causando-lhe lapsos de memória, e que parecem estar ligados a uma série de mortes misteriosas, principalmente envolvendo outros pacientes, e que acontecimentos estranhos começam a acontecer, revelando inesperadas e mortais consequências. Assim, ela acaba envolvida em um jogo mortal ao descobrir que o Dr. Meade não é quem ele aparenta ser, mostrando-se mais perigoso do que se imagina. Agora, ela precisa contar com a ajuda de sua melhor amiga, Gina, e do detetive de polícia, Rollins, para desvendar o que está acontecendo.

A ideia principal de “Hypnotic” é bem básica e, no contexto, chega a ser um pouco interessante e até assustadora, pelo fato de que vemos alguém perder o controle de sua vida e não poder fazer nada, ficando à mercê dos comandos de outra pessoa. Porém, é extremamente exagerada, uma vez que o filme em tela se baseia na premissa de que hipnose causa alucinações e dá ao hipnotizador o poder de controlar a mente do paciente. E tal conceito sobre a hipnose, apresentado em “Hypnotic”, é totalmente equivocado, apresentando no longa apenas uma visão distorcida e fantasiosa sobre como o hipnotismo funciona.

Mas, o que seria de “Hypnotic” se o hipnotismo não fosse confabulado da maneira como foi explorado no filme em questão? Com certeza, não seria tão interessante e assustador assim, tal como foi mostrado. Ou seja, o longa abusa da liberdade criativa sobre um determinado assunto como gancho para criar uma história intrigante e, assim, chamar a atenção, além de divertir, é claro.

Hypnotic”, cujo roteiro é assinado por Richard D’Ovidio (“Chamada de Emergência”, 2013), é curto – mal chega a uma hora e meia –, mas não é parado e nem deixa a desejar como filme de suspense, já logo mostrando em sua cena inicial o prelúdio do que está por vir, embora explore a hipnose, como já dito antes, de forma fantasiosa e equivocada. Os diretores Matt Angel e Suzanne Coote (de “Vende-se Esta Casa”, 2018) conseguiram transpor um filme rápido e dinâmico que não perde tempo em ficar dando altas explicações sobre o assunto.

Kate Siegel, mais uma vez, demonstra capacidade e profissionalismo ao interpretar sua personagem em um filme de suspense, convencendo com sua excelente atuação, se destacando, ganhando bastante espaço e notoriedade em filmes e minisséries de suspense e terror. Jason O’Mara, que interpreta o Dr. Meade, também consegue convencer como um terapeuta frio, calculista e habilidoso na arte da hipnose (embora, mais uma vez, a técnica apresentada no filme em tela seja fantasiosa no mundo real); contudo, as suas motivações para fazer o que ele faz não convencem de forma alguma, sendo, sobretudo, injustificadas e até chegam a ser ridículas.

De uns tempos para cá, a Netflix começou a investir em filmes medíocres, que não sabem em que praia surfar e, com isso, lança em sua plataforma longas que até apresentam climas tensos, mas que não decidem se são de suspense ou de terror. O roteiro fica na corda bamba entre um gênero e outro e acaba entregando ao telespectador uma mesclagem esquisita que, para alguns, até podem satisfazer, mas são facilmente esquecíveis no momento que o filme acaba. “Vozes e Vultos”, “Céu Vermelho-Sangue” “Awake” e “Mudança Mortal” são exemplos típicos. “Hypnotic” é mais um que entra para essa lista, embora a atuação de Kate Siegel seja excelente.

Hypnotic” é extremamente exagerado ao apresentar uma técnica de hipnose fantasiosa e pouco sutil, que beira filmes de ficção científica. Não há um contraponto positivo que justifique, cientificamente, o alto poder hipnótico apresentado no filme em questão. Até mesmo o filme “Corra!” (2017), um dos mais recentes filmes lançados que, também, explora a questão da hipnose, e o fez de forma um pouco mais plausível, não extrapolando os limites do absurdo tanto quanto “Hypnotic”.

A dupla de diretores de “Hypnotic” consegue transportar para as telas apenas o que o roteiro deseja oferecer – um suspense simples e presunçoso –, e a dupla o faz sem o compromisso de se aprofundar em altas explicações e sem problema algum de exagerar o que acaba se tornando um pouco absurdo demais. Dentro do padrão estipulado proposto pelo roteiro, o filme em tela consegue realizar seu propósito.

Mas, em geral, “Hypnotic” tem uma premissa interessante, conseguindo distrair como um bom filme de suspense, mostrando cenas apreensivas e tensas, sem rodeio. Porém, apenas consegue realizar tal feito se desligarmos o botão do que é plausível e do que é ilusão, não quebrando a cabeça para o exagero apresentado e apenas para quem for assistir ao filme como forma de entretenimento, simples e básico. Contudo, seu desfecho escorrega feio e deixa muito a desejar, revelando motivações fracas e totalmente inacreditáveis.

Hypnotic” está disponível na Netflix.

Nota: 6.0
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