Especialista usa equipamento tecnológico para explorar as memórias das outras pessoas. Essa premissa básica lembra bastante o filme “Violação de Privacidade” (de 2004, com Robin Williams), mas a Crítica em questão é do longa “Caminhos da Memória”, que também se encaixa na mesma ideia.
Com
um orçamento de US$ 68 milhões de dólares, “Caminhos da Memória” fracassa nas
bilheterias e arrecada somente cerca de US$ 15 milhões, sendo considerado um
dos piores lançamentos durante a pandemia.
“Caminhos da Memória” se passa em um futuro distópico, no qual Miami sofreu severas consequências com o aquecimento global, fazendo com que parte da cidade ficasse submersa. Nesse contexto, as pessoas se voltam para uma tecnologia capaz de reviver memórias antigas. Nick Bannister (Hugh Jackman, de “Logan”, 2017) é um investigador particular da mente de Miami, que usa uma máquina capaz de recapturar memórias perdidas ou distantes e devolvê-las às pessoas que contratam seus serviços; muitas das vezes são pessoas que querem reviver momentos importantes ou até mesmo esquecidos.
A
situação se torna complicada quando Mae (Rebecca Ferguson, de “Doutor Sono”,
2019), uma cantora de boate, contrata Nick para procurar uma determinada
lembrança e, logo depois, os dois acabam tendo um romance por um tempo. Mas,
misteriosamente, Mae desaparece sem deixar qualquer vestígio e sem explicação
alguma. Intrigado e desesperado com o desaparecimento da mulher, Nick usa sua
máquina em busca de pistas e respostas para descobrir a verdade e acaba
mergulhando em uma trama de mistérios e segredos.
O roteiro de “Caminhos da Memória” foi escrito por Lisa Joy, que também dirigiu e produziu, juntamente com Michael de Luca, Johnathan Nolan e Aaron Ryder. Lisa Joy optou por usar uma ambientação neo–noir para construir uma trama de ficção científica típica dos romances policiais, gênero cinematográfico bastante presente nos filmes dos anos 1940 e 1950.
“Caminhos
da Memória” mistura este tipo de ambientação noir com um cenário futurista e
distópico, causando um certo desconforto visual em um mundo considerado pós–apocalíptico.
Porém, a fotografia do filme em tela ficou sensacional, revelando que a
combinação deu certo e que cumpriu o desejado pelos produtores e pela diretora,
embora possa causar bastante estranheza para quem não está acostumado com esse
tipo de visual cinematográfico.
Como dito anteriormente, a premissa básica de “Caminhos da Memória” se parece bastante com o filme “Violação de Privacidade”. No longa de 2004, que também se passa em um futuro não muito distante, o protagonista de Robin Williams é um editor de filmes que usa um tipo de computador que permite acessar imagens, através de um microchip implantado na cabeça, que grava a vida das pessoas e pode ser editado depois que o microchip é retirado.
Já
em “Caminhos da Memória”, Nick Bannister (Hugh Jackman) usa
um tanque sensorial, que funciona como uma máquina da reminiscência, no qual o
cliente deita e sensores são colocados em sua cabeça. Com isso, as imagens
acessadas (que, na verdade, são as lembranças que o cliente deseja recordar)
são transmitidas para um palco que transmite hologramas em 3D e o cliente
vivencia aquele momento outra vez; posteriormente, as lembranças acessadas são
gravadas em chips, nas quais podem assistidas novamente.
O conflito de “Caminhos da Memória” ocorre quando Nick precisa usar a máquina da reminiscência repetidas vezes para tentar entender o que pode ter acontecido com Mae e descobrir seu paradeiro. Quando Nick recebe um outro cliente que possui lembranças que implicam na vida de Mae, o investigador precisa mergulhar nas sombras do passado para descobrir a verdade. Com isso, ele entra num submundo perigoso do crime, transitando pelo cenário futurista neo–noir de uma cidade parcialmente submersa, tendo que interagir com criminosos para tentar encontrar sua amada. Cada vez mais Nick se afunda num perigoso jogo de gato e rato, que se complica a cada minuto.
Embora
a diretora Lisa Joy tenha harmonizado esse cenário cyberpunk visualmente bonito,
essa ferramenta serviu nada mais do que transformar o filme em uma narrativa de
apelo dramático, onde o protagonista corre desesperadamente para encontrar o
amor da sua vida, que desapareceu repentinamente. O que parecia ser um filme de
ficção científica policial em um ambiente distópico, se apresentou como um
filme pseudo romântico de investigação policial futurista.
Isso desacelerou, e muito, a narrativa de “Caminhos da Memória”, deixando de lado cenas empolgantes de ação policial para tentar engatar momentos melodramáticos de um amor perdido em meio às memórias sofridas do personagem principal e que ficam se repetindo a todo instante, com intuito de tentar fornecer o máximo de informações sobre o quanto a mulher misteriosa é tão importante assim, bem como possíveis pistas que ajudem a elucidar seu desaparecimento.
E
o personagem de Hugh Jackman embarca de cabeça nesse redemoinho, usando a
máquina de reminiscência nele mesmo constantemente, tendo praticamente que ser
salvo por Emily, sua competente assistente de laboratório – representada pela
igualmente competente e excelente atriz Thandiwe Newton, de “A Batalha de
Riddick” (2004).
Esse conflito da narrativa indecisa que flutua entre a ação com ficção científica futurista e policial noir acaba gerando um problema no desenvolvimento no filme, que começa com o vislumbre de uma cidade inundada e como as pessoas se adaptaram a este cenário, se arrasta até a metade com as idas e vindas entre presente e passado e, enfim, lá para perto do final do filme, consegue desenrolar o mistério da mulher desaparecida, revelando uma solução não muito prática.
Apesar
de ser um filme com um visual estético muito bonito, “Caminhos da Memória”
acaba sendo um filme bastante genérico, se perdendo no caminho com um
desenvolvimento lento e arrastado. Mas, apesar de Lisa Joy já ter experiência
como showrunner, produtora, roteirista e diretora de alguns episódios da série “Westworld”,
da HBO, “Caminhos da Memória” é o primeiro trabalho de Lisa na direção de um
filme. Se, por um lado, faltou um pouco mais de desenvolvimento, tornando o filme
genérico, por outro lado, a diretora e roteirista conseguiu apresentar uma ótima
produção, inclusive uma bela fotografia, conseguindo apresentar o que Lisa Joy
propunha. Dê um desconto para Lisa Joy, “Caminhos da Memória” é seu filme
debute.
Em se tratando dos atores, o elenco é ótimo e convence em seus papeis, mas apenas entregam aquilo que o roteiro pede. Cliff Curtis (de “Efeito Colateral”, 2002) apresentou um excelente vilão. Rebecca Ferguson ficou maravilhosa como femme fatale. Pena que a atriz Thandiwe Newton foi jogada para escanteio e sua personagem foi mal aproveitada.
“Caminhos da
Memória” está disponível na HBO Max.
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