Fazer remakes nem sempre são uma boa decisão, principalmente em se tratando de filmes que foram lançados com menos de dez anos daquele que vai ser refilmado. Mas, Hollywood não perde chances e nem oportunidades de pegarem um filme (principalmente um que não seja norte–americano), remodelar, transformar e entregar um remake ao público.
O
escolhido da vez é o novo filme “O Culpado”, remake do filme dinamarquês
“Culpa” (de 2018, e que está disponível na Amazon Prime Video), que foi
adquirido por Jake Gyllenhaal (que estrelou no papel principal e foi um dos
produtores) para ser produzido pela sua empresa Nine Stories Productions, juntamente
com a Bold Films. “O Culpado” foi lançado mundialmente no Festival Internacional
de Cinema de Toronto de 2021, em 11 de setembro de 2021. Posteriormente, foi
lançado na Netflix em 1º de outubro de 2021, depois que o streaming adquiriu,
em setembro de 2020, os direitos mundiais do filme por US$ 30 milhões de dólares.
Na trama, Joe Baylor (Jake Gyllenhaal, de “Príncipe da Pérsia: As Areias do Tempo”, 2010) é um policial de Los Angeles que foi rebaixado (por motivos ainda desconhecidos) para trabalhar como operador do serviço de chamadas de emergência do 911 por um determinado tempo. O filme em tela se desenrola durante o último turno da noite de Joe em meio a um incêndio florestal, que vai se aproximando da cidade de Los Angeles e, de repente, ele recebe uma chamada inusitada. A princípio, uma mulher desesperada parece estar chamando sua filha, mas, na verdade, ela está discretamente reportando seu próprio sequestro.
Tentando
encaixar cada detalhe vago que a mulher dá, Baylor precisa usar de certa astúcia
para descobrir o que está acontecendo e para garantir a segurança da mulher, usando
todas as suas habilidades e intuição. Porém, a partir do momento em que o crime
começa a se revelar, mostrando sua verdadeira natureza, Baylor se abala
psicologicamente, precisando se esforçar o máximo que pode para salvar a mulher
e se reconciliar com demônios do passado. Com seu telefone como única ferramenta,
ele luta contra o tempo para resolver um crime que é bem maior do que parece.
Com o roteiro assinado por Nic Pizzolatto (True Detective), “O Culpado” é o típico filme claustrofóbico, ambientado em um único cenário (que, no caso, é a central de atendimento de emergências) e protagonizado, basicamente, por um único personagem. Há vários filmes que seguem no mesmo estilo, tais como “Enterrado Vivo”, “Cães de Aluguel” e “O Farol”.
Porém,
“O Culpado” amplia um pouco seu espaço por entre os cômodos da Central de Emergências
do 911 para acomodar melhor a história que o roteiro se propõe a oferecer. E,
também, o protagonista principal, interpretado por Jake Gyllenhaal, não é
exatamente o único presente em tela; no caso, Joe tem a equipe de apoio, que
ajuda a desenrolar a trama. Em 95% do filme em questão, o protagonista interage
com outros personagens somente pelo telefone, o que torna a performance de Gyllenhaal
ainda melhor, provando ainda mais seu talento. Destaque para a participação de Ethan
Hawke e Peter Sarsgaard, que não participam presencialmente do longa, mas estão
presentes, contribuindo somente com suas vozes no telefone, interpretando, respectivamente
o Sargento Bill Miller e Henry Fisher, o ex marido que o filme dá a entender
que é o responsável por sequestrar a mulher que liga para a Central de Emergência.
Apesar de a trama de “O Culpado” ser bastante simples, é justamente nesse espaço pouco limitado e com poucos recursos disponíveis ao protagonista que o filme em tela consegue se desenvolver, transformando a narrativa ainda mais tensa. O diretor Antoine Fuqua capturou, de forma precisa, toda a tensão e angústia que o personagem de Gyllenhaal precisava exalar naquele espaço e ocasião, transportando ao público exatamente o que o roteiro queria dizer; Fuqua explorou e extraiu toda a preocupação, nervosismo e angústia que os personagens precisavam sentir, contrapondo-os com os cenários em que cada um se encontrava.
Esse
desenvolvimento se aproveitou do limitado espaço em questão para explorar ainda
mais a aflição e nervosismo do policial Joe, que, dentro do contexto, fica limitadamente
impedido de sair e não pode fazer mais nada dentro daquele lugar senão usar o
telefone para conversar com outras pessoas.
Fuqua, usando de seu grande talento, consegue orquestrar todo esse desenvolvimento do filme somente dentro de sua van, com telas que davam acesso às câmeras, se comunicando com todo o elenco e a equipe pelo rádio. Isso se deu pelo fato de que “O Culpado” foi filmado no final de 2020 durante a pandemia (embora tenha demorado somente 11 dias de gravação) e, mesmo que o diretor tenha testado negativo, ele teve contato com uma pessoa da produção que testou positivo três dias antes das filmagens começarem.
Então,
para não atrasar o cronograma, a solução foi Fuqua se isolar dentro da van para
dirigir o filme e todo o resto da equipe intensificar ainda mais os protocolos
de segurança. Tanto é que se pode perceber, durante o filme, que as mesas dos
operadores de emergência são distantes umas das outras e os outros poucos coadjuvantes
nunca chegam a menos de um metro do personagem de Gyllenhaal.
Embora o problema acima não tenha afetado as filmagens do filme e, muito menos, o desempenho da excelente atuação de Jake Gyllenhaal (sempre ótimo ator), “O Culpado” peca por sufocar demais o telespectador com uma narrativa arrastada, que tem uma certa dificuldade para desenrolar resultados. São 80 minutos de conversas telefônicas dentro de um labirinto que sempre acaba em um beco sem saída. Os dez últimos minutos chegam (demoradamente) apenas para entregar um plot twist, encerrar a questão do sequestro e revelar a tentativa do policial de se redimir pelos erros do passado, motivo pelo qual ele foi rebaixado.
Não
que isso tenha afetado o desenvolvimento do filme em tela. O longa mantém uma narrativa
apreensiva e tensa, condizentes com o que o roteiro deseja oferecer; e o
roteiro conseguiu explorar e entregar uma trama bem elaborada, captando e
transmitindo bem os sentimentos dos personagens, tais como a tensão, agonia e raiva,
bem como o desespero e a culpa perante um determinado drama pessoal, que, mesmo
indiretamente, afeta o personagem de Gyllenhaal durante todo o filme. E, ao decorrer
do longa, vemos a situação dele perante essa culpa aumentar e piorar, afetando
seu desempenho profissional.
Porém, a questão que desanima é a dinâmica do filme, que dá a impressão de não sair do mesmo lugar, desacelerando bastante o ritmo, deixado o longa um pouco arrastado. Temos a sensação de que nada se resolve no filme inteiro.
Entretanto,
“O Culpado” se vale somente pela experiência tensa e angustiante ao mostrar
como um único personagem enfrenta vários problemas ao mesmo tempo em um único
espaço limitado (extravasando, e bastante, sentimentos de raiva e impotência frente
ao que precisa ser realizado), tendo que correr contra o tempo para impedir que
o pior aconteça; apenas para se deparar com uma reviravolta que impressiona e
mostra que nem tudo é o que parece ser.
“O
Culpado” já está disponível na Netflix desde o dia 1º de outubro.
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